A grande conquista da sociedade brasileira, fruto de lento processo de amadurecimento e sonho, quase utópico, de dezenas de gerações antepassadas vem sendo seriamente ameaçado exatamente pelas instituições responsáveis em lhe prover do respaldo necessário para seu permanente desenvolvimento e definitiva sedimentação.
Cada dia os noticiários nos deixam perplexos pelos desvarios das autoridades que não têm, ao menos, nos dado tempo de deglutir um escândalo e logo vêm outros e outros numa sucessão de intermináveis sustos, interrogações e exclamações. A cada dia nos dão mais certeza de que as instituições estão minadas por uma filosofia própria de grotescos estelionatários tão somente preocupados com lucros fáceis, com o enriquecimento a qualquer custo, sem mínima medida de conseqüência. Até quando a Polícia Federal terá tempo e homens disponíveis para investigar, para instaurar novos inquéritos, para escutar diálogos fortuitos de engendramento de novos golpes aqui e acolá?
Este estado de coisas tem nos tornado neuróticos, vítimas da desagradável sensação de não poder mais confiar na nossa própria sombra. Homens que devem ser guardiões da probidade e defensores do equilíbrio nas relações se associando àqueles que sabidamente vivem do charlatanismo e da traficância é um fenômeno de alta gravidade, pois coloca a sociedade em xeque mate. Afinal de contas, teoricamente, não se pode esperar nada daqueles que não tiveram educação formal e aperfeiçoamento humano; mas e quando aqueles que desfrutaram de todas as oportunidades do mundo, ocupam altos escalões, nobres funções e ganham os salários mais altos que a sociedade oferece, sucumbem à tentação do enriquecimento ilícito próprio dos piores escroques oriundos de meios sociais geralmente desestruturados; qual procedimento adotar? É justo o beneficio do foro privilegiado para estes mais lúcidos, dos quais a sociedade tudo espera, pois os revestiu de grande poder e responsabilidade? Penso que sim, desde que não façam do instrumento um escondedouro de desregramentos. O foro privilegiado torna-se útil, quando na defesa da integridade moral e pessoal do indivíduo revestido de autoridade. Todavia, desde que no exercício de autoridade criminosa dever-se-ia punir-se com rigor proporcional à importância da função.
Nós, cidadãos comuns estamos amedrontados e apreensivos, pois nossas consciências de cidadãos livres estão nos perguntando e não podemos nos responder: será que nossas instituições minadas terão capacidade e lucidez para cortar na própria carne ou falarão mais alto o corporativismo e o lobbysmo? Se prevalecer a segunda opção estaremos fritos, pois nossa democracia durará até o dia que um espertalhão apareça, ganhe nossa confiança e depois nos imprima uma ditadurazinha nos moldes daquela da Venezuela.
Quando a sociedade pós-ditadura execrou a censura o fez baseada na velha justificativa: "Quem censurará os censores?" Agora se encontra na mesma encruzilhada diante da mesma dúvida: quem julgará os juizes? A diferença é que da censura abelhuda e ditatorial a sociedade moderna e democrática não necessita mais, contudo da justiça funcional, íntegra, equilibrada e guardiã do direito nas relações sempre precisará.
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