O Brasil e seu povo se orgulham das conquistas democráticas e nosso grande prazer tem sido encher o peito e proclamar para os quatro cantos do mundo que somos a segunda maior democracia pela grandeza numérica da nossa população, obviamente, depois dos Estados Unidos.
Diante dessa memorável conquista há, entretanto, considerações e algumas conclusões a se chegar. Primeiramente a comparação, se por um lado é meritória em vista da longevidade da democracia americana, por outro é esdrúxula, em vista da confusão que temos feito entre viver em liberdade e em libertinagem. A democracia à moda brasileira encontra-se numa evolução ambígua e suicida, quando claramente implanta na mentalidade nacional o exercício da cidadania dos direitos e se esquece que as teorias mais elementares ao abordarem o assunto são unânimes em afirmar que o equilíbrio é o ânimus democrático e que este não afasta a interdependência entre deveres e direitos para um exercício democrático com responsabilidade.
À luz dessa premissa nossa responsabilidade fundamental é a conscientização das gerações vindouras para que desde cedo possam acatar e praticar com naturalidade padrões éticos que impeçam a célere cadência para a permissividade social. No entanto, na contramão desse ideal, o que temos visto, são escolas e professores reféns de alunos violentos, mimados e superprotegidos por leis que lhes dão a falsa sensação de que o mundo e a vida profissional não lhes cobrarão deveres. Ora, a escola, apesar de, na nova visão pedagógica, ser encarada como uma extensão da comunidade a qual pertence, deve existir para educar semeando na mente do aprendiz a primeira lição básica de cidadania que se constitui em “respeitar para ser respeitado” e que a contravenção das leis sociais acarretará severas punições. É um contra senso e uma fuga da responsabilidade de educar tentar compensar as frustrações que o aprendiz traz da sua vida pregressa com uma falsa sensação de liberdade e depois lançá-lo de encontro à uma sociedade cruel, tradicionalmente mais preparada para cobrar do que para conceder. Obviamente o adulto ou profissional proveniente de um sistema de ensino inconsistente e fantasioso estará fadado ao insucesso, à frustração e em seguida à marginalidade.
O processo de formação da cidadania participativa e conseqüentemente democrática no Brasil contemporâneo apóia-se no tripé família, escola e mídia televisiva; esta última, composta de concessões estatais a empresas privadas. Nesse contexto a educação familiar ou de berço vem sendo aos poucos delegada a creches e escolas maternais pela necessidade da ida da mulher ao mercado de trabalho. Crianças ainda imaturas, quando mais necessitam do aconchego e do convívio familiar, como importantes condições para a formação da personalidade, são entregues a pessoas estranhas, que, ainda que muito preparadas, não podem suprir o ser em formação dos estímulos psíquicos e cognitivos indispensáveis na tenra idade. O amadurecimento infantil dessa forma fica ainda mais comprometido à medida que o desenvolvimento da criança acontece quase que plenamente na ausência dos pais, numa sociabilização escolar prematura e forçada; por isso mesmo agressiva podendo induzir o educando a sérios problemas de aprendizagem ou depressivos na adolescência e na maturidade. Essas gerações, por outro lado, desfrutam de um convívio parcial reduzido a algumas horas noturnas, com pais exaustos e desgastados por um dia de trabalho e que, por isso mesmo, tornam-se demasiadamente permissivos, omissos e negligentes com o estabelecimento de limites éticos, de civilidade, de civismo, de consumo, de respeito, de convivência; deixando-os expostos ao lixo televisivo e ao bombardeio sem censura da violência, da prática do sexo sem responsabilidade, e à indução precoce a outros tipos de desvios comportamentais disponibilizados pelos blogs cibernéticos da web.
Nas classes pobres o fenômeno é tanto ou mais grave pelo abandono a que se encontram há séculos descortinando a miséria e a ignorância como única esperança para o futuro e oferecendo como opção mais fácil o ingresso ao mundo do crime cuja ética fundamental é ganhar dinheiro a qualquer custo e o “dente por dente olho por olho”.
Nessa sociedade dos direitos, onde o senso ético e do dever é propositadamente escanteado pelos grandes interesses mercantilistas dos promotores da mídia, censura é algo impensável, capaz de cercear o direito à livre expressão e à livre escolha do virtuosismo social pela inconseqüência cívica da marginalidade e da pobreza de espírito. Na realidade a grande mídia nunca esteve preocupada com nada a não ser com a dominação dissimulada em canto de sereia e com a manipulação fácil, campo fértil para a geração de polpudos lucros.
Na retaguarda dessa manada de mentecaptos sociais conduzidos por meia dúzia de oportunistas endinheirados e espertalhões, instala-se o governo se fingindo de cego e surdo diante da eterna polêmica pró e contra a medonha censura. Na verdade nossos governantes sofrem de dois males: uma espécie de ressaca ditatorial. Este efeito colateral remanesce dos tempos do exagero em que censores neurastênicos e ultrapassados proibiam até canção de ninar. E uma outra espécie de moléstia muito comum: tentação para o voto de cabresto; moeda de troca própria das sociedades ignorantes e enlameadas pela crise de falta de vergonha na cara.
Obviamente a grande preocupação de todos é com o estabelecimento de limites para a censura. Quem censurará os censores? Eis a questão!... Na verdade se vivêssemos numa sociedade onde os interesses sociais tivessem prevalência sobre os econômicos já teriam entendido que a principal função da mídia é informar, a fim de educar, para conscientizar. Se o meio é violento é um contra senso a mídia reforçar a violência para alguns ganharem muito dinheiro e depois enchermos ruas de policiais e cidades de presídios subsidiados por todos. Se a irreverência exacerbada desestabiliza o tecido social é um crime transformá-la em atrativo comercial. Se a juventude carece de formação básica é uma estupidez bombardeá-la com o vírus da contra cultura e depois desculpar-se dizendo que estão apenas mostrando aquilo que querem ver e cumprindo o preceito democrático da livre expressão. A isso deveria se chamar livre deturpação ou ainda, livre manipulação; o que verdadeiramente não interessa a uma democracia.
A sociedade brasileira realmente deve dispensar a censura bisbilhoteira e autoritária, mas deveria encontrar uma maneira eficiente de exigir dos seus governantes um posicionamento honroso começando por censurar a ânsia dos arrivistas da mídia pelo lucro, tão somente despreocupados com o aprimoramento da sociedade e dos herdeiros do Brasil cônscios do equilíbrio democrático entre direitos e deveres.
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