Certamente os muito jovens não se lembrem do vampiro brasileiro. Uma personagem que o genial comediante Chico Anísio criou, para parodiar o brasileiro ignorante, pobre, desnutrido, maltrapilho, descalço e, como não poderia deixar de ser, desdentado.
Calculo que não exista ninguém que nunca tenha assistido a um filme de vampiros. Aqueles personagens soturnos, fortes e astutos, vestidos com longas capas pretas, brancos que nem cera e exibindo no sorriso, cheio de sarcasmo, longas presas, que, obviamente, serviam para sugar o sangue das vítimas indefesas. O parente brasileiro, no entanto, além de desdentado, era muito fraquinho, medroso e burro. Vivia falando asneiras e nunca saia à noite. Era um quadro bastante engraçado em que Chico Anísio misturava de tudo, desde casos de política, de polícia e economia a escândalos, como também toda sorte de assunto triste ou alegre, não importava; desde que fosse tema da vida nacional, era lembrado. Algo mais ou menos parecido com o “Casseta e Planeta”.
Curioso, foi que a recente polêmica criada em torno da ida do astronauta brasileiro ao espaço, me fez lembrar do vampiro brasileiro. Minimamente a sonância é a mesma. Ou talvez, nem tanto pela sonância, mas pela semelhança das aberrações contidas nos dois casos. O problema é que, segundo a nossa comunidade científica – quando me refiro à comunidade científica brasileira, não estou me referindo aos cientistas políticos ou aos que misturam as duas coisas, mas sim àqueles profissionais sérios, que imbuídos por um esforço hercúleo ainda conseguem produzir ciência de ponta num país que não lhes dá a importância que já deveria estar dando há muito tempo – a ida de Marcos Pontes ao espaço foi uma aventura inócua em termos de ciência. O Brasil pagou dez milhões de dólares para massagear o eco nacional e, talvez, o mais importante, para imbuir a juventude ao estudo. Os experimentos científicos que ele realizou por lá não tiveram a monta equivalente àquela montanha de dinheiro público e a maior prova disso é que teve que pagar, assim como também pagou um milionário americano que não tinha nada a oferecer, nem onde por seu dinheiro. O astronauta brasileiro não pagaria, se tivesse realizado, a bordo, alguma pesquisa científica de alto interesse para a humanidade. Nessa afirmativa embasam-se os cientistas brasileiros, para criticar a aventura esdrúxula pois essa é a regra vigente. Se tivessem à disposição metade daquele dinheirão, poderiam estar desenvolvendo aqui pesquisas muito mais importantes que aquelas realizadas lá. Pesquisas essas que, estão aguardando verba há tempo, mas que certamente não teriam nem a ribalta espacial, nem os holofotes cinematográficos da mídia.
Marcos Pontes, um tenente coronel da Aeronáutica simpático, com aquele seu “sorriso colgate”, obviamente tem seus méritos. Não é qualquer um que chega aonde chegou. Ele deve ser no mínimo um poliglota e ter uma saúde invejável, que certamente poucos vampiros brasileiros têm. Que maravilha seria, se nossos estudantes seguissem seu exemplo e também se nossos governos dessem aos jovens vampiros brasileiros as oportunidades que ele teve na sua infância. Garanto que já teríamos ultrapassado a fase de simples caroneiros espaciais e nossos vampiros estariam todos gordos e com suas presas intactas e os PPPDs (PARTIDOS DOS PILANTRAS PRÁ DEDEU), por sua vez, não teriam mais vez.
Ainda, como se não bastasse tanta perda de tempo e dinheiro, temos que aquentar os ufanistas manipulados compararem a aventura do vampiro astronauta brasileiro com o feito de Alberto Santos Dumot. Este sim, foi um precursor, o homem que deu início a uma era e que sem nenhum crédito ou qualquer apoio do estado brasileiro foi pedir acolhida na França, a fim de colocar em prática seu sonho real. Marcos Pontes é apenas um brasileiro embarcado em dez milhões de dólares e seu nome, certamente irá para a história do Brasil e também das agências espaciais como o centésimo qüinquagésimo quinto homem a fazer a mesma coisa, porém sem ter criado absolutamente nada.
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