Há pelo menos três décadas temos visto a infra-estrutura estatal brasileira se deteriorar com maior agravamento nos últimos dez anos, período em que a demanda aumentou pesadamente, tendo em vista o sensível aumento da população, a recuperação da capacidade econômica de alguns seguimentos sociais e o baixo índice de investimentos governamentais, tanto na recuperação e manutenção, quanto na ampliação e construção de novas unidades operacionais.
Desde o governo de Fernando Henrique, as coisas se agravaram de forma insustentável culminando com o apagão energético de 2001. O governo, no entanto sabia que as coisas estavam no limite, mas conforme de costume, preferiu correr todos os riscos, deixar a nação humilhada perante o mundo e a si própria e, a fim de consertar o estrago, tomou decisões paliativas e caras, de caráter temporário, pois estamos esperando uma nova crise para os próximos cinco anos, caso não sejam feitos investimentos maciços nos sistemas de geração e de transmissão de energia.
Ainda naquele governo tivemos a crise hospitalar, aliás, uma chaga social crônica que o Brasil nunca conseguiu solucionar, nem antes, nem depois da instituição da rapinagem oficial chamada CPMF. Aliás, ladroeira instituída com o falso intuito de resolver a situação dos hospitais públicos, das filas do INSS, da falta de medicamentos básicos nos postos de atendimento, das mortes prematuras, da falta de médicos, da falta de incentivo profissional pelos baixos vencimentos. Só no ano de 2006, segundo dados oficiais, o povo pagou trinta e dois bilhões de reais a título desse tributo o que significa uma arrecadação diária média de R$ 87.670.000,00 (oitenta e sete milhões seiscentos e setenta mil reais).
Segundo estimativas o Brasil, para resolver as várias crises crônicas no setor de transportes viários urbanos e interurbanos, ferroviários, portuários, educacional, segurança pública, geração de energia, monitoramento de fronteiras; seriam necessários investimentos da ordem de mais de cem bilhões de dólares ou algo em torno de duzentos bilhões de reais. Isso sem considerar a necessidade de reaparelhamento das forças armadas.
A verdade é que seria muito mais condizente o nome CRISIL para uma nação que sobeja de crise em crise. Ultimamente os meios de comunicação estavam com seus holofotes voltados para a crise aérea, ou melhor, apagão aéreo ou, talvez ainda melhor, safadeza aérea. Foi preciso morrer quase quatrocentas pessoas em dois acidentes de causas duvidosas para que a sujeira saísse debaixo do tapete. Aí nós tivemos verdadeira idéia da dimensão do desrespeito e da irresponsabilidade com que nossos governantes gerem os negócios do povo.
Numa análise mais apurada, entretanto percebemos que tantas mortes são nada diante do massacre diário nos hospitais públicos ou nas centenas de acidentes rodoviários causados pelas más condições das rodovias. Fora os prejuízos astronômicos que o caos generalizado impinge às empresas encarecendo investimentos, reduzindo a capacidade produtiva e a geração de empregos; criou-se um círculo vicioso que mata não só pessoas, mas também a competitividade, a criatividade, a esperança e, por fim, a nacionalidade.
No CRISIL, morrem aproximadamente duzentos e cinqüenta mil pessoas por ano em acidentes rodoviários nos buracos, curvas e pontes estreitas das rodovias e outros tantos milhares na violência urbana, nas intermináveis filas de espera por atendimento médico, em acidentes de trabalho pelo despreparo do trabalhador e descaso das empresas. Nem diante do gigantismo dos números estatísticos nada mereceu tanto alarde quanto as quatro centenas de mortes de pessoas não mais importantes que os milhares de anônimos que perecem diariamente vítimas inocentes do apagão da nação brasileira. Será por quê? Seria porque noticiar desastres aéreos dá mais ibope ou porque resvalou-se o relicário das elites? Diante das duas hipóteses opto pelas duas.
Perante tanta tristeza os fatos que acontecem no CRISIL são de uma prodigalidade inimaginável até mesmo para um gênio. Deram permissão para um gigolô milionário construir um prédio na rota dos aviões e agora, com o intuito de dissimular o ato ilícito daqueles que permitiram tal genialidade, o prendem sob acusação de exploração sexual. Ora, quantos gigolôs foram presos no CRISIL nos últimos cem anos sob tal acusação? Prender esse homem é uma obrigação legal, entretanto fazê-lo, logo agora, é simplesmente uma piada desrespeitosa com o povo e principalmente com os que perderam a vida vítimas dessas manobras insensatas e infantis. Pêsames ao CRISIL, pois ele continua sendo apenas um país do futuro.
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