O governo brasileiro negociou com os usineiros paulistas o fim das queimadas para daqui a nove anos. Notícia fresca nos jornais da semana da Pátria de 2008.
Quem passa pelas regiões canavieiras em época de colheita fica assustado com tamanhos incêndios e fumaça capaz de anuviar o horizonte por muitos quilômetros. As imagens tão agressivas dão ao ambiente a morbidez macabra semelhante àqueles filmes cujo tema retrata o armagedom. O crepitar das fogueiras gigantes e o bruxulear de paisagens distastes distorcidas pelo alto aquecimento do ar incitam a imaginação do passante que logo se sente condoído e seu subconsciente alarmado o induz a clamar por socorro pela natureza que se esvai. Tudo em vão, pois diante do avanço impiedoso do fogo bem alimentado e da gana dos homens inconseqüentes que se utilizam da técnica arcaica para colher a cana com custos menores, quem perde é mesmo a natureza, o Brasil com o aumento da sua participação na poluição do planeta e a sociedade governada por populistas irresponsáveis, apenas sensíveis às pressões de capitalistas mercenários.
Lá nas cidades a calamidade se reflete em dezenas de moléstias do aparelho respiratório, na superlotação de hospitais e emergências clínicas, na indisponibilização dos profissionais de saúde pelo aumento excessivo da demanda por pronto-socorro e pela aceleração dos gastos governamentais com um tipo de assistência médica corretiva, sem nenhum reflexo positivo nos índices de qualidade de vida da população, conquanto não esteja plantando nada para o futuro.
Nada disso importa desde que os interesses daqueles que prestam inestimáveis serviços ao país, geram milhares de empregos de terceira classe, pagam salários miseráveis, não respeitam normas básicas de segurança no trabalho e arrasam a saúde dos trabalhadores conhecidos como “bóias frias”; estejam salvaguardados e que, em troca, não importunem os populistas demagogos com aumentos de preços do açúcar e, principalmente do álcool combustível.
Contudo, esta é apenas a parte visível do problema. Enquanto o governo, por um lado, se furta a exigir dos usineiros o cumprimento imediato de leis já estabelecidas em tratados internacionais de preservação ambiental, dos quais o Brasil é signatário, e faz vista grossa para o descumprimento de leis trabalhistas básicas e fundamentais, por outra via, exige das empresas de outros setores seu cumprimento com rigor extremo. As normas que regulamentam as relações trabalhistas e atividades de produção hoje no Brasil estão extremamente rígidas e qualquer ato que atente contra a integridade do trabalhador ou coloque em risco o ecossistema é rigorosamente punido com pesadas multas e outras admoestações que podem incluir até o cerceamento da atividade e a prisão dos infratores. Pequenos proprietários rurais são obrigados à preservação de matas ciliares e à reserva de determinada porcentagem da propriedade para replantio de espécimes nativos. Até as reservas aqüíferas estão sendo catalogadas como também sua vazão e há planos para que se cobre pelo seu uso; mesmo do proprietário da terra onde ela verte. Empresas de todos os setores são obrigadas à co-responsabilidade pela preservação ambiental e obviamente têm que reverter investimentos importantes, muitas vezes obtidos por financiamentos caros, em atendimento à lei.
Não estamos aqui colocando em xeque os méritos da questão, que obviamente estão corretos e são imprescindíveis diante de um ecossistema em estado quase falimentar, cuja dinâmica de destruição estará velozmente se acelerando, caso não sejam tomadas providências de impacto na reversão do processo. Todavia, o que questionamos é a excessiva permissividade do governo para com um determinado setor altamente rentável e próspero ao conceder, por acórdão, prazo extremamente extenso para substituição de manejos abusivos e condenáveis há décadas no mundo civilizado e, principalmente, quando se sabe que seremos vítimas de sérias conseqüências se continuarmos impingindo à natureza agressões que podem ser perfeitamente evitadas através de simples atos imparciais e responsáveis para com o bem-estar de tudo e de todos.
O populismo é extremamente perigoso por isso: joga a sujeira para debaixo do tapete, empurra decisões inadiáveis indefinidamente, introduz o assistencialismo como ferramenta para cativar incautos, é justo com muitos e leniente com os amigos, faz propaganda enganosa dando cores a fatos grotescos simplesmente com o único propósito de plantar votos e usa do imediatismo como maneira de acender esperanças e semear falsa felicidade. São os cabresteiros. E o pior: sua arma mais cruel é a perpetuação da ignorância, pois do contrário quebrariam o círculo virtuoso da dominação. Como bons ladrões, tiram dez de quem tem, ficam com oito e dois, dão para quem não tem. Alardeiam que deram tudo. Finalmente, não erradicam a miséria, mas acirram o ódio entre as classes sociais.
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