A América Latina pelo jeito continuará a ser o continente dos modismos políticos para sempre. Na época da guerra fria, quando as duas superpotências disputavam palmo a palmo sua égide de influência e a internacional comunista, mantida e inspirada pela extinta União Soviética, procurava infiltrar seus camaradas subversivos por todas as brechas; os Estados Unidos contra atacaram patrocinando golpes de estado e todos os países do continente se transformaram em ferrenhas ditaduras militares. Generais caudilhos cassaram direitos políticos, fecharam parlamentos, impediram a livre expressão e o poder judiciário civil ficou encerrado às paredes dos seus fóruns.
Esse foi o caminho político adotado pela contra inteligência americana para blindar a região contra o risco da sua comunização total. Certamente o comunismo soviético acenava com sua falsa dose de doçura, a fim de atrair os incautos, para depois mandar fuzilar quem era contra ou a favor e se impor de maneira totalitária nos moldes do castrismo cubano.
Diante da sua falta de personalidade política, o continente, por trinta anos, esteve à mercê do vendaval da guerra fria e o resultado final registrado pela história foi massacre físico e ideológico em todos os países, sofrimento pelo aprofundamento da pobreza e da desigualdade social devido à eterna instabilidade econômica e política, ao apadrinhamento político, ao cerceamento da imprensa e ainda pelo acirramento do ultranacionalismo responsável por décadas de reserva de mercado e seu conseqüente atraso tecnológico.
Entretanto esse modismo estava fadado ao obsoletismo diante da determinação de uma mente sã no império soviético governada pela clarividência cívica de Michael Gorbatchov, o grande presidente que amordaçou a bocarra do expansionismo soviético, colocando ao chão o Muro de Berlim, perene ícone da insanidade daquele regime. Em meados da década de oitenta, ares de liberdade pairaram sobre o continente e o que se viu foi abertura política generalizada, novas constituições menos centralizantes, regresso dos exilados e os generais deram lugar aos enxovalhados mecenas e suas idéias arcaicas e mentirosas de igualitarismo de palanque. Eram os neoliberais travestidos de sociais democratas, provindos de Harvard e de outras academias de menor fama, porém todos ávidos pelo poder entreguista e pela introdução de suas teorias tecnocratas de abertura de mercado sem a devida e salutar reciprocidade. Ou seja, mercados pobres submetidos à livre concorrência com os ricos. Embarcados nas asas da globalização de problemas, uma vez que soluções nunca se globalizaram, os neoliberais mantiveram-se surdos às lamúrias dos milhares de desempregados sobrevindos das privatizações e da falta de recursos para a auto-reciclagem pessoal e ainda sem tempo para realizá-la. Foram pegos de surpresa e abandonados à própria sorte sem nenhum apoio governamental. O resultado final, também registrado pela história, foi o mergulho do continente em mais de uma década de recessão, que com liberdade e tudo, foi capaz de se igualar, em termos de baixos níveis de qualidade de vida e pobreza, a muitos países africanos secularmente amordaçados e esquecidos pelos eternos donos do mundo, que lá também sempre meteram o bedelho e que todos sabem muito bem quem são e onde vivem.
Agora, em prosseguimento a sua sina de mero pátio de modismos políticos, vivencia-se a onda do populismo com ares de comunismo mambembe. Novamente a América Latina tende a mergulhar nas sombras de um regime que nunca deu certo em lugar nenhum e por isso mesmo comprovadamente falido. De nada adiantarão fanfarronadas à moda Maoísta na esperança de que as classes pobres sejam capazes de sozinhas conquistarem espaço a reboque de assistencialismo puro e eleitoreiro, sem investimento maciço em educação e noutras infra-estruturas capazes de resgatar a dignidade cidadã e suficientes para dotar o homem da capacidade de pensar, de julgar e conquistar espaço no mundo tecnológico e por si decidir seu destino. A idéia de que um só homem revestido de máximo poder possa assumir paternalmente o direcionamento da vida das pessoas ou de uma nação inteira é comprovadamente falha, errônea e utópica.
É uma idiotice vislumbrar uma ruptura total com o capitalismo. Nem a China e a Rússia com seus gigantismos foram capazes de se arrancar do abismo em que se meteram, graças ao seu comunismo mortífero e moribundo, sem se abrirem ao modus vivendi capitalista entranhado não só na cultura universal contemporânea como também na genética humana, mesmo daqueles que nunca o vivenciaram, mas que pelo menos ouviram falar. Hoje as pessoas já nascem sonhando em possuir e consumir cada vez mais e melhor.
Tolice ainda maior é governantes fantoches do surreal Fidel Castro quererem agigantar o estado, reconhecidamente mau gestor, com confiscos e estatizações maciças e manietar as elites de forma sistêmica e ditatorial simplesmente lhes imputando a culpa por todos os males que secularmente impedem o desenvolvimento social da maioria. Numa das suas mais célebres frases o estadista americano Abraham Lincoln, certamente se dirigindo a um desses justiceiros comunistas, escreveu: “Não fortaleceras os fracos por enfraqueceres os fortes”.
O que deveriam fazer é sanear o Estado Podre e plantar bases para o soerguimento de uma espécie de capitalismo sinérgico baseado em cinco fundamentos: incentivo ao empreendorismo, democracia plena, probidade administrativa, abertura gradual e equilibrada do mercado interno e comunização do acesso à educação de alta qualidade para todos. Assim estariam abrindo caminho para a sustentabilidade do desenvolvimento, alavancariam a demanda por mão de obra, acabariam com a miséria crônica e de quebra arrefeceriam o ressentimento e a desconfiança entre as classes sociais.
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