O roqueiro Lobão assim se referiu, com aquela sua peculiar ironia, à modelo Monique Evans, naquele tempo em que era "front page" na imprensa, pelos seus atributos sexuais e bravatas comportamentais.
Tomando uma carona na irreverente classificação usada por Lobão para criticar o perfil apelativo daquela vedete "sexy simbol", podemos extrair daí muitos bons e úteis exemplos, que certamente nos servirão de instrumento para nosso aprimoramento pessoal, profissional, político e até cívico.
Primeiramente, ao radiografarmos tal adjetivação característica de um comportamento excêntrico e extravagante, é impossível, também, deixar de reconhecer que há nuance de certo desdenho em seu arcabouço, sinal, mais do que evidente, de que Lobão nutria alguma apreciação pela referida modelo. Portanto, alfinetou e soprou com elegância.
Claro que decadência por decadência, a com elegância, se não for a mais recomendável, pelo menos é a mais conformada. Mas conformar-se com a decadência não denota um alto grau de incapacidade e, portanto, de falta de competência para fazer suas próprias avaliações?
É nessa esteira que, mais uma vez, venho a público, nesta reflexão, abrir os olhos da comunidade sanjoanense para o perigo que corre por não estar enxergando suas próprias mazelas. Falha grave, que, em outras palavras, caracteriza o mais baixo nível de inteligência possível: ser decadente por cegueira e puro conformismo e, o que é pior, com crença e elegância.
Sou sanjoanense de nascimento e coração, não embuto nessa crítica qualquer irreverência e não vislumbro adiante de mim qualquer sanjoanense que ame e se orgulhe mais desse torrão do que eu. Portando, juntos, façamos nossa catarse e batamos no peito livres de quaisquer segundas intenções. Nossa culpa!
Morando há quase trinta anos fora de São João, já perdi a conta das vezes que encontrei pessoas ávidas por conhecê-la. São João del-Rei é grife em qualquer lugar. Faz parte dos sonhos de qualquer peregrino de roteiros culturais. Cidade histórica dos casarões e Igrejas coloniais, do Inconfidente Mártir, de Tancredo e Aécio Cunha Neves, das orquestras, da riqueza aurífera, rastro benigno de lendários bandeirantes e sepulcro perene de insurretos negros sacrificados no Morro da Forca. Sua riqueza histórica transcende fronteira e a faz uma das poucas privilegiadas cúmplices da saga dos bravos portugueses no novo mundo.
Terra de contrastes. Do profano e do santificado. Mesmo do alto da sua sobriedade histórica deu a luz a tão saudosos carnavais. Já sediamos os melhores do interior, abrilhantados por "Falem de Mim, Qualquer nome Serve, Largo da Cruz, Metralhas, Bate Paus, Ginego", ambos sob a batuta de respeitáveis carnavalescos como os irmãos D'Ângelo, Cenira, Iruan, João Bosco, Ginego e tantos outros importantes nomes que ficaram nas glórias do passado. Mas naquela bela época não cultuávamos apenas o profano, pois tínhamos semana santa com sermão no largo das Mercês e penitência de sete dias na Matriz do Pilar, no Carmo e no Rosário.
São João, celeiro de intelectuais, historiadores, professores, filósofos, músicos e poetas do quilate de Sebastião Cintra, Antônio Elias Cecílio, Gentil Palhares, Paulo Terra, Mozart Novaes, Fabio Guimarães, Padre José Maria Xavier, Roberto Sade, Maestro Pedro de Souza, Major Bidart, Belizário Leite e tantos outros; esta celeremente caminhando para a lama escatológica dessa falsa democracia que, hipocritamente, esta patrocinando a libertinagem da massa popular como meio de compensar a ignorância e a subserviência que lhe impõe.
Onde estão nossos intelectuais? Quem estamos preparando para, no futuro, fazer jus ao patrimônio que temos a obrigação de transmitir às gerações vindouras? Quem serão os que continuarão acrescentando páginas honrosas à nossa história? Elementos da turba oprimida de onde emergem os assassinos e facínoras que andam assombrando, com sua peculiar violência, nossas noites e até dias, outrora tranqüilos, ou da elite cibernética, que de ética humanística não entende nem de dar bom dia?
Hoje estamos reduzidos a poeira da cauda do cometa Tiradentes, um mero distrito, há algumas décadas. E o pior é que estamos conformados com nossa elegante decadência. Só nos falta agora perder o glamour nacional. Isso ficará por conta do esgoto a céu aberto, dos terrenos baldios e sem tapume, ruas mal conservadas, esburacadas e cheias de mato.
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