Desde os primórdios da humanidade um dos grandes desafios tem sido o transporte de pessoas e coisas e à medida que o progresso se acentuou também cresceu a necessidade da transmissão de informações. Os sistemas informativos lentamente se desenvolveram partindo dos contingentes de mensageiros e mais tarde dos correios e telégrafos à era dos satélites, viabilizando a comunicação instantânea com som, imagem, cor, transmissão de dados processados e em processamento; na esteira da grande broadband a qual se denominou “internet”. O imenso fluxo de informações indo e vindo em todas as direções encurtou distâncias, reduziu custos pelo aumento da produtividade nos processos operacionais e, além disso, vem influenciando o modus vivendi de milhares de comunidades remotas ao redor da terra, pela contaminação de costumes seculares invadidos por valores estranhos que lentamente vão sendo incorporados, de maneira tão implacável que o pluralismo cultural da humanidade lentamente cede lugar ao que se pode considerar uma espécie de cultura comum global.
Diante do dinamismo das artérias informativas e da necessidade da rápida adaptação das pessoas e nações, o mundo vem se transformando num meio velozmente mutante, privilegiando os mais ricos e, por isso mesmo, mais capazes de se adequar reunindo melhores condições de vencer num extrato social altamente competitivo. Neste espectro, surgem então as discrepâncias sociais notadamente em países do terceiro mundo, onde milhões de pessoas ainda vivem às margens do processo ou completamente alheias aos modernos sistemas cibernéticos de aculturação pessoal e comunitária; o que vai diretamente de encontro às liberdades democráticas, que prevêem acesso irrestrito à informação como forma importante de ascensão pessoal para o exercício e gozo da plena cidadania.
O governo brasileiro, mesmo no embalo da sua indefectível lentidão na solução de distorções estruturais, vem demonstrando interesse no problema e se mobiliza, a fim de fomentar a popularização do acesso à rede informativa através do barateamento de equipamentos, redução de juros e inserção de redes de sistemas nas escolas e locais públicos com acesso gratuito e ainda dando atenção especial ao programa “cidades digitais” que prevê instalação de sistemas sem fio (wire less) em pequenas cidades do interior a baixo custo, aonde ainda não houve interesse das grandes companhias de telecomunicações.
Os esforços estão rendendo frutos e rapidamente o grande número de novos usuários esta projetando o Brasil no grupo das nações que mais interagem na rede informativa. Entretanto a outra face da moeda não é tão lustrosa quanto parece, pois grandes grupos comerciais se aproveitam da liberdade proporcionada pela privacidade virtual e infestam o campo com perigoso lixo eletrônico capaz de anular o grande potencial educativo em detrimento do tão necessário aperfeiçoamento humanístico. Tantos jovens privilegiados, já há muito inseridos no mundo digital, intrigantemente, não aproveitam quase nada das suas inúmeras possibilidades, uma vez que andam perdidos na periferia da grande broadcast, pobremente embarcados nas banalidades descartáveis das redes sociais, salas de bate papo, mercados livres e sites pornôs. Certamente, caso não se tome nenhuma providência, o novo contingente de internautas também optará por esses descaminhos... Ou terá mesmo mais visão que os felizardos já conectados?
Não vejo com bons olhos a reversão de grandes somas em algo com potencial para desenvolver distorções de personalidade e vícios comportamentais em milhões de jovens não só no Brasil, mas por todo o mundo, apenas interessados nas possibilidades lúdicas oferecidas por essas altas tecnologias, em prejuízo do seu uso para a verdadeira formação intelectual, profissional e ética. Acho que seria interessante produtivo e necessário a introdução de sistemas de bloqueio do acesso ao lixo tecnológico pelo menos nos locais aonde haja uso público dos sistemas. Um absurdo a sociedade lavar as mãos e as autoridades ignorarem a tendência por considerar a ação um controle fascista. Fascismo ou não, a verdade é que a minoria dos carentes vai a uma lan house, mesmo pagando o que não pode, motivada por qualquer interesse em pesquisa. Não viu ainda quem não quis. E qual será o resultado futuro? Penso que pior do que a censura fascista é o desperdício em investir milhões em algo pernicioso e permitir que algumas dezenas de criminosos levem vantagens fenomenais em detrimento da saúde mental da sociedade e dos seus jovens em formação; delegando apenas aos pais a missão de selecionar o que deva ser descartado; quando se sabe que as famílias, na sua maioria, estão sobrecarregadas de afazeres cotidianos e são despreparadas por culpa da própria leniência do Estado, que não cumpriu nem cumpre os preceitos constitucionais relativos à educação de boa qualidade para todos.
Interessante essa questão do bloqueio de acesso a alguns sites no último parágrafo, chamada de facismo. Mas será que esse bloqueio realmente seria o ideal? Será que o bloqueio ao acesso do lixo eletrônico faria com que os jovens começassem a acessar a "nata" da internet? Talvez, se o nosso governo funcionasse, junto com a popularização da internet, poderia vir algum programa de conscientização afim de evitar que os novos usuários fiquem presos ao lixo eletrônico. Mas como todos nós sabemos, isso provavelmente não vai ser feito.
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