NOVELAS,
SONHOS E REALIDADE
Novelas entram nas nossas vidas
mesmo que não entremos nelas. Não tem jeito! A janelinha eletrônica esta logo
ali na sala, no quarto, na cozinha, na vitrine da rua, na rodoviária, no
consultório médico, no ônibus, na internet, no bolso. De qualquer maneira somos
vitimados pela lavagem cerebral diária que a trama promove. Novas músicas que
se transformam em temas do fulano e da beltrana. Você viu o conjunto da cicrana;
igual ao da Tenente?! E o baton cor de rosa fresca da Áixa; lá no shopping já chegou!
Novela é coisa tão séria na vida da
gente que sem querer deixamos de lado o relógio e delegamos a ela sua função.
Querem um exemplo?: Passo lá depois da novela. A briga foi antes ou depois da
novela? A que horas será o jogo? Depois da novela. Na hora da novela não atendo
nem ao telefone.
O
negócio pode parecer brincadeira, passa tempo, coisa de quem não tem nada que
fazer, mas para muita gente, que vive da dramaturgia do faz de conta, é
profissão e muito rentável, invejada pela maioria dos mortais. As redes de tv
investem milhões e ganham muito mais com
essa tal arte de nos encartar ou fazer vomitar.
– “ Nossa, quando essa Lívia Marine aparece, tenho náuseas! Pelo amor da
Santa, como eu queria ser o Stênio, para dormir um só dia com a delegada! Ei
cara; deixa de ser bobo, não misture as estações, delegada é personagem irreal;
o nome dela é Giovana Antonelli na real! Não se intrometa, não posso ter liberdade nem para sonhar!
Outros exemplos de como as pessoas
fazem das novelas ferramentas de viver, ouvi de uma senhora, já de mais idade
data a filosofar, que consegue sentir nas temporadas das novelas espécies de
estações da vida. Ah; diz ela: - fico triste quando a novela acaba, porque sinto
que estou ficando mais velha; essa durou sete meses! Agora começa outra e
quando acabar já estaremos em 2014! Nossa, quando vi o Francisco Cuoco a
primeira vez foi numa novela chamada “Redenção”. Ele era novinho e lindo que
nem era eu! Éramos fresquinhos como duas folhas de alface. Agora, nem acredito
que fiquei velha quanto ele. Quando o vejo naqueles cabelos brancos e rugas de maracujá
esquecido, me olho no espelho e até comparo. Mas ainda acho que estou melhor!
Há semanas ouvi um absurdo! Parado
numa esquina à espera do sinal, pequei o
entremeio de um colóquio feminino, quando uma das duas confessou que esta de
saco cheio do marido, porque ele quer funcionar na hora da novela. Aí, ao sinal
de, deixe para depois, quando vejo ele já dormiu. “Acabo arrumando outro que queira
brincar antes ou depois da novela. Não sei por que ele tem que ser sempre do
contra?!
E minha saudosa vovozinha, do alto
da sua santa inocência e das intermináveis funções de tricotar, dizia que
preferia mil vezes assistir às bobagens das novelas que às novidades ruins dos
jornais. –“Na hora da notícia a gente só vê morte, assalto, acidente, político
safado, banditismo e tragédias. Na novela, pelo menos, também tem essas coisas,
mas a gente sabe que é mentira!”
Sonhos e novelas são aquelas coisas que
não se discutem. Orbitam no campo da política, da religião, do futebol, do
amor, do ódio, da moda, do tempo e até do sexo. Cada um sente bem ou sofre de
acordo com os acordes da sua alma. Por isso, não estamos aqui para discutir, mas
temos que reconhecer que ao fazerem sonhar já valem quanto pesam. Afinal, o que
seria da realidade sem sonhos ou dos sonhos sem realidade. A ordem desses fatores deixo por sua conta.
p/
ANTONIO KLEBER DOS SANTOS CECILIO