A filosofia neoliberal associada a alta tecnologia, trouxe consigo uma série de mazelas, dentre elas o desemprego em massa principalmente nos países do terceiro mundo, onde a capacidade de reciclagem intelectual e a conseqüente exclusão tecnológica – compreendendo aí a exclusão digital - acelerou o processo de empobrecimento, incrementando a violência social, fuga de imigrantes ilegais em busca de oportunidades no primeiro mundo, aliciamento ao uso e ao tráfico de drogas, incremento do contrabando e da pirataria industrial. Ou seja, esse caldeirão fervente está contido naquela outra mazela chama “informalidade” que hoje, só no Brasil, comporta a bagatela de aproximadamente quarenta milhões de pessoas trabalhando sem carteira assinada e, portanto sem direito a aposentadoria e pior, deixando de recolher aos cofres da previdência social moribunda brasileira além de transitar à margem dos controles da receita federal.
Essa legião mambembe é o contra peso que impede o Brasil de decolar definitivamente ao patamar das nações mais desenvolvidas do mundo. Quase um quinto da população brasileira ou o equivalente a quase duas Argentinas vivendo à margem do que poderíamos chamar de sociedade civilizada. Diante da gigantesca dívida social e da cobrança internacional o governo vem tentando amenizar o problema, como sempre, com medidas paliativas de caráter assistencialista recheadas de discursos fantasiosos enfeitados com índices estatísticos mascarados. Noutra palavra: mentirosos. Só no item educação, por exemplo, o mais importante em termos estratégicos, o Brasil aponta índices decrescentes em termos de evasão escolar, repetência e maior inclusão escolar; entretanto esconde do mundo a vertiginosa queda da qualidade do ensino, por sua vez, uma realidade implícita e muito mais difícil de comprovar. Fenômeno registrado exatamente nas escolas públicas onde esta matriculada 99% da massa de aprendizes desse nível social.
Há alguns anos o governo FHC, na crença de que a oferta de escola de qualidade para todos era o caminho mais importante para inclusão social, resolveu acender uma luz na escuridão e criou o projeto “TV ESCOLA”. Boa idéia, cuja essência era melhorar a qualidade do ensino público com a abordagem sistemática de temas transversais inerentes à realidade do Brasil e do mundo, como também enriquecer o conteúdo do currículo básico com abordagens modernas e mais técnicas e de quebra reciclar o corpo docente. O projeto, apesar de apresentar boa qualidade e ter custado muito dinheiro público, não vingou tendo servido apenas para dar ganho aos fabricantes e vendedores de aparelhos de tv, videocassete e parabólicas, além dos produtores de curtas metragens e agências de propaganda. No presente, grande parte da parafernália adquirida está obsoleta e quando não esta servindo para pouso de poeira, esta danificada pela falta de manutenção ou, até mesmo, foi roubada.
Hoje o governo volta à carga através do seu Ministério das Telecomunicações, graças à alta tecnologia, viabilizando o projeto “CIDADES DIGITAIS”. A idéia não nasceu aqui e já foi implantada em muitos países do primeiro mundo há mais de uma década. No Brasil o projeto vem acanhadamente sendo testado com sucesso estrondoso em algumas cidades do interior, desde 2001. A idéia básica, para países do terceiro mundo é promover a inclusão digital através da disponibilização de banda larga em alta velocidade às comunidades carentes através de transmissão sem fio – sistema definido como wireless. E a maior vantagem é que prefeituras de pequenas cidades com investimentos relativamente baixos podem oferecer à população o serviço, independentemente da boa vontade política e da burocracia governamentais e ainda livres do controle técnico, político e econômico das operadoras de telecom.
As vantagens operacionais são vastas: acesso a Internet sem fio para os cidadãos, polícia, bombeiros, órgãos da prefeitura, atendimento de saúde, serviços de emergência, atendimento social ao cidadão, recolhimento volante de impostos, otimização do turismo, inclusão digital de comunidades e escolas carentes, bibliotecas volantes, criação de lan houses públicas para pesquisa escolar sem custo, monitoração de segurança através de câmeras sem fio, comunicação de voz, etc.
Talvez seja porque tal governador tenha se esquecido que o título nos foi conferido pelos méritos dos nossos antepassados e que devemos cuidar desse legado nos lembrando da responsabilidade com o futuro e a conceituação contemporânea de cultura não caminha apartada da inclusão digital ao alcance de, pelo menos, quase todos.
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