APRESENTAÇÃO


O conjunto de trabalhos que o amigo leitor encontrará aqui foi produzido ao longo de alguns anos. Não posso aqui precisar quantos, talvez uns vinte. A grande maioria deles publicada no jornal A TRIBUNA SANJOANENSE de SÃO JOÃO DEL REI (minha terra nanal) e NOVA MIDIA de BARBACENA; ambas tradicionais cidades históricas mineiras muito politizadas.

Obviamente há uma cronologia de publicação associada aos acontecimentos que inspiraram as respectivas reflexões. Depois de muito pensar, se deveria mencionar datas, resolvi aboli-las, pois achei que correria o risco de tornar seu passeio um tanto dirigido e até cansativo. Posso imaginar alguém lendo algo retratando fato acontecido há anos! Talvez se sinta entediado. Então, no intuito de instigá-lo, apresento uma miscelânea de trabalhos recentes e antigos, a fim de lhe subtrair, de propósito, qualquer direcionamento e deixá-lo livre para pensar, buscando no tempo, por si, tal associação. Acredito ainda que dessa forma esteja incitando sua curiosidade à medida que avance passos adentro. Sua leitura poderá inclusive ter início pelo fim ou pelo meio, que não haverá prejuízo algum para a percepção de que as coisas no Brasil nunca mudam. Ficará fácil constatar que a vontade política é trabalhada para a perpetuação da incompetência administrativa, obviamente frutífera para algumas minorias.

Penso que, se me dispus a estas publicações, deva estar antes de tudo, suscetível a criticas e, portanto, nada melhor que deixá-lo, valendo-se unicamente das informações contidas no texto, localizar-se na história. Caso não lhe seja possível, temo que o trabalho perca qualidade perante seu julgamento pessoal. Por conseguinte, acredito que isso não acontecerá; a não ser que o leitor não tenha, em tempo, tomado conhecimento dos fatos aqui retratados. Procurei selecionar de tudo um pouco; certamente sempre críticas, porém algumas muito sérias carregadas de um claro amargor. Outras, mais suaves, pândegas e até envoltas num humor sarcástico. Noutras retrato problemas da minha São João del-Rei. Até cartas para congressistas em Brasília há. E em alguns pontos, para abusar da sua paciência, introduzi coisas muito particulares. Críticas à parte, nessas, apenas falo de mim, afinal, apesar de amigos, talvez nunca tenhamos trocado impressões sobre coisas tão pessoais. . .

Aqueles que me conhecem há tempos, sabem que sou um obstinado por política, apesar de jamais tê-la exercido diretamente. Motivos houve de sobra e numa oportunidade poderei explaná-los. Todavia, do fundo do coração, afirmo que tal paixão tem como motor um doloroso inconformismo por ver o Brasil tão esplêndido e tão vilipendiado; vítima inconteste dessa cultura avassaladora de demasiada tolerância à antiética e à imoralidade na administração pública. Comprovadamente este é o pior dos tsunames com potencial para ter retardado nosso progresso mais de três séculos e grande responsável pela perpetuação da pobreza de metade da nossa população, pelo analfabetismo total e funcional, pela violência social e pelo abismo intransponível que aliena gigantesco contingente, maior que um quinto da população do continente sul americano. Diante do inaceitável absurdo, impossível me conformar em silencio diante dos atos e fatos que vão vergonhosamente enxovalhando nossa história e nos deixando como um gigante deitado sobre o escravismo que a Lei Áurea não foi capaz de abolir.

O título? Esse, talvez, seja o mais difícil explicar. GRITOS SEM ECOS representa uma espécie de pedido de socorro do náufrago, que sabe que de nada adiantará espernear, pois não há interlocutores, não há socorro, não há saída, não há conscientização; mas, assim mesmo, grita.

Será um prazer receber sua visita e ler suas opiniões, elogios ou críticas.

Forte abraço!



