É comum ouvirmos alguém dizer em
conversas amistosas que não gosta de política. – Política? Não gosto! Não discuto! –
Concordo que o campo é complexo, viaja pelo mundo insondável dos sentimentos,
incita paixões, valores pessoais e muitas das vezes funciona como ópio capaz de
cegar a razão. Mas Sócrates, dizia que o homem é um animal político. Será que
ele tinha razão? Em resposta, incito o leitor a outra questão: há no mundo
alguma obra ou criação humana concebida por força de outra ação que não seja
política? Se lembrares de alguma, então Sócrates estava enganado.
Desde eras pré-históricas, milhões
de anos antes de Sócrates, quando tribos de humanos primitivos habitavam
cavernas, o homem procede como animal social, porque sempre viveu em
coletividade interagindo com seus semelhantes, seja na defesa contra inimigos invasores,
seja visando aumento da eficiência nas atividades da caça e, mais tarde, na
produção agrícola. Não existem registros históricos de que indivíduos humanos
vivessem em estado de isolamento, pois esse seria o caminho da extinção.
Conclui-se, portanto, que a única razão do sucesso da espécie humana é sua
capacidade de se associar; fator mais importante ainda que a própria racionalidade.
Vimos, portanto que a sociabilização
é pura política e mesmo animais irracionais, aptos a viver em isolamento,
precisam se associar para a procriação. A conquista da fêmea é um ato político
básico instintivo indispensável para a perpetuação da espécie. Pode-se concluir
então que política é o mesmo que ação e sem ela não há resultado. Em seqüência,
se o próprio ato da conquista é política, correto será concluir que sua vida é
o resultado de uma dinâmica política interativa entre duas pessoas de sexos
opostos e sem ela você não existiria. Assim,
se somos resultado de associações políticas desde nossa concepção e nascimento,
ao longo da vida inteira continuaremos praticando atos políticos
incessantemente, quando estudamos para ser médico ou engenheiro, quando
servimos e somos servidos, quando vendemos nossa mão de obra em troca da
sobrevivência, quando educamos filhos ou adquirimos a casa própria. Emoções
como amar ou odiar, chorar ou sorrir, estar alegre ou triste são de certa
maneira consideradas manifestações políticas com potencial para gerar resultados
positivos ou negativos diante do julgamento de outros e podem nos beneficiar ou
prejudicar.
Mas, à medida que as sociedades
humanas se desenvolviam e as relações sociais ficavam mais complexas, a
política passou a ser considerada como arte de governar. Obviamente não existe
arte que sirva ao mal, portanto podemos ampliar a definição como arte de
governar para o bem. Mais uma vez Sócrates tinha razão. Não seria possível o
animal social e político viver numa sociedade acéfala; melhor dizendo: despolitizada
e desgovernada. O bem esta logo aí: homens e mulheres trabalhando em prol de
todos. Contudo, onde se encontra arte no processo da governança? Eis a questão primaz!...Governar
com arte é administrar democraticamente, respeitando-se o salutar igualitarismo
entre os cidadãos, além da observação dos preceitos éticos e morais, como
também caminhar incansavelmente à procura do consenso num ambiente onde todos
gozem do direito de opinar. O governante, neste ambiente, nada mais é que um
líder e mediador com a dura missão de trabalhar para o bem comum, vivendo do
seu salário como todos os demais.
O leitor, a essa altura e com razão,
deve estar pensando que estamos aqui defendendo a pura utopia e que Sócrates
era mesmo um sonhador. No intuito de auxiliá-lo a clarear sua dúvida recomendo
que proceda a rápida consulta à Constituição Brasileira de 1988, pois lá
encontrará inúmeros capítulos, parágrafos e artigos baseados na razão defendida
por ele.
Acredito que agora o leitor esteja
preparado para compreender que política faz parte da sua formação física e
cívica e até da sua genética. Portanto, o aconselho a amar política, pois ela é
a única divisão entre o ser e o não ser, entre sonho e realidade ou entre tudo
e nada. Sem ela a humanidade estaria extinta há milhões de anos ou talvez ainda
estivesse amargando as dificuldades da idade da pedra.
Modernamente o vocábulo ‘política’ empobreceu-se,
pois está intimamente associado à conquista mesquinha de vantagens pessoais, à
súcia de malandros mafiosos, ao conluio, à luxúria, ao nepotismo, ao
empreguismo, ao assistencialismo e a quadrilheiros de toda ordem. O nobre
exercício da política perdeu a característica de missão e transformou-se em
profissão rentável com direito a super salários, proventos vitalícios,
aposentadorias privilegiadas, acesso ao tráfico de influências e ao comércio de
informações estratégicas. Esta é sua face perniciosa, pois guarda
característica altamente discriminatória e antidemocrática, porque a maior
parte da sociedade não tem acesso e participa apenas como eleitora e pagadora
de impostos. Pior é que nesse sistema minado pela corrupção todos os processos
ficam mais caros além de ruins e ineficientes, transformando o desenvolvimento
pleno num sonho impossível.
A partir daqui, ficou fácil perceber
que estamos tratando de duas políticas: uma boa e construtiva; outra perniciosa
e destrutiva, além do que a mesma palavra é usada para definir situações
diferentes. É impossível viver sem alimento, entretanto o alimento contaminado
é mortífero. A política contaminada pelo vírus da desonestidade é ação negativa
e gera resultados bons apenas para políticos abutres; aqueles que se alimentam
da desgraça da sociedade.
Há remédio contra esse terrível mal?
A única e poderosa ação capaz de combatê-lo é sua atenção, participação e
fiscalização. Assim você estará lançando luz nas sombras e vampiros detestam
claridade. Para desvirtuar sua atenção lançam campanhas publicitárias
enganosas, tentam comprar seu voto com presentes baratos, promessas vibrantes,
musicais inesquecíveis e enquanto você dorme o sono do justo, riem da sua
inocência. São como ratos que sobem à mesa na certeza da ausência do gato.
Quando os justos tomarem consciência da sua força através da participação ativa,
iluminarem o ambiente e ocuparem o centro da sala, os ratos fugirão para seus
buracos imundos e escuros de onde nunca deveriam ter saído e o Brasil deixará
de ser um país rico habitado por milhões de pobres, analfabetos, desempregados,
doentes em filas de hospitais sem médicos e equipamentos, presídios lotados,
professores mal pagos, prostitutas infantis, jovens despreparados para competir
no mercado de trabalho, empresas quebradas e ineficientes, cidades esquecidas,
prefeituras de chapéu na mão, políticos sanguessugas desaforados, Judiciário
insipiente...
Se agora você acordou, chame seu
candidato, faça perguntas pra ele.
O
que você vai fazer? Como? De onde vão sair os recursos? Quem o apoiará? Por que
você quer ocupar esse cargo? Quais seus conhecimentos técnicos em gestão administrativa
e administração pública? Olhe bem dentro dos seus olhos e desconfie de tudo que
ele disser, conheça seu passado, seja cético. Abra olhos e ouvidos!