O Brasil tem uma característica, que o diferencia dos demais. Aqui temos a capacidade de transformar tudo, mesmo coisas tão sérias quanto uma epidemia, em piada. Se não fossem as perdas de vidas, o enredo serviria para uma adaptação nos moldes daquelas antológicas comédias dos “três patetas”.
Há vários anos a dengue vem incomodando, sempre na mesma época e nos mesmos lugares e toda vez o alvoroço é característico de marinheiros de primeira viagem. Como se nada fosse previsto, ninguém soubesse que no verão a proliferação do transmissor se acelera e que providências devem ser tomadas no sentido da sua erradicação. A população, por sua vez, está sempre confiante que o mosquito sobrevoará apenas a casa do vizinho. Somem-se a isso, hospitais sem infra-estrutura suficiente e adequada, médicos bisonhos, pessoal insuficiente, falta de informação, governantes que nunca têm tempo, pois invariavelmente estão ocupados com CPIS, fofocas, festas, viagens, amantes, desvios comportamentais; como que pegos de surpresa, se desdobram em justificativas desencontradas, acusações levianas e infundadas. Enfim, transformam o jogo da responsabilidade numa espécie de ciranda da batata quente, onde todos jogam para todos, mas ninguém quer pegar.
A confusão é tanta e o mosquito tem estado tão na dianteira que se lembraram do Tom, aquele que persegue o Jerry e nunca consegue pegar.
Uns disseram:
- Ele não consegue pegar nem o Jerry, quanto mais o Aedes.
Outros argumentaram:
- Vamos convocá-lo assim mesmo, pois talvez a esquadrilha de aedes aegypits, os exterminadores, não seja tão esperta quanto Jerry.
Aí houve mais um mal entendido. Alguém, na discussão, entendeu que o Brasil estava prestes a sofrer uma invasão da esquadrilha do Egito e convocaram as forças armadas.
O ministro Jobim que não agüenta nem mais ouvir falar em avião, vendo-se dramaticamente envolvido com a invasão de uma esquadrilha estrangeira se coloca de prontidão. A correria agora é no âmbito militar e o ministério das relações exteriores convoca o embaixador do Egito para saber o que esta havendo. Nesse ínterim, lá na terra do Tio Sam, Tom, o gato, prepara-se para sua nova missão no Brasil: exterminar com Aedes e seus comparsas. Mas a confusão continua, pois agora Tom e Jobim estão envolvidos na parada e como era de se esperar, ambos estão enciumados. Afinal de contas esses super-heróis são assim mesmo. Cheios de si, nunca admitem concorrências.
Enquanto isso, o governo se esforça agora para desfazer o mal entendido com o governo do Egito que exige uma retratação com pedido de desculpas e tudo. – “Como vocês brasileiros podem confundir nossa força aérea com um bando de assassinos como esses aedes aegypits?” Esbravejou o embaixador daquele país.
Como se não bastasse, lá no Rio de Janeiro, diante de tantas mortes, com aquela barafunda de tanta gente prá lá e prá cá, o prefeito César Maia explica que essa confusão com o governo do Egito não passa de um factóide sem maior importância e que agora a culpa de tudo é de São Pedro que não para de chover, deixa o meio ambiente muito úmido e quente e sugere que enviem um e-mail para o céu. Reúnem então uma comitiva para decidir qual dos dois super-heróis se encarregará da missão celeste. O ministro ou o gato. E nova confusão entre Tom e Jobim precisa ser apaziguada, pois estão em pé de guerra. Depois de muita discórdia e jogos de empurra resolvem mandar Tom, o gato, de volta para os Estados Unidos. Afinal de contas somos um país soberano e não precisamos da ingerência de gatos estrangeiros.
Surge então um inesperado novo problema! O governo americano se sentiu ofendido com a devolução abrupta do super-herói Tom. Lula então, convocado para acalmar os ânimos pela sua velha habilidade política e diplomática, recentemente testada na desavença da Colômbia com o Equador; telefona para Jorge Bush e tenta explicar a situação. O presidente americano aceitou as desculpas e ofereceu ajuda do seu ministério da saúde lembrando Lula que com um ministro temporão fica mesmo muito difícil resolver problemas tão sérios. Novos incômodos para Lula, pois o ministro Temporão, sentindo-se ofendido, quis processar Jorge Bush por calúnia e difamação e pelo seu esquecimento de que ele é um profissional competente e reconhecido e ainda argumenta que a culpa não é sua, mas do prefeito César Maia, que não convocou a Marinha para descartar Aedes no oceano. Em vez disso foi para a Bahia aprender dançar o tchan e se apresentar no Canecão de shortinho que nem a Carla Perez. Diante da drástica decisão do prefeito, outra discussão paralela teve início. Dançar de shortinho é muito arriscado, pois Aedes gosta de voar baixo e picar nas partes inferiores. Jobim, sabendo dessa mania esquisita do mosquito, convoca a ANAC e manda abrir um inquérito para puni-lo exemplarmente pela sua grave falta de escrúpulos. “Como pode um mosquito ante-social como Aedes desrespeitar o tráfego aéreo do país descaradamente, colocando tantas vidas inocentes em risco?”.
Aedes com certeza terá seu brevê cassado, mas quem o conhece sabe que não entregará os pontos. Enquanto as autoridades brasileiras perdem tempo com suas chanchadas políticas e o povo continua com sua falta de capricho, ele e seus comparsas já estão preparando a esquadrilha tipo 4, cuja guerra bacteriológica será muito mais mortal. A inteligência burra brasileira, entretanto, ainda está discutindo se tal esquadrilha existe ou não. Quando ela começar a matar, aí eles se assustarão como se nunca tivessem ouvido falar no assunto. Novamente será tarde demais! Assim funcionam as coisas no país do futuro...
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