Parece que ainda influenciado pela tradição colonial, época em que dependia da metrópole para tudo e não possuía cultura sedimentada, o povo brasileiro tende a valorizar tudo que vem de fora. Se o produto tiver aquela frase “made in qualquer lugar”, certamente é melhor que o nacional. É fato que não temos “Know how” suficiente para concorrer com países de alta tradição industrial, todavia precisamos também lembrar que nossa indústria já saiu da fase pré-industrialização há muito tempo e que, além do mais, quando se consome um produto nacional estamos fomentando a criação de postos de trabalho aqui. Claramente falta-nos o que poderíamos chamar de cumplicidade com a terra ou até mesmo carinho e gentileza. Algo parecido com aquele sentimento que nos permeia quando a seleção brasileira ganha ou, até mesmo, perde um clássico. Repentinamente somos acometidos por um sentimento cívico coletivo de alegria ou consternação.
Para ilustrar melhor esse sentimento de baixa estima há o bom exemplo de brasileiros, que viajando pelo mundo civilizado, obedecem às rígidas normas sociais lá instituídas com facilidade e que, no entanto, têm dificuldade de acatar e se submeter à legalidade aqui. Além do mais, são ferrenhos críticos do que chamam de “provincianismo brasileiro” com seu coronelismo paternalista e sua alta tolerância; o que normalmente chamamos de “baguncinha organizada”, entretanto perdem todas as oportunidades de cooperar com o progresso da nossa civilidade.
Há alguns anos atrás, numa viagem aos Estados Unidos, impressionou-me a quantidade de bandeiras hasteadas nos frontais das residências. Os americanos exibem sua bandeira em todo lugar com um orgulho que avizinha-se às raias do fanatismo. Vi brasileiros elogiarem o costume, no entanto, não se dignam a fazer o mesmo com nossos valores. Conheci ainda uma pequena cidade do interior, onde havia dois heróis de guerra. Um morrera na guerra do Vietnã, enquanto o outro na primeira guerra com o Iraque e por coincidência ambos eram avô e neto. A cidade se sentia tão honrada que mandou erguer um monumento em homenagem aos dois heróis e as pessoas como voluntárias cuidavam da conservação do local diuturnamente, inclusive mantendo uma pira acesa e depositando flores. Com dois detalhes a destacar: as despesas não corriam por conta do erário público e nunca vi flores murchas no local. A prefeitura apenas arcou com as despesas da construção pressionada por um plebiscito realizado na cidade. E não é só lá. O esmero é o mesmo em países da Europa, que mantêm seus monumentos em impecável estado de conservação. Na Rússia tocam um refrão do hino nacional todas as manhãs para que a população guarde na lembrança os ideais que um dia enlevaram a vida dos seus bravos.
Em contrapartida o que vemos aqui no Brasil é um abandono total. São raros os logradouros públicos que ostentam um monumento onde o mesmo esteja incólume à ação do tempo, dos pombos e pardais. Em alguns, além das ratazanas, pode-se encontrar também alguns brasileiros maltrapilhos, esquálidos e esfomeados dormindo como anjos. Um odor acre paira no ar e nos faz lembrar aquela adjetivação surreal que um idiota de escol inventou para qualificá-los: “são os descamisados e pés descalços”.
Infelizmente até em São João Del-Rei , esta terra da qual tanto nos orgulhamos, que Paulo Terra soube tão bem se referir no seu poema “SÃO JOÃO DEL-REI”, das igrejas centenárias, do repicar dos sinos, do lenheiro apressado, do apito da Maria Fumaça, dos musicais e orquestras, do Batalhão Tiradentes; terra que nossos antepassados nos legaram com sagrado orgulho, vemos o monumento aos pracinhas soçobrando na poeira, na macega, na ferrugem do gradeado, nas depressões do piso, na ausência da sentinela que discretamente emprestava sua imagem a cada um daqueles heróis que tombaram pela liberdade e cujos nomes ali jazem no mármore indestrutível da história. Esta é uma situação inaceitável e conclamamos a sociedade sanjoanense, através de seu Instituto Histórico e Geográfico, a tomar providências urgentes, no sentido de chamar a autoridade competente, atenção especial para com aquele panteão. Nós brasileiros estamos sovados dessas humilhações que nos impingem a cada dia. Estamos cansados dos desavergonhados casos de política suja, de ostentarmos os últimos lugares no hanking dos mais pobres, dos que mais devem, dos menos letrados, dos menos tudo.
Aproveito ainda o ensejo para lembrar o Instituto Histórico de que no mesmo memorando que abordar o assunto “Monumento aos Pracinhas”, mesmo porque se trata do mesmo destinatário, inclua também um adendo sobre o estado lamentável daquele zoneamento militar da Av. Oito de Dezembro. Lembramos que é costume quase centenário vermos aquelas sarjetas balizadas, o mato aparado, o muro da praça de esportes e as paredes pintadas de azul e branco impecáveis. Afinal de contas o Batalhão Tiradentes também é um monumento vivo que herdamos com muito orgulho e que queremos legar aos nossos menores para que os futuros livros de nossa história não fiquem recheados de páginas brancas ou quem sabe, lamentavelmente turvados das nossas vergonhas.
O Batalhão Tiradentes é uma unidade de elite do exército brasileiro em vista dos importantes serviços prestados pelos seus bravos na segunda guerra, como também de vanguarda pela sua alta capacidade de adestramento e adaptação aos novos desafios, sempre à frente, quando se trata da preservação da imagem e da integridade do Brasil. Com orgulho, guarda em seus anais a condição de primeira unidade do exército brasileiro a se dedicar à prática do montanhismo, atividade considerada de alta importância estratégica nos tempos modernos. Todavia, se fossemos um povo de tradição nacionalista, deveríamos já ter compreendido que sua importância para o futuro, num mundo onde o espaço físico e os recursos naturais ficam cada vez mais exíguos, é igual ou, talvez, maior que a do passado e, se quisermos que este país se mantenha íntegro para nossos descendentes, é necessário que, desde já, comecemos a investir em nossas forças armadas.
Estão, portanto, equivocados os janotas neoliberais e antinacionalistas que apostam no seu enfraquecimento e incutem na mentalidade nacional a necessidade de sucateá-las, pois não conseguem enxergar a necessidade de mantê-las aparelhadas, modernizadas e aptas a enfrentar as vindouras conturbações do futuro. Entretanto, acredito que o estado de espírito forte e positivo ao qual me refiro é algo de natureza endógena, um valor que deve brotar primeiramente no âmago da força, no comprometimento dos homens que a compõem com o passado e com o futuro. Que continuem acreditando como nunca na sua importância como guardiões do patrimônio nacional. Devem evitar, portanto se deixar contaminar pelas influências negativas que fustigam o espírito da sociedade brasileira começando por evitar que esses sinais de descaso com as relíquias do Brasil turvem a grandeza da sua responsabilidade e o brilho das conquistas dos nossos antepassados.
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