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

DIA NACIONAL DA EDUCAÇÃO ANTIRACISTA


            Vimos há alguns dias as comemorações do “dia nacional da consciência negra”. Vinte de novembro; data mais significativa para a comunidade negra brasileira do que o treze de maio, pois naquele dia comemora-se o aniversário da morte de Zumbi. "Treze de maio, liberdade sem asas e fome sem pão", assim definiu o poeta gaúcho Oliveira Silveira o dia da Abolição da Escravatura em um de seus poemas, referindo-se à lei que libertou os escravos, mas sem lhes dar condições de trabalhar e viver com dignidade.
            No idioma africano falado pelos ancestrais do herói escravo; Zumbi significa “Senhor da Guerra”. Portanto nada mais adequado associar seu nome ao combate ao racismo e à desigualdade histórica sofrida pelas populações negras, cultura que sobreviveu mesmo depois do fim oficial da escravidão no Brasil, em treze de maio de 1888, através da Lei Áurea, promulgada pela Princesa Isabel.
            Até aqui tudo bem, no entanto é preciso que façamos algumas considerações afinadas ao que o ex-presidente Jânio Quadros gostava de classificar como “forças ocultas”. Quais seriam as forças ocultas perigosas que poderiam influenciar negativamente as legítimas tentativas de conscientizar a cultura brasileira para respeitar e reconhecer a população negra definitivamente como um legítimo elemento da nossa etnia?
            Respondendo a essa questão tão delicada me valerei do elementar exemplo da massa do bolo que não admite erro na receita; qualquer alteração na combinação dos elementos fatalmente trará prejuízo ao sabor e à textura final. Assim também funciona a política. Muitas das vezes direcionam-se esforços num sentido imaginando-se determinados resultados positivos sem jamais se calcular que efeitos colaterais poderão advir. Digo isso porque tenho observado certa paixão emocional das lideranças negras no trato da questão e por outro lado um sutil distanciamento do resto das forças políticas. Vêem-se cantores negros, políticos negros, jogadores negros, poetas negros, padres negros; mas pouquíssimos pares brancos engajados num esforço concentrado da sociedade brasileira como um todo. Certo que leis estão sendo promulgadas nesse sentido e até severas punições aplicadas aos contraventores, mas certo também é que não são bastantes leis e opressão, se não houver por parte de toda a sociedade uma espécie de incorporação cultural da idéia de igualdade entre as raças. As lideranças brancas se comportam de maneira leniente e fria diante da questão, ou seja: o problema é deles e eles que se virem. Prova disso é que se observam pouquíssimos brancos presentes em qualquer manifesto popular dirigido à conscientização de igualdade. O tema tornou-se politicamente correto não admitindo-se altercações contrárias a qualquer mínimo detalhe. Como exemplo, temos as cotas universitárias para negros. Seria essa uma forma justa de inserção social, considerando-se a realidade de tantos brancos pobres que não podem gozar do mesmo direito? Não estariam plantando autoritariamente novo tipo de tensão perniciosa entre indivíduos e segmentos sociais? Não seria esse um paliativo com resultados duvidosos, considerando-se que os alunos selecionados por quotas não trazem boa base do ensino primário e secundário e mais tarde seriam excluídos pelo mercado onde não há tolerância com profissionais mal preparados?
            Os governantes sabem que sim e muitos educadores também. Entretanto mais cômodo e menos arriscado é lavar as mãos e deixar como esta para ver como é que fica. Defender o resgate de segmentos negros à custa de qualquer via tornou-se politicamente correto e rende voto. Numa análise livre de hipocrisia todos sabem que racismo é contra a pobreza e a ignorância, apesar dos esforços para exterminá-las serem sempre muito pequenos. Ninguém discrimina negros ricos e bem sucedidos, pelo contrário, muitos exemplares deles estão aí bem inseridos nas altas rodas da sociedade brasileira e mundial.
            Estranhamente os governantes não se importam com o direito das populações pobres, negras ou brancas, a um ensino básico de alta qualidade. Ao contrário, o que se vê é o sucateamento das escolas primárias, o aviltamento da função do educador com salários baixos e políticas opressivas com cargas horárias excessivas e falta de recursos humanos e materiais de toda ordem. Situação essa largamente discutida e justo quando se sabe que o sucesso das potências industriais é baseado em educação de alta qualidade para todos desde os primeiros anos escolares. Não há outro caminho e outra saída, entretanto aqui no Brasil, e na América Latina como um todo, o populismo tornou-se cabo eleitoral e faz parte de um projeto neo-marxista em que morder e soprar é regra do jogo e parte do discurso, enquanto a ação depende de fatores premeditadamente inalcançáveis. Mordem, quando cobram uma das maiores cargas tributárias do mundo, inclusive dos pobres negros e brancos; expõem o setor industrial à concorrência internacional sem nenhum tipo de compensação fiscal ou tributária, assim reduzindo postos de trabalho dentro do Brasil e os criando lá fora; abandonam a infra-estrutura social e viária ou tentam amordaçar a imprensa. Sopram, quando desperdiçam recursos preciosos com políticas demagógicas em forma de bolsas e quotas disso e daquilo; mentem para a nação com desculpas esfarrapadas e índices de desenvolvimento manipulados; investem em propagandas sensacionalistas e enganosas; reforçam o descaso com a educação básica para todos; criam privilégios através de super-salários e super-direitos para alguns apadrinhados; fazem vistas grossas ao nepotismo nas altas esferas da administração pública.
             O rapper MV Bill, foi um dos primeiros a intitular a campanha de igualdade racial no Brasil como “Consciência Negra”. Obviamente, porque a idéia se constitui no tema central do seu trabalho e o termo um bom acessório para facilitar a compreensão da sua tese. No entanto acho perigosa a sensação de unilateralidade que encerra. Prefiro acreditar que o cantor, na melhor das intenções, não pretendeu dar conotação unilateral à obra, todavia seria mais adequado intitulá-la como ‘educação antiracista’ ou talvez ‘conscientização racial’ soasse mais brandamente pelo seu sentido de totalidade. “Consciência Negra” simplesmente remete a certa parcialidade ou, talvez, a um ímpeto velado de conscientizar para ir à forra; o que não implica transformação ou transição para o bem. Este é o ponto negativo da política implantada, por embutir perigosamente um viés de retaliação racista ao contrário ou com mão dupla, uma vez que milhões de brancos também são pobres e não desfrutam de privilégios e nem todos os brancos ricos são racistas. Além do mais não é justo penalizar jovens brancos pobres pela má sorte dos negros escravizados e transferidos pra cá sob ferros pelos nossos queridos colonizadores e sua cultura da ganância exploratória e esperteza compensatória. É utópico e constitui-se uma irresponsabilidade combater a discriminação ao negro com a introdução da discriminação ao branco. O ato de discriminar partindo do elemento branco ou do negro, ainda que este tenha sido humilhado há séculos, é um ato vil. È preciso muito cuidado no trato dessa temática, pois há o risco de estarmos reforçando ainda mais a linha divisória entre as raças e se criando o racismo retaliatório, ou seja: aprofundando e oficializando a intolerância entre as raças, assim como aconteceu em outros países da América.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

