Há alguns meses este jornal publicou a crônica, também de minha autoria: BRASIL, CELEIRO DE CONTRAVENTORES. Pelo título emblemático não é difícil perceber a grande dose de indignação que permeia o coração de um brasileiro amante da sua terra e, por isso mesmo, preocupado com o caráter sistemático, até certo ponto banal que a prática de roubar vem sendo incorporada aos nossos costumes e, porque não reconhecer, também à nossa cultura.
Será possível que todos nós carregamos o traço hereditário capaz de nos fazer atropelar todos os preceitos éticos sempre que estivermos diante de eventuais oportunidades? O caráter interpelador da questão pode até parecer desrespeitoso, entretanto qual a outra conclusão a que se pode chegar diante do show que temos diariamente assistido, praticado, não por pessoas desclassificadas que não tiveram oportunidade as quais temos o costume de rotular como de segunda classe; mas por homens da mais alta estirpe, detentores de prerrogativas principescas, salários astronômicos e pose de baluartes da moral e dos bons costumes?
O cidadão comum no Brasil, transformou-se num palhaço diante do bombardeio diário de escândalos pipocando por toda parte. De um lado é espoliado sob um sistema tributário estrangulador e por outro estuprado por um bando de salafrários com eira, beira e muita cara de pau. Não respeitam nada e ninguém. Com que palavras conseguem explicar tanta picaretagem para seus familiares? Imaginem o filho reprovando o pai reitor:
- Eh papai da próxima vez, veja se pelo menos roube e agüente carregar.
E o outro questionando o pai juiz:
- Papai, por quanto você vendeu sua honorabilidade?
- Valeu nossa casa em Miami, filhinho!...
Contudo, para o cidadão comum, penso que pior ainda não é ver seu dinheiro extraviado, mas ter roubada sua confiança em seu próprio país. Como continuar vivendo, investindo, trabalhando, educando filhos, tendo esperança; numa sociedade de crápulas onde as punições na maioria das vezes são tênues, tendenciosas e facilmente dissipáveis diante do poder político-econômico, e de desculpas esfarrapadas e despidas da menor dose de lógica e bom senso? Este cidadão, diariamente assentado em seu sofá, é submetido a uma saraivada de sustos com os absurdos que vê e ouve; estupefato sente-se impotente, presa fácil diante do apetite voraz dos chacais da ilegalidade, confortavelmente estabelecidos em tronos que não lhes pertencem, mas que usufruem como se donos fossem. A verdadeira impressão que se tem é a de que “deu-se a louca no mundo”.
Nossos marginais engravatados são profícuos em ponderações que não se sustentam diante da menor investigação e ainda por cima propagam que tiveram as contas aprovadas por este ou aquele tribunal de contas, como que se estivessem diante de tribunais de idiotas que nada fazem além de corroborar erros crassos displicentemente premeditados.
O tal verbo “roubar” tem sido conjugado em todos os lugares, tempos e pessoas de forma tão descarada que ninguém mais acredita que possa existir alguém imune a sua contaminação. Outro dia, por incrível que pareça, ouvi alguém dizer a um velho aposentado pobremente, de forma incisiva e humilhante: - “Bem feito, a culpa da sua pobreza é sua. Quem mandou ser honesto a vida toda?” Aquele honesto pobre simplesmente chorou...
Mas felizmente, há sinais de luz nas trevas, quando parte da nossa juventude demonstra-se bem consciente e aparentemente ainda não foi contaminada pelo gene da roubalheira. Tenazmente enfrentou o paredão de desrespeito àquela academia brasiliense, com a bravura característica dos donos da razão. Tanta razão que ninguém se atreveu a arrancá-los de lá!
Honras ao mérito para aqueles intrépidos estudantes, imunes ao medo, certamente, por não estarem ainda submetidos às responsabilidades e pressões inerentes à vida adulta e profissional. Parabéns ao ministro da justiça que não permitiu que a truculência prevalecesse, a fim de acobertar os conluios de um dos ladrões da boa fé do povo brasileiro. Salva de palmas aos jovens promotores e ao Ministério Público que com uma simples nota fizeram lembrar o senhor reitor larápio que seu nome já constava na lista negra por outros crimes do mesmo teor, arrefecendo de uma vez por todas seu ânimo de assaltante oficial.
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