Há algumas semanas passadas a Rede Globo apresentou no Fantástico um especial sobre o trabalho informal no Brasil demonstrando que o problema é de calamidade pública pelas suas dimensões quase catastróficas. Segundo a reportagem, quarenta por cento dos trabalhadores funcionais estão trabalhando sem nenhum direito trabalhista, não recolhem à previdência social e, sem nenhuma perspectiva, devem envelhecer contando com a sorte. Por outra perspectiva são mais de quarenta milhões de pessoas, ou mais do que a população da Argentina e da Venezuela juntas, à margem dos direitos básicos que a constituição prevê para aqueles que tiveram direito à vida digna, quando nasceram no Brasil democrático. O pior é que no bojo dessa sinistra realidade esta a iminente insolvência da previdência social que registra cada vez menos ativos para manterem cada vez mais inativos.
Como se não bastassem tamanhas conseqüências traduzidas em criminalidade e distorções comportamentais e sociais de toda ordem, enquanto isso, o governo promete solucionar o problema com aquela velha pirotecnia verborrágica que sempre inclui o “temos que fazer...” ou o “já estamos providenciando...” Esses são chavões clássicos aplicados pelos surpreendidos, que apenas servem para se safar momentaneamente da pergunta incômoda e inesperada. Aparentemente, nem sabem o que fazer, conquanto estejam imobilizados pelo gigantismo do problema, ou pelo desconhecimento profundo da realidade, ou pelo descompromisso de um mero cargo político e passageiro assumido com a única finalidade do proveito próprio ou partidário provindo dos conchavos costurados, enquanto os contribuintes dormem o sono inocente na calada da noite.
Pode ser ainda que, conhecendo o problema receiem mexer num vespeiro antigo e complicado que tão somente traga desgaste político e dor de cabeça para os fins de semana ensolarados do Brasil “tropicaliente”. Ou será que estejam mesmo cumprindo aquelas premissas básicas do neoliberalismo que prevê cada vez menos interferência governamental, deixando que o mercado se regule e se autodepure? (Observando que mercado depurativo, nesse caso, significa legar aos mais fracos o lugar secundário que merecem).
Lula, quando em sua primeira campanha, talvez por desconhecer as “forças ocultas” ou para dar cores à utopia, prometeu criar, em quatro anos de governo, dez milhões de empregos e o povo acreditou porque supôs que ele conhecesse o caminho das pedras. Certamente seria um alento, entretanto o que temos visto com freqüência assustadora é a imigração de empresas para a China. Setores que tradicionalmente absorvem muita mão de obra tentando driblar a fome tributária, os altos custos financeiros (juros altos) e outros custos operacionais devido à logística nacional precária, transferindo-se para um país onde estes entraves praticamente não existem e lá, criando os tão sonhados e prometidos empregos, gerando impostos e arejando a economia concorrente.
Os setores que mais têm perdido empresas para aquele país são o calçadista, o têxtil e o de brinquedos. Pior é que parte dessa produção retorna ao Brasil para fazer concorrência com quem ainda permanece. Caso entrasse pelas vias legais, tudo bem. Entretanto, conforme todos sabem grande parte retorna com etiquetas de marcas chinesas via contrabando e a serviço da pirataria internacional.
Infelizmente assim funciona o mundo globalizado e neoliberal para quem não tem onde colocar o chapéu. Enquanto uns levam vantagens ilimitadas outros levam desvantagens ilimitadas. São distorções que geram desequilíbrios que, talvez, só mesmo disciplina, inteligência e patriotismo à chinesa possam resolver.
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