Carta em resposta à publicação intitulada “CHINA UM EXEMPLO DE DEMOCRACIA”
Sr. Giuseppe Tropi Somma:
Antes de tudo, devo lhe pedir desculpas pela liberdade e invasão de privacidade. Posso lhe garantir que não o fiz tão somente pela indignação diante do bombardeio de incontáveis fatos grotescos que o mundo moderno nos expõe a cada instante, mas, simplesmente, pela divulgação do seu endereço eletrônico ao pé do texto “CHINA UM EXEMPLO DE DEMOCRACIA” assinado pelo senhor e publicado na revista Costura Perfeita ano X . nº 47 – ed. janeiro/fevereiro 2009.
Caro amigo, se é que assim me permita tratá-lo, aprecio homens do seu calibre sempre preocupados com a dinâmica da vida moderna, tão cheia de predicados tecnológicos e, ao mesmo tempo, tão desprovida de moral, de ética e do salutar humanismo; há milênios recomendado para a conquista do mais sublime estado humano: a felicidade.
Acredito que progresso nenhum se justifique enquanto houver um só homem vivendo aguilhoado, esfomeado e desprovido de direitos básicos que lhe garantam dignidade. E é exatamente por aí que lhe impetro minha crítica. Como pode o senhor, homem bem informado e certamente conhecedor da histórica carnificina impingida pela ideologia maoísta a qual ainda hoje inspira as diretrizes dos governantes chineses, parabenizar de bom grado aquela revolução industrial revestida de belezas exteriores, mas que escamoteia mãos sujas de sangue e joga para baixo do tapete o lixo da miséria secular em que ainda vive a maioria dos seus cidadãos?
Obviamente esta coberto de razão ao criticar as democracias ocidentais pelo seu descaso histórico com os menos favorecidos e ainda por acusar nossa falta de competitividade comercial pelos entraves tributários, pelo sufocante paternalismo trabalhista e, mais recentemente, pelos retumbantes gastos governamentais com o populismo assistencialista promotor da dependência, da ignorância e da passividade em troca de polpudos lucros e votos. Nessas condições é mesmo impossível competir com quem quer que seja muito menos com um país como a China, que não garante, nem direitos trabalhistas, nem quaisquer outros.
A alcunha capitalista chinesa carrega em seu bojo a mesma face desafiadora e contraditória que sempre caracterizou as relações políticas do estado chinês com o resto do mundo. Como bom exemplo cito a supressão de milhares de empregos ao derredor do mundo – fato já mencionado pelo senhor – na esteira de salários aviltantes da ordem de menos de US$ 20,00 (vinte dólares) por mês; na prática da baixa qualidade industrial; no incentivo e patrocínio à pirataria predatória, criminosa e antiética; na destruição da natureza pelo uso de combustíveis fósseis de alto poder poluente e na perduração da falta de negociações políticas que resultem em verdadeiras conquistas democráticas.
Os comunistas chineses e sua política modernizadora estão praticando a brincadeira do gato e da onça. O dia que o gato lhe ensinou todos os seus saltos foi comido. Assim também acontecerá com o capitalismo, seus investidores e tecnocratas que fazem vista grossa à tendência carnívora daquele regime. Estão robustecendo um país que detém uma das maiores extensões territoriais do globo, mantém o maior exército do mundo em tempo de paz, possui arsenal nuclear e claramente apóia e pratica políticas dominatórias, terroristas e expansionistas.
Vejo um grande contra-senso em certas políticas. Observe que os Estados Unidos, que se dizem guardiões da liberdade, carro chefe da economia e do capitalismo mundiais, foram à guerra com o Iraque porque temiam seus supostos arsenais químicos. Combatem ferrenhamente o Irã e a Coréia do Norte pelas ameaças que podem constituir à segurança mundial; mas fingem ter a China sob controle, porque estão de olho no potencial do seu bilhão de consumidores. Estão domando um leão e devem mantê-lo sempre de barriga cheia, pois os bons domadores sabem que com fome feras podem enfrentar frágeis relhos.
Como é possível confiar em um regime totalitário intolerante ao diálogo e à diversidade de idéias, sendo que é exatamente nesse substrato que proliferaram as grandes conquistas humanas? O senhor, por exemplo, pelo seu encantamento com os chineses, segue a cartilha americana de brincar com feras sujas de sangue. Será que é só por causa dos bons lucros que tem proporcionado as relações comerciais da sua empresa com aquele país? Se for só por causa disso sua razão é pobre. Faça uma visita ao Nepal, informe-se quais sãos os métodos de dominação aplicados por lá e cuide-se, pois um dia poderá ser sua próxima vítima. E não adianta reclamar, porque, nem os chineses, nem o mundo lhe darão ouvidos. Chineses merecem, são bons de transa e de um grande mercado.
Se o senhor ainda não se deu conta, leia alguma coisa sobre a histórica revolução russa de 1917, cuja orientação comunista é semelhante à dos chineses, e confira o que aconteceu com os investidores e suas propriedades privadas. Quem nos garante que um dia os herméticos e insondáveis comandantes chineses não farão o mesmo? E quem poderá reagir se, pelas previsões, em pouco mais de vinte anos, serão donos da nação mais poderosa do planeta?
Lembro-lhe ainda que todos os grandes caudilhos, assassinos e facínoras que a humanidade conheceu, um dia entraram ovacionados pela porta da frente. Veja o caso da Alemanha Nazista, da Rússia Bolchevique, da Itália Fascista, de Cuba Castrista, do Iraque de Sadan, até da própria Coréia do Norte e de tantos outros menos conhecidos. Até quando a humanidade continuará repetindo esses erros grotescos?
Deus proteja os Estados Unidos da América; dos males o menor, o salve da recessão o quanto antes e abra os olhos dos amigos admiradores de chineses.
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