ETICA,
DESENVOLVIMENTO, EQUILÍBRIO E DEUS.
Na
última edição provamos através de uma equação matemática simples que a
humanidade esta numa encruzilhada. À primeira vista há duas alternativas: Pára
de se multiplicar ou estará caminhando a passos largos em direção à sua
extinção e, talvez, da vida como um todo.
Uma
das questões que sempre implicou a ciência moderna é o fenômeno da vida. A
terra poderia ser um planeta estéreo como tantos outros a sua volta e nada
seria diferente na organização física interplanetária. É questão indiscutível
para a ciência que a vida é um fenômeno independente, que num determinado
momento surgiu e desde então entrou em processo evolucionário que se mantém até
o presente.
Existem
duas correntes filosóficas discutindo esse assunto e cada uma lutando para
encontrar razões que legitimem suas teses: os criacionistas, que defendem o
princípio de que Deus é o responsável pela entrada da vida no cenário terrestre
e os evolucionistas, que, por outro lado, defendem a possibilidade dos
primeiros seres unicelulares terem chegado vindos de outros cantos do universo
e aqui, encontrando condições favoráveis, se multiplicaram e originaram todos
os seres vivos, inclusive os vegetais e até o homem/mulher. Transportados em
que, também existem muitas hipóteses, que não cabe nessa reflexão discutir.
A
vida, portanto, é fruto inexplicável, mas o que se sabe é que desde sua criação
ou chegada vem se mantendo através de uma sensível dinâmica que tem como pedra
fundamental o equilíbrio. Darwin se imortalizou quando disse que: “na natureza
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Em outras palavras a vida se
mantém pela vida. Onde não há vida é porque ela foi extinta ou nunca existiu.
As espécies, pela ótica evolucionista parecem mesmo estar num processo
evolutivo, mas é causa pétrea e indiscutível o fato de que se nutrem umas das
outras. O homem, nos primórdios da sua
existência, também foi parte dessa corrente, até que, pela sua capacidade de raciocinar,
domesticou alguns tipos de animais, aprendeu a cultivar e criou processos de
transformação e defesa estranhos ao equilíbrio e à lentidão naturais;
procedimentos que tiveram como conseqüência a introdução de uma vertente
paralela e estranha aos elos da corrente natural.
Esse
paralelismo, ao longo do processo da evolução tecnológica cresceu demais
pressionado pelo acelerado aumento da população humana e passou a interferir e
até sufocar fortemente o equilíbrio natural. Os cientistas se apercebendo disso
e conscientes de que era chegada a hora de tomar providências para minimizar
impactos irreversíveis criaram o termo “sustentabilidade” que nada mais é que a
percepção da necessidade de adaptar e submeter as ações humanas ao equilíbrio
dos elos da corrente dos sistemas vitais.
Aí
surge o grande problema: como fazer isso em tempo? Um documentário sobre o
aquecimento global produzido em 2009 por uma importante universidade japonesa
atestou que nos últimos oitenta anos a sociedade industrial emitiu em gás
carbônico e metano o equivalente ao que a natureza emitiu em duzentos e
cinqüenta milhões de anos isso sem contar os desmatamentos nos remanescentes de
floresta tropical e gigantescas queimadas ao redor do globo.
O
papa Bento XVI, em sua Encíclica Spe Salvi, extremamente preocupado com o molde
desenvolvimentista atual declara que: “O progresso oferece inéditas
potencialidades para o bem, mas ao mesmo tempo abre possibilidades abissais de
mal que antes não existiam”. O fato que cobre de razão a afirmativa papal é que
a humanidade nunca se preocupou com a ética no processo de desenvolvimento. Os
parâmetros desenvolvimentistas precisam de uma boa revisão no seu conceito de
lucro pelo lucro puro e simples sem mínima preocupação com o organismo Terra.
Existem
dezenas de preleções com o intuito de definir Ética. Se observarmos bem, todas
carregam em si a mágica do equilíbrio. Pessoalmente gosto de defini-la como: a
arte de viver pensando nas conseqüências que nossas iniciativas poderão causar
ao elo ao nosso lado; o outro. Entretanto - o outro - poderá estar ao nosso
lado, ser nosso filho, nossa mãe ou cônjuge; mas também poderá estar viajando
pelo cume do Everest em forma de gotícula d’água que daqui a alguns meses cairá
na sua plantação de alfaces carregada de partículas ácidas que poderão lhe causar
um belo câncer no estômago.