AVENIDA BRASIL



            Na edição passada desta coluna*, cujo título é: cada povo tem a mídia que merece, refletimos sobre a missão da imprensa brasileira como guardiã das bases democráticas e sua responsabilidade no aprimoramento da cidadania através de programas e campanhas que incutam valores nobres na mentalidade popular.
            Na intenção de dar seqüência ao tema, tornei-me um noveleiro de carteirinha e diariamente às vinte e uma horas em ponto estava plantado na frente da televisão para assistir a mais uma das hipnóticas aventuras da famigerada Carminha e sua sede de levar vantagem a qualquer custo. Capítulo a capítulo, a megera golpista conquistou em massa os telespectadores a ponto das pesquisas apontarem quase cem por cento de audiência fiel ao canal global naquele horário.
           A memória do telespectador é volúvel e a maioria de nós já se esqueceu que o fenômeno se repete a cada novela em que vilões estão sempre a dar asas a seus egos doentios implacavelmente massacrando pessoas inocentes, indefesas e bem intencionadas. A fórmula para cativar a audiência nunca muda. A cada nova temporada alternam-se autores, elencos, equipes e cenários, mas o tema central é sempre o mesmo. Qual o motivo da fixação dos autores e produtores em massacrar o telespectador com histórias de miséria humana nada recomendáveis à saúde mental de alguém, muito menos de crianças e adolescentes em fase de formação? Estariam eles tentando reforçar uma espécie de cultura nacional por entenderem que nossa sociedade já esta doente e que em cada esquina existe um maluco querendo destruir alguém ou seriamos nós, os telespectadores brasileiros, donos do maior mau gosto do mundo, contaminados por uma espécie de desequilíbrio sádico? Em outra hipótese o sadismo ou qualquer outra má intenção poderá estar morando na cabeça deles, incapazes de enxergar na sociedade brasileira quaisquer qualidades que mereçam retratação positiva.
            É sabido e notório que sangue e dor sempre tiveram grande poder de encantamento, desde que seja nas entranhas dos outros, pois ninguém é louco o bastante para se comprazer com o próprio desalento. Seria essa a causa central que canaliza a atenção dos produtores dessas lamentáveis tragédias? Pode ser que sim, pois é muito mais fácil reforçar uma tendência natural do que preparar terreno para semeaduras mais nobres. Obviamente é do conhecimento de todo mundo que produzir chanchadas custa muito mais barato que obras primas, porque a chanchada é como um barco sem motor lançado na correnteza. Demanda menor esforço e mais cedo ou mais tarde, com certeza, atingirá a mansidão do lago dos milhões na conta bancária. Ademais, a preocupação de qualquer investidor é ver seu investimento retornar bem rápido, com o menor risco possível, de preferência acrescido de um polpudo lucro. É exatamente isso que acontece, quando divulgam essas produções repetitivas, que não primam pela criatividade, nem pelo respeito à saúde dos nervos do telespectador.  
             A justificativa corrente é a que estão mostrando o que o povo quer ver.
Em outras palavras: se o povo vive tragicamente sofrendo pela falta de ética, pela descompostura, mergulhado no desrespeito, humilhado na desigualdade social, escravizado pela tirania de governantes corruptos, injustiçado na inoperância das instituições públicas; não é problema de quem trabalha na mídia ou com a mídia; cabe ao governo a missão de resgatar o telespectador da profunda ignorância, porque educar é apenas tarefa do Estado. Esta é uma grande e criminosa mentira partindo do princípio de que o principal valor intangível atribuído a qualquer pessoa, física ou jurídica, é primar pela conduta sóbria e ética, compromissada primeiramente com o bem estar social, com a construção do futuro auspicioso das gerações futuras e isso passa pelo resgate das gerações presentes. Quando passa-se todo o tempo a vangloriar vilões, suas transgressões podem ser entendidas como valores verdadeiros e virarem moda. Esse é o grande perigo ao qual a mídia brasileira, principalmente a televisiva, vem expondo a sociedade, em grande parte composta por indivíduos despreparados para saber separar o joio do trigo.
