Estamos novamente em ano eleitoral. Dentro em breve o bombardeio mental terá início, a fim de que se lave a imagem dos políticos que nos últimos quatro anos tripudiaram do eleitor com seus conluios e picaretagens. O que não fizeram, porque não quiseram ou mesmo por impossibilidades reais, agora vão fazer, como se num passe de mágica o exercício dissimulatório embutido em palavras e imagens pudesse encobrir incompetência, má fé e lavar mãos sujas.
Curioso, no entanto, é que o parágrafo acima foi extraído de uma crônica de minha própria autoria escrita há alguns anos atrás, a qual abordava mais ou menos esse mesmo assunto em uma véspera de eleição. A conclusão, portanto é óbvia: não mudamos nada. Num palavreado chulo diria-se que: “mudam-se as moscas, mas a caca não”.
O problema é que os processos eleitorais são compostos de políticos, idéias, e eleitores. Se os políticos continuam os mesmos e as ações permanecem não correspondendo às idéias, poderíamos afirmar que nós eleitores também somos os mesmos de vinte ou trinta anos atrás? Naquela época a culpa, com toda certeza, seria da falta de liberdade de expressão, da ignorância da juventude desinformada e desabituada a reivindicar. E hoje, qual a causa da imutabillidade do eleitor, que mesmo liberto das peias do autoritarismo e no gozo do pleno estado de direito, tão sonhado; continua vulnerável aos engodos propagandísticos das campanhas eleitorais? Estaria o ser eleitor, ainda em estado emocional tão primário, que o faz agir como uma criança diante de um afago ou há defeitos no processo eleitoral que precisam ser corrigidos? Digamos que a introdução de normas legais que prevejam punição para os emissores de propaganda enganosa seja o que falta para coibir que mentiras capciosas continuem traindo a boa fé do eleitor nos moldes daqueles artigos do código do consumidor ou da lei da probidade administrativa, que, sem dúvida, vieram coibir o avanço do abuso dos espertalhões. Ou, quem sabe, o sistema presidencialista, numa sociedade imatura que nem essa esteja dando sinais de agonia e seja chegada a hora de serem adaptadas ferramentas capazes de diminuir o poder dos reis temporários que se instalam nos executivos e parlamentos através do país; algo que somente o parlamentarismo viabiliza, por exemplo. É bom que compreendamos, o mais rapidamente possível, que o Brasil é um dos poucos países do mundo onde ainda vige o presidencialismo e isso certamente não é pelos méritos do sistema, mas pela sutileza dos políticos profissionais que se sentem muito mais seguros, conquanto protegidos pela inflexibilidade que o caracteriza no que tange às eventuais substituições de mandatários. O sistema parlamentarista pela sua flexibilidade torna as substituições muito menos traumáticas uma vez que as diretrizes, a filosofia e, por que não dizer, a personalidade do governo permanece assim impedindo a geração do clima de incerteza e insegurança tão prejudiciais a países periféricos como é o caso do Brasil.
Além disso, há um outro aspecto de característica bastante subjetiva para o qual o eleitor precisa atentar. – Em política, silêncio também tem significado e muitas vezes o alarido serve apenas para dissimular verdadeiras intenções – Qual será, portanto, o motivo do esquecimento da ALCA? (Área de livre comércio das Américas). Um assunto efusivo e que causou tanta polêmica no último governo. Curiosamente os opositores que hoje combatem a situação e que lutam ferrenhamente para serem conduzidos novamente ao poder, enquanto dependerem da simpatia do eleitor, não abordam mais o assunto; fingem tê-lo esquecido. Contudo, quem conhece um pouco da filosofia neoliberal sabe que seu fundamento básico é deixar que os mercados se depurem à custa de baixa ou nenhuma interferência governamental. Ora, essa via tem causado desemprego, miséria e violência social, porque só cria oportunidades nos países centrais e, no terceiro mundo, para privilegiados. Entretanto, o discurso que norteará as campanhas vindouras não a incluirá porque eles conhecem o que o povo quer ouvir: abundância de empregos e um sistema social justo, eficiente e igualitário. Nessa hipótese a velha história se repetirá. Ouviremos o que sonhamos e depois faremos o que nos impõem como a melhor maneira de se chegar ao progresso sem ferir os interesses de nossos amigos americanos do norte – porque governam o FMI e o Banco Mundial – e dos investidores internacionais.
Vejamos por um outro ângulo interessante. Não é segredo para ninguém que o exercício da política é um negócio que envolve muita pressão e jogo de influência tendo em vista altos interesses pessoais. No mundo inteiro a coisa sempre funcionou assim e no Brasil, uma ex-colônia portuguesa, ainda há o agravante de ser uma característica cultural. Partindo desse ponto de vista, não é de se estranhar, que, logo agora, quando temos um governo de orientação popular com grande ascensão no terceiro mundo, alinhado ao venezuelano Chaves e simpático ao cubano Fidel – inimigos mortais dos americanos – estejam pipocando tantos escândalos de uma só vez? Seria mesmo o PT o abominável dos abomináveis ou “forças ocultas” estariam por trás disso? Estaria o Brasil passando por uma febre correcional e entrando nos eixos ou estrategistas americanos, sutilmente, estariam manipulando suas marionetes com o objetivo de varrer do mapa, de uma vez por todas, os opositores à ALCA e à liberalização geral de mercados?
Respostas a essas intrigantes questões só o tempo será capaz de responder. Quanto a nós eleitores o que temos a fazer é aguçar o sexto sentido, votar com responsabilidade e nunca nos esquecermos de que nesse terreno resvaloso muitas vezes o que aparenta estar errado nem sempre é o pior. Assim funciona a política.
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