Desde o instante que Cristóvão Colombo aportou nas Antilhas e deparou-se com a espetacular visão de natureza intacta e os olhos gordos daqueles aventureiros comunicaram aos reis católicos o grande achado, nunca mais os rapineiros deixaram em paz a América. Crivaram-na de buracos em busca dos gigantescos veios auríferos e diamantíferos, dizimaram cidades indígenas com suas montanhas de ouro e prata, escravizaram os índios e depois os mastigaram e digeriram como escravos juntamente com sua cultura milenar em muitos aspectos mais desenvolvida que a européia, se infiltraram pelos rios e montanhas derriçando todo tipo de madeira que encontravam pela frente, implantaram a monocultura da cana de açúcar cuja roda motora encontrou combustível no esbanjamento das elites européias e nos braços escravos de milhões de negros importados à força da África. Do outro lado do Atlântico as potências exploradoras revezavam-se no comando da pilhagem na exata medida da sua capacidade de jogar no tabuleiro dos interesses comerciais de sua época.
Inicialmente Espanha e Portugal, que dirigidos por governantes irresponsáveis, perdulários e sem visão, perderam para a Inglaterra esta vaca de múltiplas tetas que jamais deixou de oferecer precioso sustento às mãos de ferro sanguinárias daqueles cuja ambição insaciável nunca teve medidas a satisfazer. O tempo passou e com ele as eras do ouro, da prata, do açúcar, do algodão, do café, que possibilitaram a industrialização da Inglaterra e viram-na, mais tarde, ceder lugar ao novo gigante em ascensão, que apesar da contemporaneidade colonial, não teve a má sorte de guardar em seu subsolo tantas riquezas que pudessem atrair a cobiça desmedida dos implacáveis exploradores e que, por essa mesma boa sorte, pode transformar-se no altar dos novos ingleses que partiram para construir sua querida e sonhada Nova Inglaterra; hoje Estados Unidos da América. Mas a nascente era industrial traria consigo novas corridas exploratórias e uma vez mais a América Latina seria conclamada a comparecer com suas imensas reservas minerais e petrolíferas num eterno e sórdido movimento de saída de riquezas a preços irrisórios em prol do bem estar social das oligarquias internas e da aceleração do progresso das grandes potencias à custa do saque, do sangue, da fome, da desnutrição, da miséria, da ignorância, da proliferação da tirania e da corrupção endêmica em todo o continente.
Diante desse tenebroso quadro que mais parece o dia do juízo final e da condenação ao fogo ardente do inferno onde não há remissão, nem escapatória, conquanto a ignorância seja a mola quebrada que mantém milhões na jaula da incapacidade de competir num ambiente altamente tecnológico, o mundo se acostumou a olhar para nossos horizontes e apenas enxergar bons pastos para engordar suas contas bancárias sedentas por dólares. Querem navios carregados com produtos primários baratos em troca de meia dúzia de chips caríssimos, milhares de toneladas de minério de ferro sem nenhum valor agregado, a fim de inundar nossas ruas e vias, já atravancadas, de automóveis de luxo ou encantar nossos olhos com milhares de quinquilharias de qualidade inferior às similares disponíveis lá fora, para deleite exclusivo das minorias privilegiadas. A América Latina e o Brasil em particular, apesar do seu já maduro parque industrial, continuam gozando do status de fornecedores de commodities básicas. Qualquer beneficiamento, por menor que seja não interessa às potências industriais, porque lhes subtrai empregos e dividendos.
Passados cinco séculos e do alto da condição de potencia emergente, que pretende conquistar maior espaço no cenário político mundial, com uma demanda de mão de obra que ultrapassa os dois milhões de postos de trabalho por ano e ainda com o compromisso ético de melhorar os índices de qualidade de vida do povo, o Brasil precisa se posicionar de forma mais inteligente diante de seus parceiros comerciais. De nada vai adiantar a presidente Dilma sair por aí vendendo peixe frito se todos o querem cru. No estado primário o mesmo peixe dá lucro na compra, no processamento e na venda. Historicamente as commodities são cotadas pelo comprador e essa é a causa do paradoxo latino americano: homens pobres pisando em solo rico. – veja as condições dos produtores mineiros de leite; ricos economicamente e pobres financeiramente – O governo passado substituiu os EUA pela China como seu maior parceiro comercial e no ano de 2010, no montante de 55 bilhões de dólares de comércio entre os dois países, o Brasil consolidou sua secular posição de fornecedor de materiais primas. A China preferiu se comportar como a Inglaterra dos séculos XVIII e XIX e nós brasileiros continuamos entrando pelo mesmo cano que nos manteve presos ao subdesenvolvimento social e técnico: suprimimos empregos no mercado nacional e os criamos na China, desestimulamos investimentos em expansão industrial, estamos correndo o risco de nos transformar num simples entreposto de produtos estrangeiros, não desenvolvemos tradição de qualidade e de capacidade tecnológica e de quebra estamos perpetuando a falta de investimentos no vetor básico do desenvolvimento que é a educação. Completa-se o circulo vicioso: o país não é competitivo porque não dispõe de educação tecnológica e não se torna competitivo, porque precisa importar know how. Nossos manufaturados são vistos lá fora como obsoletos, de má qualidade e caros. Esse é o pior dos mundos para quem quer vender.
Desde pequeno ouvi meu saudoso avô, um imigrante semi-analfabeto e muito bem escolado nas artes do varejo de balcão, dizer: - meu netinho, se você quiser se dar bem no comércio precisa seguir cinco regras básicas: ter vários fornecedores, vários compradores, boa qualidade, bom preço e gastar menos que ganhar para não depender de recursos alheios. Aquele libanês ignorante não demorou muito a aprender o óbvio, contudo nossos governantes continuam fuzilando as empresas com os impostos mais caros do mundo, fora a natural escassez de capital na esteira dos juros astronômicos sem contar os entraves burocráticos e logísticos; assim lhes roubando competitividade. Ainda mais acreditam que a China, uma potência hexa milenar na arte do expansionismo e da dominação, esteja muito sensibilizada com os anseios e necessidades do gigantismo emergente do Brasil?!
Se o governo populista brasileiro não fizer uma emergente reforma tributária e fiscal e não parar de pisar na empresa brasileira como se esmaga uma barata, o Brasil continuará sangrando suas riquezas a preços irrisórios e assim contribuindo para a grandeza e o bem estar da China draconiana comunista e não vai adiantar espernear, pois a história penta secular atesta e comprova que nesse jogo quem sempre venceu foram eles. Nós ficamos com os buracos, a miséria, a ignorância e a corrupção.