         Uma dolorosa dúvida assanha minha curiosidade! Dos milhões de telespectadores, dentre eles menores em fase impúbere, quantos entenderam corretamente a verdadeira intenção da crítica abordada em Avenida Brasil? A Rede Globo, muito bem soube e sabe trabalhar seus lançamentos em grande estilo, merecidamente jogando confetes e abrindo o tapete vermelho para seus talentosos atores. Ao longo do desenrolar das histórias trágicas e baratas se preocupa e se ocupa em criar suspense, a fim de manter em alta a audiência, como também em alta o custo dos anúncios no disputado horário nobre. E finalmente se delicia com o sucesso a ponto de dedicar um programa importante como o Globo Repórter, com o fim de louvar o brilhante trabalho da equipe que bravamente desempenhou diuturnamente o árduo trabalho de dar vida às personagens com a maior realidade possível.  Muito bom e louvável com apenas uma grave falha: sempre se esquece de acrescentar no processo um bloco dedicado ao esclarecimento do que está implícito na crítica para que o desavisado telespectador não confunda alhos com bugalhos ou heróis e cabras.
            Deviam ter reforçado que Carminha e Max na vida real são vítimas, personagens do dia a dia na miséria material e espiritual, habitantes desse país desgovernado por homens, na sua maioria, irresponsáveis, desonestos, descompromissados com a verdade, com á ética, com qualquer coisa que não seja seus próprios botões. Uma sociedade que tolera e aceita seres humanos vivendo em lixões, convivendo com porcos e bandos de urubus famintos, à margem de tudo, sem família, nome, identidade, direção, educação, dignidade. Sem futuro à altura de uma nação que se auto-intitula país do futuro, celeiro do mundo e outras bobagens condizentes com a pobreza de espírito e falta de competência desses intrépidos idiotas que elegemos para nos governar a cada quatro anos. Não estamos aqui a criticar o Brasil e suas potencialidades, defeitos ou qualidades, mas a eficácia dos nossos nobres predadores, que nos cobram a maior carga tributária do mundo e nos devolvem monstros humanos como os retratados pelo autor em Avenida Brasil.
            É fato que a indústria telecinematográfica brasileira já mostrou competência técnica para ascensão internacional, assim como nosso elenco de atores, atrizes e demais; nada ficando a dever aos americanos de Hollywood, os melhores do mundo na arte da teledramaturgia. Entretanto, há uma fundamental diferença entre as produções americanas e as brasileiras. Aquelas sempre funcionaram como importante veículo de promoção da imagem dos Estados Unidos como líder mundial e bom lugar para se viver. Nunca se cansaram de criar heróis, ainda que estes não fossem tão politicamente corretos. Do velho justiceiro John Wayne, combativo cowboy do far west, incansável defensor da lei e dos mais fracos, ao herói Rambo, um veterano do Vietnã e ex-Boina Verde, sempre demonstraram cuidado especial em não dar brilho a vilões contrários à estratégia de enlevar o orgulhoso nacionalismo do povo americano e a se firmarem como líderes mundiais. A isto chamamos educação moral e cívica trabalhada de forma sutil, mas claramente útil e objetiva. Não estamos aqui a discutir o mérito da questão, mas o fim ao qual se aplica. Intrigantemente, não é difícil perceber que, ao contrário, nossas produções tendem com muita freqüência a retratar defeitos vergonhosos que denigrem a imagem do país e em nada colaboram no incentivo ao culto do honra de ser cidadão do Brasil.
             Se um dos nossos maiores gostos é imitar os gringos americanos em tudo que não presta, o que nos impede de imitá-los também no que presta? Basta maior interesse da mídia em difundir valores éticos de personagens mentalmente saudáveis, mais habilidade na escolha de temas, maior criatividade nas abordagens, mais comprometimento com o orgulho de ser brasileiro e com a imagem do Brasil que desejamos para nós e para nossos descendentes, pois jamais seremos grandes sem um povo altivo, consciente do que seja o exercício da cidadania plena e da responsabilidade de ter nascido no “Brasil; pátria amada mãe gentil” para alguns, porque ainda há outros milhões de Carminhas e Maxueis  vivendo no lixão, passando fome e humilhações, se preparando para as próximas novelas da vida.

