No Brasil inteiro, milhares de políticos comemoram a vitória. Superaram opositores tão aguerridos que até parecia impossível vencer. Tudo, até poucos dias antes, era incerteza, qualquer comentário ou estatística podia semear aquela dúvida tênue, que pesa como chumbo no íntimo ambicioso de qualquer político. Serei mesmo eu o escolhido? Pelo sim, pelo não, convém a um bom político manter-se fleumático e sempre pródigo naquelas respostas evasivas que parecem dizer tudo, mas que no fundo não dizem nada. Ora, meu povo saberá me compreender e minha vitória será compensada com muito trabalho!...
Ora, ora! Eles ganharam e se esbaldam em felicidade. No entanto, cabe agora aos cidadãos entenderem o verdadeiro significado dos folguedos e businaços. Obviamente não estão comemorando o muito trabalho que têm pela frente, pois ninguém em sã consciência sai pela rua alardeando os montes de pedras que tem para carregar. Se para quem sabe ler um pingo não é letra, não fica muito difícil entender que a comemoração tem causas menos visíveis e mais interesseiras. Espocar de foguetes simbolizam primeiramente o alívio das tensões pré-eleitorais e depois o vislumbrar das vantagens do poder, a possibilidade do dinheiro farto, as mordomias às custas alheias, os presentes caros ou minimamente o direito de gozar da condição confortável de rebento da “teúda” vaca pública. O lado sórdido da questão é que os eleitores patrocinadores da festança estão fadados, a partir daí, a permanecerem do lado de fora, pois de festa no céu sapo não participa, tão somente vota e paga.
Pelo menos para isso o povo serve. E agora ainda douraram mais a pílula. O ato de votar deixou de ser dever e foi promovido a “direito obrigatório”. Direito de escolher livremente legítimos representantes. Aliás, algo que vem sendo mantido com toda aplicação. Tudo por uma boa eleição. Segurança, transporte, sistema informatizado, direito precoce ao exercício do voto. Até horário de verão mais curto só para evitar problemas no sincronismo do sistema foi permitido. Um absurdo energético! Vamos esbanjar o colossal um quinto de um por cento da economia de energia prevista para os cinco meses de vigência do horário de verão e ainda colocar em risco nosso debilitado sistema de transmissão. Mas não tem importância, pois direito do povo é coisa sagrada e afinal de contas Deus é brasileiro e caso haja um black out o prejuízo será pena compensada e com a garantia divina acontecerá durante o dia; será um white out.
Enfim, que bom seria se nossos governantes se empenhassem tanto para garantir ao povo os outros tantos direitos à legítima cidadania e à verdadeira democracia. Escolas de qualidade, hospitais descentes, segurança, transporte eficiente e condizente com a pobreza do galhardo eleitor. Em resumo, aquela velha lista que compõe qualquer discurso de palanque, para entrar num ouvido e sair no outro.
Seria de bom alvitre e um sinal positivo se nossos políticos eleitos substituíssem os folguedos da vitória e, como verdadeiros líderes, preocupados com o destino incerto da sociedade brasileira, tão carente de organização e respeito à democracia, conclamassem o povo para uma cerimônia simples, talvez uma celebração em posição genuflexória invocando o bondoso Deus brasileiro, para auxiliá-los e lhes dotar do melhor juízo na difícil e quase impossível missão de colocar ordem na desordem nacional.
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