Pouco antes da triunfal abertura dos jogos Pan Americanos, aconteceu um fato que mexeu com nosso brio nacionalista. Um americano insolente e sem graça se atreveu a comparar o Brasil ao Congo. O atrevido teria afixado um cartaz logo na entrada da vila olímpica com a inscrição: “welcome to Congo”. Quando advertido de que aquela brincadeira foi desrespeitosa com o Brasil, ele desculpou-se dizendo que aqui estava tão quente que o fez lembrar do calor Congolês. A verdade é que com ou sem desculpa ele mereceu a expulsão por considerarem-no “persona non grata”.
Castigo oportuno. Como pode um país como o Brasil onde os maiores patrimônios são nacionalismo, organização, ordem e progresso, altos índices de desenvolvimento humano e tecnológico, alto poder aquisitivo, terra de políticos éticos; ser comparado ao Congo, aquele fim de mundo, quente prá cachorro, onde só tem miséria, calor, negritude, samba, desorganização, esgoto a céu aberto, gente morrendo à mingua sem assistência médica e, ainda por cima, ladroeira? Essas coisas nem de longe lembram o Brasil! ... Oh, fala sério! Diria o Bussunda.
Bom, então falando sério! Infelizmente aquele fato foi lamentável sob vários aspectos: primeiramente o desrespeito daquele idiota passaria despercebido se outros tão ou mais idiotas quanto ele tivessem pensado que nossa aversão à brincadeira seria também uma forma de desrespeito àquele pobre país. Qual a desonra em parecermos com o Congo? Somos um país onde vive grande parte dos negros do mundo tão brasileiros quanto quaisquer outros, sofredores, pobres por culpa da crueldade social sistêmica na qual vivemos. Em segundo lugar, não estamos em posição tão confortável com relação às misérias Congolesas. A começar pelos nossos vergonhosos índices de corrupção, falta de vergonha na cara, incompetência administrativa secular, capaz de legar ao Brasil um dos últimos e desonrosos lugares no ranking das nações que menos crescem no mundo sob o ponto de vista sócio-econômico. Estamos entre as quinze maiores economias do mundo e, em contrapartida, temos uma população de trinta milhões de brasileiros vivendo tão mal ou pior que os Congoleses. Em terceiro lugar, nunca podemos nos esquecer que nossos irmãos Congoleses não estão mal de vida exclusivamente por culpa própria a ponto de nos envergonhar da comparação, mas devem muito do seu desastre nacional à ação predatória dos colonizadores europeus (inclusive nossos vôvôs portugueses) americanos, russos; que lá estiveram, como sempre, desrespeitando sua cultura e seu patrimônio natural pela exploração predatória. Mais ou menos como aconteceu por aqui quase quatro séculos.
Antes que saiamos por aí exacerbando nossas vergonhas e enxotando estrangeiros falantes, seria bom que aprendêssemos respeitar nossos irmãos brasileiros, negros e brancos miseráveis, lhes oferecendo maiores chances ou que fossemos mais cuidadosos no cumprimento das leis, que fiscalizássemos mais eficientemente os políticos, que fossemos menos desidiosos com nossa infra-estrutura logística, que nossos velhos fossem mais respeitados e que nossas crianças merecessem melhor formação escolar; pois são a base do futuro.
Manifestações ufanistas dessa natureza jamais darão lustro à nossa imagem já tão enxovalhada perante o mundo. Podem sim, pelo contrário, parecerem ridículas, conquanto demonstrem certo despeito ou, por que não dizer, certa frustração de um povo que não está muito habituado a ver pautada sua ânsia de progresso em ações concretas, mas em discursos fantasiosos e falácias próprias dos estelionatários políticos nos moldes de muitos que conhecemos tão bem. Eles é que merecem ser enxotados dos seus poleiros.
Além do mais é bom lembrar que nossa pele morena tem mais a ver com herança genética do que com a ação do sol tropical. Que nossos ancestrais negros, dos quais se originaram tantos poetas, atores, cantores e atletas; nunca contribuíram para manchar a cultura e a imagem do Brasil e aos quais muito devemos, foram arrancados da sua terra sob grilhões e para cá vieram transformados em animais máquinas, a fim alavancar a economia, alimentar a ambição e enlevar a indolência da fidalguia branca portuguesa, esta sim, culpada da nossa triste similaridade com o Congo.
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