Conforme de costume e, portanto não é surpresa para ninguém, somos o povo que mais desperdiça no mundo. Certamente a terra prodigiosa seja a maior responsável pela nossa folgança nos gastos. Calcula-se que aproximadamente vinte e cinco por cento de tudo que se produz no Brasil flui fora dos canais normais de serviço e se esvaem diretamente para o lixo. E o pior de tudo é que mesmo esnobando um índice de miserabilidade que assola quase vinte e cinco por cento de nossa população, ou seja, um contingente de quarenta e cinco milhões de pessoas, ainda assim, continuamos insensíveis ao problema.
Soluções existem, todavia como tudo mais, este é um problema de carência de educação. Educação gera conscientização que por sua vez gera organização e que por sua vez gera racionalização. A sociedade estará, portanto livre do desperdício e apta a aproveitar bem seus recursos somente quando estiver em condições de se equilibrar sobre esse tripé. Poderíamos chamá-lo, se quisermos, com toda liberdade, de tripé da prosperidade.
Todavia de uns anos para cá, especialmente depois de Color de Mello, os governos resolveram tomar algumas providências no sentido de se organizarem no campo da arrecadação de impostos. Afiam as garras do leão a cada ano e têm conseguindo bater recordes de faturamento. Entretanto grande parte desse recurso serve apenas para manter alta a liquidez do tesouro, pois o governo precisa honrar seus contratos com o FMI e a outra se perde pelos descaminhos da desracionalização de gastos. Enquanto isso, calcula-se que o Brasil, só para recuperar, reorganizar e modernizar sua infra-estrutura de serviços públicos, tais como rodovias, portos, aeroportos, sistema educacional, sistema de saúde e outros, necessitaria, por baixo, da extraordinária soma de 200 bilhões de reais, que convertida se transformaria em algo em torno de 100 bilhões de dólares.
Infelizmente, enquanto isso não acontece, o governo vai dando seus tiros eleitoreiros, que, de vez em sempre saem pela culatra. Aí não se trata de falta de educação, pois isso é o que nossos governantes têm de sobra, mas de falta de nacionalismo, de caráter ou até mesmo e, por que não dizer, de vergonha na cara. Vejamos o caso do SIVAM – SISTEMA DE VIGILÂNCIA DA AMAZÔNIA – criado com vistas à vigilância e proteção daquela região. Segundo os negociadores do governo, se uma mosca ousasse sobrevoar o território, seria logo percebida, abordada e, em não se identificando, abatida. Estavam visando as rotas clandestinas do tráfico de armas e drogas, como também os devastadores da mata com sua exploração desenfreada, clandestina e, portanto prejudicial à natureza e aos cofres públicos. O sistema ainda seria proveitoso na fiscalização das queimadas, dos assentamentos ilegais, na guarda das fronteiras contra algum invasor alienígena ou, quem sabe, até contra os piratas japoneses, europeus e americanos à procura dos segredos e das mesinhas indígenas que aqueles habitantes tão bem entendem.
Foi vencedora na concorrência internacional uma empresa americana. Imaginem que deram a chave do galinheiro para o lobo e ainda pagaram pela iminente mordida 2 bilhões de dólares. A comunidade científica nacional ficou por aí a ver navios e alguns cientistas brasileiros chegaram a declarar que com a metade dessa importância o sistema poderia ter sido desenvolvido aqui mesmo. Verdade ou não a única coisa que se sabe é que tudo no Brasil é possível, desde que não seja para funcionar bem. O impossível quase sempre fica para os acertos.
Depois de cinco ou seis anos a única certeza que se tem sobre aquele maravilhoso sistema é que os dois bilhões se foram, porque o resto!... Resto? Será que sobrará alguma coisa? O tráfico continua a todo vapor. Armas estão entrando como nunca e prova clara é o alto poder de fogo dos bandidos. Milhares de árvores centenárias morrem a cada instante. Piratas circulam de norte a sul como querem apoiados por seus governos e/ou suas potentes empresas transnacionais. O que mais precisa acontecer para provar que o S I V A M melou e foi mais um conto do vigário pra cima do contribuinte.
Tudo se configura num absurdo tão insano que nos obriga a desconfiar que por detrás dessa cortina haja fumaça. Não estaria o governo brasileiro conivente com aquela destruição? Talvez a inteligência brasileira veja naquilo tudo uma forma, ainda que canhestra, de colonização e de integração do território a custo zero. É claro que me refiro ao custo financeiro, porque, se este absurdo for mesmo verdadeiro, poderão estar inviabilizando a vida na terra.
O Brasil, entretanto, esta numa difícil sinuca. Se aquele é um patrimônio de interesse mundial, não seria justo que toda a comunidade internacional compartilhasse do esforço para fiscalizar, manter e preservar aquele eco-sistema? O problema é que essa via é muito perigosa, pois enfraquece a soberania brasileira sobre a região. O Brasil certamente tem o dever ético de preservar o eco-sistema, mesmo considerando-se que outros países que estiveram na mesma situação, no passado, não o fizeram. Contudo não pode, de forma alguma, permitir parcerias na exploração das reservas estratégicas lá existentes. Todavia, a pressão internacional tende a crescer, principalmente à medida que as reservas de água doce do mundo se extinguem. Enquanto isso, quais providências a sociedade brasileira, através dos seus políticos falastrões está tomando? Que eu saiba, nenhuma. O S I V A M não fiscaliza nada, não abateu nenhuma aeronave, não impediu nenhum desmatamento. Se o fez, foi em pequena escala, muito aquém do nível de ação para a qual foi projetado e da qual o Brasil precisa. Nossas forças armadas, conforme não é segredo para ninguém, estão quase inoperantes pela redução drástica do orçamento. E qual seria o orçamento necessário para manter um aparato capaz de resguardar aquela região praticamente desabitada, que responde por quase a metade do território nacional?
Se respostas a essas perguntas não existem, há duas conclusões lógicas a se tirar. A destruição da Amazônia está a serviço do Brasil e configura-se na nossa única saída para se preservar a integridade do território nacional ou, do contrário, perderemos a jurisdição sobre aquela região ainda neste século.
Engraçado, por um instante tive a impressão de ter perdido o fio da meada. Comecei falando sobre desperdício e terminei falando em segurança nacional. Bom, tendo me perdido ou não, a verdade é que perder tempo, verbo, confiabilidade, soberania; também são formas muito sérias de desperdício.
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