*edição do mês de outubro do Jornal Nova Mídia de Barbacena onde foi publicada a reflexão "CADA POVO TEM A MÍDIA QUE MERECE", publicado também neste blog no espaço anterior a este - role a barra e cofira -


domingo, 30 de setembro de 2012

CADA PAÍS TEM A MIDIA QUE MERECE



         Em tempos de caça às bruxas, enquanto a maioria dos administradores públicos brasileiros esta mergulhada na ladroeira e assombrosos escândalos fustigam nossa alma e nosso bolso, ruboriza de vergonha homens de bem e suja as páginas da história nacional é bom e oportuno lembrarmos que faltam poucos dias para as eleições. Aí vem a grande e única oportunidade de mudança no rumo suicida que o Brasil esta nas mãos de tantos canalhas ávidos por depenar o patrimônio público. Por todas as cidades que se passa vêem-se e ouvem-se bandeiradas e sons estridentes anunciando a boa intenção dos novos e também dos velhos políticos à espreita de algum voto a mais que venha lhes conferir o direito, ou melhor: ‘o dever de cumprir o que prometem’.
            Receita velha, eleitor curtido na lama da bagunça nacional e ainda assim continuamos a acreditar nas mentiras deslavadas que nos pregam toda vez que nos obrigam a ir às urnas para exercer o ‘direito obrigatório’ de votar. Seria melhor se pudéssemos ficar em casa dormindo e os ladrões dos nossos impostos continuassem os mesmos; pelo menos teríamos a esperança de que um dia enchessem os bolsos e se fartassem; ao passo que, substituída a quadrilha, outros bolsos vazios virão e aí o círculo vicioso continuará. O sentimento nacional é o mesmo em todos os quadrantes da nação: De que adianta votar, se nada vai mudar? As atividades eleitorais no Brasil são uma espécie de ‘jogo de faz de conta’ em que o político finge ser um sujeito bem intencionado e o eleitor finge que acredita. Nessa triste situação quem deve mudar; político ou eleitor? A falsidade é do instinto do político e modificá-lo seria como tentar modificar a raposa, para que ela não comesse ovos. Portanto, se o político é incorrigível, que mudem o eleitor.
            No Brasil de democracia imatura e educação capenga, o voto ainda é definido pelo poder econômico e promessas bajuladoras, totalmente impossíveis, feitas por candidatos visivelmente desinformados nas questões econômicas e sociais, claramente interessados em ascensão pessoal. Por aqui se define intenção de voto pela simpatia, crença no empreguismo, encantamento pela boa oratória e esperança no assistencialismo do governo. Raros os que votam pela análise do passado, das relações interpessoais e do plano de governo fundamentado em conhecimento técnico e condições compatíveis com sólidos recursos financeiros. Mas como mudar o eleitor mergulhado num oceano de faltas? Falta-lhe de tudo: casa, salário, cultura, transporte, profissão, saúde, segurança, esperança, informação, escola de qualidade para os filhos... O homem/mulher nessas condições não esta preocupado em votar certo, mas muito mais propenso a lutar pela sobrevivência pessoal e da sua família. Esse eleitor enfraquecido pelas dificuldades da vida e amedrontado pelo desconhecimento da realidade que o acerca é vítima predileta dos picaretas e suas falsas promessas. Será tão vítima quanto um cão faminto que comerá carne envenenada, enquanto que o bem alimentado a refugará pelo pressentimento do perigo.
            Para que a democracia seja bem sucedida os cidadãos têm que estar atentos e serem participativos, porque devem saber que o sucesso ou o fracasso do governo é responsabilidade sua e de mais ninguém. Entretanto o que esperar da grande maioria dos nossos cidadãos eleitores se eles estão doentes, contaminados pelo vírus do medo e da falta de tudo? Aprimorar esse eleitor através do ensino escolar padrão, além de depender da difícil vontade política, ainda levará muito tempo e o Brasil não pode mais esperar. Mais atraso no preparo intelectual da grande massa popular contribuirá para continuar mantendo o Brasil nas mãos dos picaretas como grande berço internacional da corrupção; quem perderá serão as gerações futuras que continuarão herdando miséria, ignorância, escravidão e violência social, permanecendo à mercê de uma fraca democracia, sempre a serviço dos aproveitadores sem escrúpulos.
             Na minha modesta opinião, mudar os políticos é impossível e preparar melhor a massa popular demoraria por demais; assim nos sobra uma única saída: a atuação mais responsável do chamado quarto poder; A MÍDIA. Penso que passou o tempo da submissão contida a laço e é chegada a hora da imprensa com seu dinheiro e sua capacidade de formar opinião abandonar o desinteresse e adotar a parceria na educação, paralelamente ao comprometimento com a ética, com o civismo, com a conscientização do cidadão eleitor a fim de que compreenda melhor seus direitos, deveres, responsabilidades e o espaço que deve ocupar na sociedade da qual faz parte.
