No inferno astral em que vivemos à sombra de atentados iminentes, recessão, corporativismo dissimulando corrupção, multidão enfurecida quebrando prefeitura e casa de prefeito "safado" - conforme aconteceu em Alfenas - tomara que a moda pegue - greves por todo lado, enchentes no norte e seca no sul, estado quebrado e impostos extorsivos; surge o exemplo edificante daquele médico que salvou a turista israelense atingida por um tiro que lhe trespassou o coração.
Pura sorte ou não, tiramos daí um belo exemplo de competência e profissionalismo na ação de um simples e desconhecido médico daquele rincão esquecido, ao qual nos referimos de maneira pejorativa toda vez que fazemos alusão ao seu povo e a sua miséria. Caso a "sortuda" tivesse morrido a vozearia seria geral: Ah; também lá no nordeste! Pois é! No nordeste sim! E ainda por cima em hospital público, daqueles que costumeiramente não há leitos suficientes, nem gaze, nem esparadrapo e que os médicos, obviamente, por lá estarem, são considerados incompetentes. Oh não! Oh sim. Apeemos da hipocrisia e de corações abertos reconheçamos ser essa mesmo a nossa pré-conceituação.
Que orgulho nacional aquele profissional, que se encontrava em seu local de trabalho mais cedo do que o previsto porque estava preocupado com o possível excesso de urgências carnavalescas. Tinha que entrar no plantão as quatro horas e chegou a meia noite. Salvou a turista no amor e na competência e ainda por cima deu um lustro na imagem rota do Brasil. "Vi que ela estava perdendo os sinais vitais e assim mesmo tentei tudo. Abri seu peito e massageei seu coração com a mão".
Ora! Ora! Façamos uma idéia de quantos casos urgentes, àquela mesma hora, chegaram a óbito ou deixaram seqüelas físicas e morais, porque os médicos não tiveram a mesma disposição temporal ou profissional, ou, por que não dizer: temporal e profissional, semelhante à daquele pé rapado do hospitalzinho público do nordeste. Com certeza há poucos brasileiros que não tenham uma história grotesca de desprezo, descaso, humilhação ou perdas irreparáveis protagonizadas por esses senhores paladinos da salvação e da vida. E sob juramento!
E, por favor, não me venham de dedo em riste. Não vistam a carapuça aqueles que forem capazes ou que, pelo menos, tenham tranqüila a consciência. Em tempo, no entanto, cabe aqui apropriada metáfora que nos redime da injustiça que seria atribuir, tão somente aos profissionais da saúde, o título de protagonistas únicos da mixórdia nacional. Conclamemos os médicos da política, da educação, da segurança, da justiça, da economia, enfim, todos aqueles responsáveis pela saúde dessa pobre Pátria moribunda. Amada?!
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