Certamente muitos de nós não tenhamos nos apercebido do quão profundo é o sentimento de sermos à imagem e semelhança de Deus. Confesso que demorei a entendê-lo e que o peso insondável da dúvida atormentou-me a consciência dolorosamente por muitos e longos anos. Seriam esses seres expugnáveis tão impuros, capazes de odiar, destruir, matar e desarmonizar; réplicas fieis de um Deus que Se sublimou no amor através do seu próprio sacrifício de humildade e de dor?
Ora, na lógica pobre de um jovem imaturo tudo não passava de uma balela, fruto da imaginação humana pródiga em tentar dar formas físicas às subjetividades, ainda que divinas; aquela espécie de mecanismo psíquico a que o homem se vale para criar mitos e usufruir da falsa sensação de controlador de todas as coisas.
No entanto, com o passar do tempo, auxiliado pela clarividência que nos proporciona a idade da razão, pude compreender, através do convívio com meu pai e sua inquebrantável determinação de honrar a verdade em prol do amor e da justiça aos mais fracos; que a pedra fundamental da existência humana é assemelhar-se a Deus pela solidariedade e doação de si próprio.
Carrego na lembrança os indeléveis momentos que ele se fazia parecer com Deus, quando ruborizava-se ao ouvir agradecimentos efusivos de ex-alunos, clientes ou mesmo de um ou outro qualquer beneficiado pela sua eterna e terna atenção.
Sua semelhança com Deus fazia-se notar através da conduta irrepreensível de um homem que acompanhou seus pais brandamente até o leito de morte e que jamais lhes desonrou o nome, o qual herdamos e que também aprendemos a honrar pela força do seu caráter e da sua moral cívica, a qual não relacionava-se à mentira, ao débito sem quitação, ao mimetismo político dos demagogos e falsários, ao adultério e nem muito menos ao proselitismo e ao pedantismo fútil cultivado pelos pobres de espírito.
Nos anais da história de sua vida não constam grandes obras materiais, invejável espólio, saldos monumentais, nem acervos, nem coleções raras. Com certeza, e posso atestar oportunidades várias não lhe faltaram, as quais delicada e energicamente rechaçava. Construiu sua vida como fruto do trabalho honesto, franco, produtivo, estóico; baseada na dinâmica cristã do “é dando que se recebe”.
Este homem, imagem de Deus, não perece. Sua lembrança vicejará nos corações dos amigos que o conheceram, nos dos que se beneficiaram da sua fiel atenção e nos nossos, a sua orgulhosa família. Até seus desafetos, com certeza, aqueles que não conseguiram demovê-lo de suas convicções nobres, serão obrigados a calar, pois passarão por mentirosos, caso neguem a verdade pública.
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