Outro dia, trocando de canal a procura de algo mais interessante que a novela das oito, tive o desprazer de assistir a uma reportagem cujo tema abordava o estado lamentável das escolas brasileiras. Assunto também abordado pelo jornal nacional há alguns dias o qual mostrou escolas funcionando em choupanas de palha sem portas, janelas, nem eletricidade; debaixo de árvores, no quarto da casa da professora. Felizmente não filmaram o banheiro, que certamente funcionava na moita da bananeira.
A situação é tão trágica que dá prá rir e chorar. E o pior é que, o grande perigo dessa situação de calamidade mostrará sua face mais sórdida no futuro. O que será da juventude tratada com tal descaso? O que será do país que abriga jovens marcados para serem escravos da ignorância e dessas elites burras que não enxergam além do próprio umbigo?
Bom! Será um pouco pior do que o caos que já se vive no presente. Mas ninguém está preocupado com isso, pois quem foi eleito para resolver os problemas da sociedade está exacerbado com seus próprios problemas. As eleições não tardam e o que dá voto é demagogia. Por outro lado, a sociedade que deveria fiscalizar já se cansou de ouvir falar nisso toda hora. Em suma: o desrespeito com o futuro do país já está banalizado. Já nos acostumamos. Não adianta mesmo falar mais nada!...
Infelizmente isso é música para os ouvidos dos irresponsáveis que nos governam. Mas é preciso ter cuidado, porque a sociedade que perdeu a capacidade de se indignar perdeu também seu rumo, sua identidade; denotando alto grau de imaturidade social e despreparo para o exercício da plena cidadania. Ou seja: vive-se um falso estado democrático à sombra de uma sutil ditadura onde manda quem pode mais e obedece quem nada reivindica por absoluta inércia cívica. Os inertes cívicos de agora e do futuro são aqueles alunos formados nas choupanas sem janelas e telhados ou mesmo em tantas outras escolas urbanas que erguem obrigatória e demagogicamente a faixa “escola para todos”.
Antigamente a boa escola pública, onde se formaram os grandes nomes da nossa história, que, na sua grande maioria, não eram oriundos de famílias abastadas, segundo os reformistas de plantão, era elitista e por isso a necessidade de democratizá-la. Até aí tudo bem, não fosse a má fé daqueles que pensam que tudo que é para todos deve não prestar para nada. Portanto, hoje a segregação educacional continua a mesma de antigamente, porque a boa escola continua para alguns que podem pagar. Criaram duas faces para a escola: a escola empresa que educa bem, mas formalmente, quase sempre desprezando a educação humanística e a escola filantrópica, que tudo tolera dos marginalizados, a fim de lhes compensar dos infortúnios que a própria sociedade lhes impinge.
Mas o Brasil parece mesmo destinado a perpetuar-se como o circo dos absurdos. Numa dessas escolas democráticas e “para todos” houve uma infestação de pombos. Para quem não os conhece posso lhes apresentar como aquelas aves urbanas, que se empoleiram nas fachadas e telhados, fazem ninhos por todos os lados, são proficientes reprodutores, transmitem número incontável de micróbios inclusive o da leptospirose. Essas aves simpáticas resolveram aninhar-se num prédio escolar e se meteram até dentro das salas de aulas, infestando de piolhos e marchetando de cocô cabeças, mesas, carteiras e tudo. Logo houve uma epidemia de alergias de toda ordem aumentando por demais o número de faltas e prejudicando o desenvolvimento dos trabalhos escolares. A diretora achou por bem promover uma chacina na cidadela das aves. Para tanto convocou uma reunião do conselho escolar, a fim de receber um aval que a eximisse de fortuitas dores de consciência e maiores responsabilidades. O departamento de zoonoses da secretaria de saúde foi consultado sobre a melhor forma de eliminar o exército alado. Este, também não se sentindo à vontade para decretar a pena capital passou a bola para o IBAMA, que do alto do seu trono máximo decretou o veredicto final: “as aves não podem ser eliminadas, devem sim ser removidas”. E a nossa “escola para todos” então, não tendo outra saída, resolveu matricular os pombos para o próximo ano letivo.
Diante desse expressivo cuidado do IBAMA, fiquei deveras preocupado. Outro dia lá em casa andou aparecendo uns ratinhos. Será que aquele órgão tão cuidadoso com os animaizinhos, faria objeção a uma ratoeira daquelas de esmagar a cabeça ou decretaria também a remoção dos larápios? Talvez se lembrem de me mandar adotar um gato! Acho que vou arriscar a primeira opção desde que não espalhem a minha sinistra decisão.
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