            É preciso criar projetos de programação com potencial para plantar na cabeça do cidadão eleitor as vantagens da honestidade, da cultura, da importância da família e da pátria como bens maiores, que devem ser preservados, respeitados, compreendidos e amados. Ensinar-lhes o respeito às instituições, à ética, à moral, aos outros povos, culturas, crenças religiosas e outras nações, encarando o pluralismo sem reações ufanistas, fascistas ou estéreis; induzindo-os a entender que o racismo e a discriminação cegam a visão incapacitando o homem para admirar a natural diversidade de tonalidades que compõem o mosaico humano.
            Se é possível ganhar muito dinheiro criminosamente empobrecendo a espiritualidade e a inteligência humana e desse modo perpetuar a mediocridade, por que não fazê-lo induzindo o homem ao progresso de si mesmo, ganhando também muito dinheiro? Curiosamente há uma clara tendência dos profissionais do marketing, certamente induzidos pelos capitalistas da comunicação, a dar ênfase ao politicamente incorreto, ao prejudicial no aprimoramento do cidadão eleitor. Exemplos existem aos montes. Por que o "bad boy no lugar do nice boy"? Por que a maliciosa dança da garrafa na terra do samba canção? Por que a indução maciça à prática irresponsável do sexo, principalmente entre menores? Para que ressaltar a violência nos meios de comunicação contida em filmes estrangeiros que nada têm a ver com nossa cultura e com nossos ideais de nação? Por que banalizar a mulher e o corpo feminino vendendo imagens de nudez nas esquinas como se mulheres fossem bananas e sexo brinquedo para parceiros na pré-maturidade? Para tantas dúvidas, há apenas uma resposta: a realização de lucro fácil; um objetivo sutil, implícito e criminoso. Observa-se aí uma poderosa política capitalista de controle de massas tecnicamente correta, porém antiética, pois visa apenas o crescimento do capital e o afinamento com o poder central e seus lobistas. Ao mesmo tempo é duplamente injusta, por se afastar da sua função principal que é promover a conscientização através da informação livre, não tendenciosa, baseada em princípios éticos e morais. Não estamos nos referindo à ética como qualquer tipo de censura ou imposição autoritária. Pelo contrário, a consideramos como a única forma democrática e legítima de preparar cidadãos para dirigir-se pelo seu juízo próprio, livres de falsos paradigmas, dentro dos preceitos de justiça e de cidadania.
            A lavagem cerebral negativa, mesmo dirigida ao lazer, é altamente antidemocrática, principalmente quando invade o lar e a alma do cidadão eleitor sem nada de positivo a acrescentar. É preciso que os intelectuais da mídia compreendam que a responsabilidade de educar não e só da família e do governo, mas de todos e, muito maior, daqueles que formam opinião e sedimentam costumes e cultura. O processo educativo constitui-se em apresentar soluções corretas, mostrar suas vantagens, dar bons exemplos e rechaçar o incorreto. O cidadão eleitor do povo não se encontra em condições de entender a crítica pura sem discussão de méritos.  A simples crítica diante de mentes despreparadas certamente reforçará o erro, pois não há conhecimento de outros parâmetros para comparação e este modelo embota o aprendizado, prejudica o discernimento, promove a subserviência, lança modismos em atendimento a interesses econômicos paralelos, incentiva o assistencialismo populista de governantes demagogos e, apesar de ser uma forma de dominação pacífica e indolor, subtrai do homem a capacidade de escolha entre o bem e o mal, entre o bom e o ruim, pelo simples condicionamento. Isto é a própria animalização de seres humanos.
            Há um conhecido ditado nas sociedades livres: “Cada povo tem o governo que merece”. Particularmente não concordo com a afirmativa, pois acredito que a mesma carregue cunho discriminatório e por isso não se afina bem com o ideal de sociedade democrática que tanto sonhamos. Há pouco mais de cento e vinte e quatro anos éramos um império primitivo, atrasado e escravagista e depois da Lei Áurea pouco ou nada se fez para diminuir ou acabar com o abismo social e cultural que secularmente divide a sociedade brasileira. Aboliram a escravidão institucional, mas mantiveram a funcional. Urge então que os cidadãos conscientes dessa nação exijam da sua imprensa livre, que tanto se gaba do seu potencial, maior empenho e responsabilidade na preparação e no aprimoramento da educação e da consciência do cidadão eleitor em todos os cantos do Brasil.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

POBREZA; UM PATRIMONIO NACIONAL!


