Diz a sabedoria popular que galo que dorme com
raposa, amanhece comido. Platão, do alto das sua filosofia, diria que discutir obviedades
é ato de extrema burrice e perda de tempo. E Einstein, o maior físico que a
humanidade já produziu; também celebrizado como grande pensador declarou que a
estupidez humana é tão ou mais infinita e profunda quanto o espaço
sideral.
Diante dos entreveros entre a
Ucrânia, a Rússia e a OTAN liderada pelos Estados Unidos, vê-se claramente que,
enquanto Platão era contra a discussão do óbvio e Einstein se perturbava com a insanidade dos homens, a humanidade permanecia e ainda
permanece tão estúpida quanto o galo que confiou na raposa. Isso sem
considerarmos que entre ambos há um espaço de mais de vinte séculos, que
aparentemente não serviu para nada.
A velha Rússia e sua vetusta
tradição expansionista esta de volta de garras e dentes de fora. Nada de novo
no velho modus operandi expansionista de um país que historicamente nunca
respeitou nada, nem ninguém. Seu diálogo com os vizinhos e com o mundo sempre
foi sonorizado pelo retumbar de canhões,
da marcha dos coturnos e do rosnado dos sádicos
ditadores que se revezam no Kremlin na esteira dos séculos.
Mas o tempo, esse inimigo dos
incautos, passou e com ele a insensatez do comunismo soviético. A queda do muro
de Berlim, o fim da Cortina de Ferro, a independência de uma dezena de países massacrados
pelo domínio comunista soviético foram sementes novas trazidas pelos ventos de
liberdade que sopraram do vórtice da explosão de uma super-estrutura estatal
que nunca se preocupou com políticas auto-sustentáveis por estar ancorada num
sistema improdutivo que não mais agüentou patrocinar o parasitismo dos
privilegiados que se mantiveram dependurados no poder à custa da exploração, do
medo e da opressão aos mais fracos por setenta anos.
Nova Rússia surgiu no palco
iluminado do fim da guerra fria, de bandeira nova, hino novo, novos
governantes, nova disposição para dialogar com o mundo e interagir num ambiente
democrático civilizado. Tudo novo, menos a semente da cultura ditatorial autocrática
autoritária.
Os galos idiotas do mundo
democrático civilizado caíram no conto do vigário de um urso de cara nova, mas
de alma velha. Dormiram em seus braços,
construíram interações comerciais sólidas sem se preocupar com alternativas e
planos B e C. Lançaram os livros de história no fundo das bibliotecas e suas
verdades nas brumas do esquecimento.
Platão e Einstein saberiam que o
resultado funesto não tardaria como não tardou. Menos de trinta anos depois, cai
por terra a máscara mal encaixada e resta a face canídea de um Urso sempre
disposto a se impor pela covardia na calada da noite enquanto os galos idiotas
dormem.
Que o episódio da Ucrânia sirva de
alerta para o mundo democrático civilizado jamais se esquecer, que mais amor e
menos confiança é uma boa medida para uma convivência saudável e duradoura com
os novos Czares Russos e que a paz e a democracia no mundo somente serão
duradouras enquanto os Estados Unidos, a França e a Inglaterra estiverem bem
preparados para a Guerra.
Sei que muitos criticarão a
afirmativa; sinal de que sempre haverá galos idiotas confiando em raposas,
ursos e dragões prontos para dar o bote, confiscar a liberdade e massacrar o
Estado de Direito.
Sei também que haverá novo coro de
galos idiotas gritando palavras de ordem contra o triunvirato anglo-francês-americano argumentando que ele também
costuma usar dos mesmos argumentos autoritários. Como resposta vai a pergunta:
Por que os grandes caudilhos do mundo ainda continuam investindo seus dólares afanados
do povo em Londres, Paris e Nova York e enviando filhos privilegiados para
estudar em Oxford, Sorbone e Harvard?