ABA avalia se irá processar a Veja por
ataques baixos contra povos indígenas e antropólogos/as
A recente matéria da revista Veja intitulada "Farra da
Antropologia Oportunista" vem despertando reações veementes de condenação
da prática de jornalismo descaradamente mentiroso, racista e atrelado ao lobbie
dos capitalistas em conflito com povos indígenas. Em nota pública assinada pelo
Prof. João Pacheco de Oliveira da UFRJ e coordenador Comissão de Assuntos
Indígenas da Associação Brasileira de Antropologia, a CAI-ABA demonstra com
evidências documentais que o artigo da Veja não é um fato isolado, mas parte de
uma prática sistemática de deslegitimação das reivindicações dos povos
indígenas que estão em conflito com interesses corporativos e do agronegócio,
valendo-se para tanto de mentiras, argumentos superficiais e caluniosos,
difamação de lideranças indígenas, do CIMI e de antropólogos, e uso manipulado
de frases às vezes fora de contexto e em outras claramente forjadas de
profissionais. A Comissão de Assuntos Indígenas revela que o presidente da
Associação Brasileira de Antropologia já acionou os seus assessores jurídicos
para avaliar a possibilidade de responsabilizar juridicamente os responsáveis.
"Dada a assimetria de recursos existentes, contamos com a
mobilização dos antropólogos e de todos que se preocupam com a defesa dos
direitos indígenas para, através de sites, listas na Internet, discussões e
publicações variadas, vir a contribuir para o esclarecimento da opinião
pública, anulando a ação nefasta das matérias mentirosas acima mencionadas. Que
não devem ser vistas como episódios isolados, mas como manifestações de um
poder abusivo que pretende inviabilizar o cumprimento de direitos
constitucionais, abafando as vozes das coletividades subalternizadas e
cerceando o LIVRE debate e a reflexão dos
cidadãos. No que toca aos indígenas em especial a Veja tem exercitado com
inteira impunidade o direito de desinformar a opinião pública, realimentar
velhos estigmas e preconceitos, e inculcar argumentos de encomenda que não
resistem a qualquer exame ou discussão."
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REVERSÃO DA HISTÓRIA NO
TÚNEL DO TEMPO.
Quero
deixar claro que não estou aqui defendendo a destruição ou a desumanização do
índio, esse elemento de extrema importância na formação étnica brasileira.
Entretanto não posso deixar de me pronunciar diante do acirramento dos ânimos
toda vez que o tema é o espaço indígena no sentido territorial ou até mesmo
cultural.
Não
é também tema central desta reflexão a razoabilidade ou a veracidade do que a
Revista Veja denunciou ou a sensibilidade melindrosa da esquerda, que
tradicionalmente gosta de liberdade de expressão para si, mas não a vislumbra
como via de mão dupla, cujo direito de falar o que pensa não deve ser
compartilhado com quem também pensa, mas diferente.
Não
acredito que Veja inventou o que publicou como também não acredito que as teses
político-antropológicas relativas aos indígenas sejam um arrazoado de mentiras
e exageros. Penso assim, porque, apesar de não ser um estudioso das ciências
antropológicas, sou um ser pensante, bem informado, lido e corrido, brasileiro
até a alma, conhecedor das artimanhas da vida e da política brasileira e também
não concordo com a excessiva valorização ou desvalorização de qualquer dos
seguimentos étnicos que compõem a sociedade brasileira.
Todavia,
assim como eu, grande parte dos cidadãos brasileiros tem observado com certo
espanto manobras indígenas no sentido de reivindicar direitos sobre áreas
urbanas já consolidadas de alto valor mobiliário, como também sobre áreas
industriais e rurais altamente produtivas e de importância vital para as
regiões onde se localizam, adquiridas e documentadas legalmente pelos atuais
proprietários, porém conquistadas nas guerras dos lendários bandeirantes a
serviço do Império Português, descobridor e arrebatador do poderio indígena
naqueles séculos em que o Brasil ainda nem existia como nação independente e
reconhecida como legalmente constituída.
Não
é segredo para ninguém que a história universal é ricamente recheada de
sangrentas guerras de conquista, cuja sombra da morte, da humilhação e da
escravidão sempre esteve presente e nesse contexto os índios sul americanos e brasileiros simplesmente foram o povo vencido.
No entanto, penso que os índios brasileiros merecem usufruir de algum espaço que lhes pertença, mas é uma aberração casos de tribos indígenas, com pouco mais de cinco ou dez mil indivíduos, terem a propriedade de áreas maiores do que muitos países, ricas em minerais importantes e, o que é mais grave, em alguns casos localizadas junto às bordas das fronteiras brasileiras com outros países; quando se sabe que há nações indígenas que impedem o livre acesso a estradas construídas e pagas pelo erário público, praticam exploração ilegal de minerais e madeira e facilitam a permanência e até a residência de cidadãos estrangeiros no interior de suas propriedades, em detrimento de brasileiros natos.
No entanto, penso que os índios brasileiros merecem usufruir de algum espaço que lhes pertença, mas é uma aberração casos de tribos indígenas, com pouco mais de cinco ou dez mil indivíduos, terem a propriedade de áreas maiores do que muitos países, ricas em minerais importantes e, o que é mais grave, em alguns casos localizadas junto às bordas das fronteiras brasileiras com outros países; quando se sabe que há nações indígenas que impedem o livre acesso a estradas construídas e pagas pelo erário público, praticam exploração ilegal de minerais e madeira e facilitam a permanência e até a residência de cidadãos estrangeiros no interior de suas propriedades, em detrimento de brasileiros natos.
A
extrema condescendência com que os acadêmicos brasileiros e, porque não dizer,
o judiciário e até o governo atual vem tratando o problema dos indígenas
brasileiros é tão estapafúrdia que breve ensejará a devolução do Brasil aos
índios. Seria o mesmo que Roma reivindicar os territórios da Península Ibérica
e da velha Britânia, que os Australianos tivessem que devolver a algumas
centenas de Aborígenes o país continente ou os descendentes dos Maias, quererem
que o governo espanhol lhes indenize todo o ouro, a prata e o grande território que lhes foi tomado.
Penso
que esse é um assunto de imensa importância e delicadeza que jamais deveria
ser tratado com arrogâncias ideológicas de direita ou de esquerda. Afinal, o
Brasil existe ou não? Todos têm os mesmos direitos e deveres ou não? Onde estão estabelecidos os deveres dos índios para com a integração nacional e para com a integridade dos imensos territórios que já lhes foram confiados?
Será
que teremos que entrar no túnel do tempo, a fim de ressuscitar os reis
portugueses, para que eles desconsiderem o Tratado de Tordesilhas e se
satisfaçam com os quatro cantos do seu mínimo país?