    

            O que estamos acostumados a considerar como riqueza? Grande patrimônio? Reserva em dinheiro? Jóias raras? Pedras preciosas? Conhecimento? Não!!! Riqueza, em seu significado prático, é a fartura do que é útil e necessário. Por exemplo: ser rico num deserto não é andar com quilos de ouro ou dólares na mala, mas ter à disposição muita água e alimentos. Tornar uma terra produtiva não é enterrar em seu seio grande tesouro, mas enriquecê-la de fertilizantes e outros dejetos orgânicos. Ou seja, algo sem valor  numa função apropriada pode tornar-se grande riqueza. Assim também a pobreza nacional, nas mãos de quem sabe usa-la, torna-se tesouro valioso.

            A pobreza no Brasil foi até agora cultivada, alimentada e perpetuada, porque desde que o populismo aqui se instalou passou a ser o elemento essencial para a conquista e a manutenção do poder.
            Pobreza é coisa necessária para os políticos combaterem e que não pode acabar, a fim de que haja sempre pobres para o político defender. O que seria dos partidos políticos sem a pobreza? O que seria do político “rouba, mas faz” sem a pobreza material e cultural? Essa é a riqueza que alimenta os demagogos e hipócritas.
            Por isso, nobres políticos, façam todas as reformas que quiserem, mas preservem nosso grande patrimônio! A pobreza é nossa e não pode ser erradicada. Os modos para protegê-la e mantê-la são muitos:
            Em primeiro lugar todas as leis devem ser criadas para afugentar os investidores, mas os políticos devem declarar o contrário, dando sempre ao trabalhador a impressão de estar sendo protegido.
            Em segundo lugar deve-se manter e sempre prestigiar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), para que o trabalhador encontre cada vez menos trabalho e por menor salário e mesmo assim sinta-se protegido pela lei.
            Em terceiro lugar, as esmolas das bolsas governamentais devem continuar sendo oferecidas aos necessitados, pois estes, além de fieis eleitores, não vão se preocupar com o futuro, não precisarão plantar nem poupar, pois enfim o governo os socorrerá. E, se alguém se queixar, deve-se sempre lembra-lo que num país americano chamado Haiti, vive-se pior.            
                Em quarto lugar é preciso dar terra ao MST e casa aos sem teto, para que possam vendê-la e mais tarde retornar aos movimentos sem terra e sem casa, mas com um governo sempre pronto a socorrê-los. Afinal, eles já descobriram que com gritaria e invasões tudo se consegue.
            Em quinto lugar não deixar de financiar os sindicatos, que também sabem fazer barulho, para que sirvam de trampolim para alguns companheiros, os quais, protegendo os esperançosos, conseguem, mais tarde, se elegerem deputados inúteis ganhando milhões para continuar defendo os mais pobres.
            Em sexto lugar promover o enfraquecimento de empresas geradoras de empregos através de sentenças paternalistas e injustas, para o trabalhador ficar com menos trabalho, mas, mesmo assim, sentir-se protegido pela lei.
            Em sétimo lugar massacrar com muitos impostos e tributos as empresas, para que fiquem impedidas de pagar bem os seus funcionários ou fechem as portas o mais rápido possível. Isso porque emprego e empregador não tem importância nenhuma e põem em risco a estratégica pobreza. Importante é o empregado sentir-se protegido e votar em seus protetores.
            Em oitavo lugar é necessário manter o direito de voto dos analfabetos e semi-analfabetos, pois eles representam o maior patrimônio eleitoral fácil de ser convencido e sensível aos discursos demagógicos. Também o único que chega àquela velha conclusão: “ele rouba, mas faz”.
            Em nono lugar defender o gigantismo do Ministério do Trabalho, inclusive fortalecendo ainda mais a Justiça do Trabalho, pois não custam nada ao país, e sem eles o Brasil correria o risco de se tornar um país exemplar como o Japão, por exemplo.
            Em décimo lugar vamos trocar “meia dúzia” por seis, mas não um simples seis. Um seis mais burocrático: um, dois, três, quatro, cinco, seis, para complicar um pouco. Enfim, vamos fingir querer fazer todas as reformas que o momento exige sem reformar nada, porque, se essa moda de reforma pega, um dia vão querer reformar os poderes e também as pessoas que os integram. E aí como é que vão ficar a gasolina da Mercedes e as mordomias de direito?





