Diante das retumbantes vitórias do vôlei do Brasil mundo afora e da imagem quase ciclópica daqueles gigantes viris, bem treinados e alimentados, uma onda de euforia nos atravessa o coração revolvendo sentimentos recônditos de orgulho nacionalista. Outro dia a comentarista esportiva de um canal de TV, no auge emotivo de uma partida bem disputada, exclamou em alto e bom tom: “este é o Brasil que tanto nos orgulha!” Mas a meia verdade exclamada no calor da emoção destoou tanto e, quase como um tapa na cara do telespectador, exigiu imediata correção. Aí ela retificou: “o Brasil do vôlei!” Certamente o outro Brasil dos vales auríferos e matas verdejantes; obra assinada por ninguém aqui nascido ou eleito, também nos orgulhe! Mas infelizmente é só! Se é que nos sejam permitidos tantos Brasis imaginários, os com “s” ou com “z”, das belas mulheres; do samba e do carnaval; do futebol e da cerveja zero grau; a verdade é que outros Brasis: aqueles dos maus velhinhos picaretas e mentirosos; dos ladrões e caras de paus; da miséria material e intelectual; dos impostos escorchantes; da falta de respeito; do cinismo; da impunidade dos poderosos e das leis brandas e incipientes; da justiça desaparelhada, lenta e nababesca; da violência social sem precedentes e sem providências; da educação falida, dos professores pobres e submissos a sistemas políticos insensatos e autoritários; do puro assistencialismo, que dá o pão racionado, incentiva à malandragem e não se preocupa em ensinar a plantar o trigo. Este certamente é o Brasil verdadeiro, o Brasil nada varonil, pátria mãe hostil e predadora de fracos e indefesos.
Pátria Amada Brasil, refrão superficial, apenas enraizado nos Brasis esportivos e carnavalescos regados a cerveja e ornados por belas mulheres. Um Brasil de fantasias e sonhos utópicos incapaz de se sustentar diante da realidade do mundo tecnológico, de complexidades crescentes e altamente competitivo. Um país onde os maus velhinhos coronéis, cujas mentalidades tacanhas ainda guardam dos tempos coloniais a mania grotesca de se sentirem senhores de escravos montados em seus redutos de ignorantes e em seus corcéis engravatados, bem selados e bem nutridos por suculenta alfafa à custa da miséria dos seus paus mandados e eleitores desavisados; têm poderes para fazer de um presidente e de uma nação meros fantoches à mercê de seus conluios familiares, caprichos políticos, tráfego de influência e despotismo descarado e criminoso.
Pobre Brasil! Quanta pena tenho de você! Como gostaria vê-lo tão aguerrido quanto o do vôlei! Infelizmente seus filhos mais nobres não fazem jus a sua vocação de grandeza e o mantêm de joelhos para que lhes serva mais humildemente e ainda o classificam como “o país do futuro”, que nunca chegará, enquanto trabalharem para lhes garantir belo reinado numa mera e pobre república de eleitores bananas, que a tudo suportam de cabeça baixa, numa espécie de escravidão perpétua, vocacional e voluntária. Até quando o nosso “Gigante pela própria natureza” ficará adormecido, patinando no lamaçal hipócrita e dissimulado de seus governantes; embalado no confortável silêncio de um povo preparado para ser cego, surdo e mudo?
Vários grandes pensadores e filósofos de renome e reconhecimento histórico teorizaram sobre a fome incontrolável dos políticos de todas as eras, raças e nações. Até a genialidade de Eça de Queiroz comparou políticos com fraldas na sua célebre e apropriada frase, bem própria para o “Brasil do Futuro”: - “Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão”, numa alusão óbvia ao mau cheiro do meio onde costumam chafurdar seus grandes traseiros e focinhos perscrutadores.
Por outro lado, Maquiavel; símbolo onírico dos ditadores e caudilhos, que enunciou suas teses de chafurdação em tempos de trevas, quando o iluminismo ainda não havia clareado as mentes pensantes da humanidade e o estado democrático não existia, muito menos a imprensa, sua ferramenta fundamental; parece ser mesmo a fonte de inspiração dos nossos velhinhos atrozes. Graças a Deus, aqui, no “país do futuro”, ainda que as denúncias não alcancem a base da pirâmide devido ao ofuscamento dos cegos, a nossa imprensa tem obrigado os porcos tiranos e maquiavélicos a gruírem mais baixo e mais cuidadosamente. Quando nada, pelo menos lhes filma a carranca abelhuda e safada. Viva a democracia e o quarto poder; pelo menos este nos parece mais confiável! Abaixo o silêncio mordaz e os picaretas que defendem a censura à imprensa.
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