Tão
natural como tomar a benção de papai e mamãe toda manhã, é, para nós
brasileiros, cultuar a imagem do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, O
Tiradentes; aquele que não se curvou diante da tirania do Império Português. Um
simples militar baixa patente, de origem humilde, nascido nas entranhas das
montanhas mineiras cobertas de matas verdejantes, sulcadas por rios e riachos
cristalinos, habitada por parcas e longínquas tribos indígenas perdidas nas
brenhas do sertão; animais multiformes e multicoloridos voando, chirriando,
aninhando, pastando nos verdes, na pachorra do tempo e no silêncio imaculado.
Clima ameno, manhãs brilhantes, tardes douradas, brisa fresca sibilando nos
rostos e nos ouvidos como que trazendo boas novas do horizonte plácido e
infinito.
Tiradentes era um amalgama de tudo
isso; mineiro do espírito ao coração. Trazia na alma a independência do homem
liberto pela natureza, porque foi acostumado a interagir com ela, com sua
perfeição, com sua intrigante simplicidade etérea. Sua alma era flores, aromas,
sol, água, brisa, vôos, noites enluaradas, silêncio. Magnífico quadro, cuja
moldura era a paz e a liberdade.
Fernando Lira, ex-ministro da
justiça do democrata Tancredo Neves, no seu discurso em homenagem ao presidente
morto, quando o sol poente banhava fulgidamente almas em luto, soube
magistralmente descrever o sentimento de liberdade que enleva os corações
mineiros. Mirando o sol que se despedia reverente observou: “nesta Terra das
Minas Gerais os cumes, as pedras, os caminhos, as soleiras, a simpatia; tudo
fala de liberdade”.
Para um mineiro como Tiradentes,
cujo senso de liberdade pulsava na alma, ver a ambição portuguesa extrair
ansiosamente da terra sua seiva aurífera e magníficas gemas para levá-las ao
além mar, deixando como herança feridas e buracos era dor insuportável. Então
ele sublevou-se e liderou a Inconfidência Mineira, que sonhava ver o Brasil e
seu povo viverem livremente.
O Alferes, filho da liberdade foi
abatido na forca em 21 de abril de 1792, para espiar sua ousadia contra o Reino
de Portugal e servir de exemplo para a posteridade. Teve seu corpo
esquartejado, pendurado em postes, a fim de alimentar os abutres.
Abutres alimentados no céu e na
terra viram o sangue justo correr e erradamente imaginaram que o espírito da
liberdade se esvaiu juntamente com o último suspiro. Ledo engano, pois sua
semente germinou e ainda vive nas montanhas mineiras e Minas a exportou para o
resto do Brasil. A imagem esquálida de Tiradentes, sua vasta barba, cabelos
longos, laço no pescoço, imóvel aguardando
o derradeiro instante, tornou-se símbolo do brasileiro sofredor,
explorado por governantes corruptos, incompetentes, exploradores; apenas
preocupados com seu próprio umbigo. Obviamente o artista que retratou a execução
sinistra usou da imaginação, talvez até mesmo inspirado nas passagens bíblicas,
que também retratam Cristo açoitado, submisso, crucificado; espiando pecados,
que nunca cometeu.
Liberdade é tema que sempre fez
inúmeros pensadores se debruçarem, a fim de defini-la. Existem, portanto
algumas dezenas de obras importantes; milhares de páginas a retratando como
verdadeira utopia, uma vez que a condição de viver em liberdade em sua
plenitude nunca existiu, pois o homem/mulher sempre esteve e está submisso a
leis naturais e sociais, portanto não é, não foi e nunca será plenamente livre.
Ao meu modo de ver, prefiro
defini-la pragmaticamente. Portanto penso que o homem/mulher livre é aquele que
habita um Estado de Direito, tem acesso fácil à educação de excelente qualidade
em todos os níveis, goza da informação
sem censura, está livre para exprimir idéias, discordar, investir, trabalhar,
poupar, produzir, ir e vir, acreditar ou não em um Deus; inclusive ser
diferente do padrão étnico, racial e social básico e predominante na sociedade.
Percebe-se que desta feita não estou navegando sem direção em mares utópicos,
mas caminhado em terra firme, uma vez que há exemplos hoje no mundo de nações
que em menos de cinqüenta anos conseguiram acabar com a pobreza e a
desigualdade extremas simplesmente acreditando e investindo na arte de ser
livre com conhecimento, dignidade, respeito e ética.
Contudo, nuvens negras pairam no
horizonte político do Brasil, pois temos assistido aos governantes brasileiros
se alinhando a ideais marxistas/comunistas concebidos há mais de 150 anos por
um grupo de pensadores inspirados e liderados por Karl Marx. A primeira
experiência concreta do ideário marxista aconteceu na Rússia em 1917 e, desde
então, várias tentativas foram concretizadas no mundo, todas, com péssimos resultados,
jamais comparados ao sonho de Karl Marx. Este preconizava uma sociedade sem
classes sociais, que todos fossem iguais, felizes e submissos a um Estado
protetor e provedor. Infelizmente, o eminente pensador esqueceu-se da estupidez
humana, que, antes de tudo, transformaria o Estado num paquiderme estúpido,
corrupto, mentiroso, improdutivo, intransigente e autoritário; fabricante de
infelicidades e de vaquinhas de presépio que nunca discordam por medo ou por
despreparo cultural e material.
Desde muito cedo o comunismo
marxista mostrou falhas em sua execução, porque o igualitarismo comunista
jamais existiu, uma vez que os governantes e seu staff não apeiam dos seus
pedestais e continuam desiguais, vivendo
em palácios e desfrutando das maravilhas patronais capitalistas que o professor
Karl Marx condenou. Para fazer valer suas doces desigualdades lançam mão da
dissimulação, do deboche, da mentira, do autoritarismo, da crueldade, da
intolerância ideológica, dos julgamentos sumários; tornam-se donos da verdade e
da liberdade natural do ser humano.
Há dúvidas se no Brasil lograrão
sucesso. Pessoalmente acredito que sim, pois nosso povo, em cuja alma ainda
vive o vírus que ensandeceu Tiradentes esta mal informado e sendo enganado por um
silencio matreiro, cúmplice e leniente da imprensa nacional, que claramente vem
se imiscuindo do seu dever democrático de informar para conscientizar. Quando a imprensa, que numa democracia deve
funcionar como olhos e ouvidos do povo, deixa de cumprir seu papel
constitucional, luz vermelha deve acender nas consciências, porque algo esta
errado. Intrusos mal intencionados poderão estar se sublevando contra a ordem
democrática e a liberdade; atentando contra a herança que o sacrifício do Alferes
apaixonado ofereceu ao Brasil.
Mas que não se enganem, pois todos
que acreditam em liberdade tão profundamente quanto o herói nacional Tiradentes
acreditou, preferirão morrer a viver de joelhos