Certa
vez um sábio na sua posição reflexiva viu passar uma mulher grávida e se
aproximando dela perguntou: - Por que você esta grávida? Ela sorrindo,
acanhadamente respondeu: - Porque quero ter um filho. Ele então retrucou: -
Você já pediu licença à natureza? Ela lançou outra pergunta: - Quem é essa? Ele
respondeu: - É aquela mesma que dá vida àqueles pássaros que todas as manhãs
passam por aqui em busca de comida e os alimenta sem que nada plantem. Você tem
sementes e onde plantar sem destruir os insetos que alimentam aqueles pássaros?
O velho sábio lhe deu uma lição de ética auto-sustentável, que a natureza tem
de sobra e a humanidade tem de menos ou nunca teve.
A
sociedade humana, estrábica sob a lente do orgulho e do poder esnobe, esta
embarcada na certeza de que o homem é dono de tudo, por isso não se apercebe
que a natureza é uma corrente fechada e auto-sustentável aonde o homem não cabe
e é mero estranho. Ou seja, não fazemos parte desse contexto vital e virtuoso,
portanto nossa ausência não faria a menor diferença. Somos dispensáveis e não
fazemos parte dos elos naturais. Nossa reinserção no contexto depende de que
voltássemos ao velho estágio neandertal, quando nossos antepassados viviam nas
cavernas e caçavam para sobreviver.
O
mundo científico geralmente exila no campo da loucura os estudiosos que se
rendem à existência de um criador. Mas não posso deixar aqui, do alto dessas
reflexões, além de me emocionar, também de me colocar ao lado dos loucos. Por
que e para que estamos aqui? Eis a questão que nos leva à queda num abismo de
dúvidas, que jamais terão respostas a não ser pela fé na existência de um
propósito ultra-inteligente, que se reserva o direito de ficar calado e nos
reserva o dever de respeitar. Somos no universo a única e minúscula criação
capaz de raciocinar e agir por livre e espontânea vontade. Quem nos delegou
essa capacidade, de onde veio nosso espírito pensante, quem o fez e qual seu
propósito? Será que os super dotados do Vale do Silício têm a resposta? Neste
ponto da reflexão os criacionistas e evolucionistas se vêem obrigados a se dar
ar mãos e a se abraçarem carregados de dúvidas que convergem para um único
ponto forte universal.
Vimos
então que não fazemos parte dos elos naturais, mas, sem sombra de dúvida, somos
elos que nos ligam a um ser supremo de alta razão. Diante de tamanha
responsabilidade, a humanidade, que precisa parar de produzir novos divisores,
deve parar de produzir novos elos da corrente superior e universal? Claro que
não. Mas também claro é que reproduzir pelo simples prazer de ver o outro saído
de você é banal demais diante da perfeição universal. É preciso haver ética na
decisão de se reproduzir respeitando-se o equilíbrio e procurando respostas
para a sábia questão: Você tem ou terá de onde tirar o sustento do seu outro
sem agredir um círculo fechado que nunca foi seu e ao qual nunca pertenceu? Se
a resposta for positiva, reproduza; se não, Deus o perdoará. Infelizmente
nenhum de nós, na caótica conjuntura global tem tido argumentos fortes e
verdadeiros para afirmar que sim, ainda que a nossa condição seja a de rico ou
pobre. Acho que é passada a hora de reduzirmos os divisores; a boa ética
recomenda!
Quanto
ao surgimento frenético de novas necessidades criadas pelo marketing e pelo
modismo deve-se considerar que esta é uma forma de produção antiética, porque
quem, para construir também precisa destruir o que não lhe pertence, não esta
construindo, mas apenas trocando pedras de lugar. No final este esforço terá
resultante zero e levará a humanidade à condição de predadora de si própria,
nada condizente com o super-espírito inteligente que a criou.
ANTÔNIO KLEBER DOS SANTOS CECILIO