A confirmação de que o presente é concebido no alforje da história comprova-se no espírito de justiça e liberdade vicejante nos corações e mentes de alguns homens; semente lançada por aqueles inconfidentes loucos de amor pelo Brasil. Nem o enforcamento, nem o degredo, nem o sal que esterilizou as terras do Pombal foram capazes de livrar os ares dessas esquinas, ladeiras, vielas e travessas, nas quais fomos criados, do mesmo sentimento libertário, o qual, vira e mexe, acomete certos espíritos que nunca descansam enquanto não regam a planta tão cara denominada liberdade.
Foi nesse impulso incontido de justiça pela liberdade, pois ambas se completam, que nasceu a idéia da criação da Academia de Letras Jurídicas de Tiradentes e São João Del-Rei; cuja base foi lançada sob apoio da Academia de Letras desta última presidida pelo douto advogado e intelectual Wainer de Carvalho Ávila, em conjunção com a Fundação Oscar Araripe, encabeçada pelo advogado, intelectual e pintor Oscar Araripe. E foi também naquela fria e estrelada noite de gala no acolhimento carinhoso e romântico da casinha localizada nos entremeios da acidentada Rua da Câmara, embalada ao piano clássico do professor Abgar Tirado e do gênio de Franz Ventura, a nova revelação sanjoanense, que veio à luz a jovem Academia Jurídica; uma ponte de reatamento entre as duas cidades coirmãs originárias do mesmo berço histórico, mas que ao longo do tempo se distanciaram no embalo de interesses políticos e econômicos. Wainer e Oscar ainda puderam contar com o apoio, a tenacidade, o conhecimento e a parceria de outros três ilustres mensageiros da liberdade: os advogados José de Carvalho Teixeira, Carlos Felipe Romero Lagunilla e o juiz de direito Auro Aparecido Maia Andrade, que sem medir esforços, nem escolher hora deram corpo à ilustre comissão.
A partir de então nossas cidades terão guardiões sempre alertas debatendo democraticamente assuntos que selam interesses comuns numa luta perene para reverter o pernicioso e antidemocrático processo de distanciamento. Felizmente agora não mais necessitam reunir-se a portas fechadas, como apropriadamente lembrou o proeminente Juiz Auro Aparecido em seu discurso inaugural, pois o ideal libertário semeado pelo alferes Tiradentes e seus comparsas disseminou-se ainda que sob os ferros da Realeza de Portugal.
Exemplos do passado, repassados pelo filme intitulado História, chegaram então até nós graças a indivíduos desse quilate, conscientes e comprometidos com o ideal de liberdade e, sob nossa co-responsabilidade, deverão também pousar nas bibliotecas do futuro. A importância maior da Academia Jurídica de São João Del-Rei e Tiradentes esta aí fundamentada: fiscalizar os caudilhos, sejam financistas ou políticos; fortuitos perturbadores das liberdades do homem, os lembrando que o direito de ser livre é pétreo e por isso de nada adianta cercearem a natural trajetória humana rumo à liberdade, porque um dia, mesmo que passem séculos, ela triunfará assim como triunfou na noite dos homens livres; mais de duzentos e trinta anos pós-Inconfidência Mineira; aquela do dia vinte de junho do ano de dois mil e nove.
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