           

OS CHACAIS ESTÃO DE RABO ENTRE AS PERNAS


                 Desde meados do século XV, quando os europeus lançaram-se ao mar em busca de riquezas, a fim de regar suas combalidas economias destruídas pela gastança desmedida da nobreza preguiçosa, irresponsável e inútil e que as primeiras caravelas alcançaram as costas ricas das Américas dando início ao maior holocausto humano, físico, cultural e econômico registrado pela história nos últimos seis séculos; a Europa se transformou no maior centro atrator e consumidor de recursos produzidos exclusivamente baseados na escravidão e no extrativismo predatório. Da África transferiram sob ferros mão de obra e na América impuseram-se pela força das armas, da mentira e do machado. Finda a escravidão legal no século XIX, iniciou-se outra: a cultural e industrial com a Grã Bretanha no comando e mais tarde os Estados Unidos.
                 Desde então, esse funesto ambiente foi responsável pela implantação e perpetuação da miséria crônica e de tantos outros efeitos colaterais, tais como: dívidas externas impagáveis, ignorância, populismo, ineficiência estatal, obsoletismo tecnológico, desemprego, violência social e mais todo o rosário de misérias humanas que condenam a mais rica região do globo a oferecer péssima qualidade de vida aos seus cidadãos. Seis séculos de assalto às riquezas naturais estratégicas, massacre cultural e exploração intensiva através de monoculturas como a da cana de açúcar, propiciaram à Europa e seus afilhados conforto e consumismo acima dos limites éticos e morais. Enquanto a minoria abastada, habitante desses países, consome 90% de tudo que é produzido no planeta deixando um rastro de impactos ambientais irreversíveis, 80% da humanidade localizada na América Latina, África e outras regiões pobres, sobrevive precariamente com as sobras e com as dores e efeitos colaterais da miséria, tais como epidemias, fome, avitaminoses e baixas perspectivas existenciais.  
                Seis séculos de vistas grossas, mesmo após ter início a iluminada era moderna, quando se passou a reconhecer direitos inalienáveis do ser humano que prevêem liberdade e dignidade a todos os homens e mulheres independemente da cor da pele e da cultura, o planeta continua servindo e abastecendo apenas à pequena parte habituada a se auto considerar dona de tudo. Não há como fugir disso, pois todos os interesses políticos e econômicos convergem para o seleto grupo que jamais abre mão de privilégios, mesmo que fúteis. Em nome do bem estar e da salvação da grande parcela de degredados pela falta de sorte de ter nascido no lugar errado ninguém mexe uma palha sequer e o abismo entre países pobres e ricos agiganta-se progressivamente. Há teorias absurdas que chegam a considerar a África em processo acelerado de extinção por inanição e desordem irreversíveis. Uma vergonha para a humanidade, mas ninguém se importa, pois que lucro daria perder tempo naquele quintal? Bom seria se pudessem atirar aquela parte do planeta aos monstros galácticos para que fizessem dela bom proveito e a defecassem noutra freguesia! Afinal, nem mais mãos escravas podem fornecer e para pasto universal ainda teem a pobre rica América Latina, carregada de água doce, reservas minerais estratégicas, muito petróleo e um povo pacífico quanto a sombra de um ébrio!
                O que eles próprios não podiam imaginar é que chacais também podem morrer de congestão. Exploraram tanto, empanturraram-se em demasia e agora estão correndo o risco de implodir, vítimas do próprio veneno: ‘ambição e egoísmo’. A Europa passa pela maior crise da sua história, nem mesmo comparada às conturbações causadas por nenhuma das duas grandes guerras mundiais, agravada ainda pela falta de perspectivas de melhora e pelo iminente risco de cooptar o resto do mundo para o fosso dos pobres falidos desesperados. Quase metade da sua juventude esta desempregada, situação similar a que viveu a América Latina na década dos noventa e que eles souberam muito bem aproveitar para ganhar muito dinheiro jogando lenha na fogueira com seus subsídios e dumpings.
                 A única e fundamental diferença é que o sofrimento dói muito mais em quem esta acostumado na abastança. Grande parcela dos latinos e africanos esta habituada a viver com fome consumindo menos de mil calorias por dia, alimentando-se de esmolas e superlotando favelas. Outra parcela ajustou-se como pode no subemprego diante das intempéries da globalização e da frieza dos investidores internacionais com seus capitais sem bandeira e compromisso. E outra parcela, menos conformada, ingressou-se no mundo do crime, para fazer explodir os índices de violência social abarrotando presídios mais caros que escolas.
                Estamos torcendo para o barco não afundar, mesmo porque afundaríamos juntos, mas seria muito bom, se, pelo menos, a iminência do sofrimento fosse útil para acordar aqueles que há seiscentos anos deleitam-se confortavelmente sobre os despojos dos pobres e fracos do mundo, tornando-os menos surdos e mais solidários.
           É bom que se esclareça que não estamos aqui a defender nenhuma teoria marxista, uma vez que seus bandoleiros também promoveram holocaustos e sempre se banquetearam de carniça. Ideal seria que os poderosos do mundo entendessem, de uma vez por todas, que a única via possível para o progresso sustentável e com igualitarismo é o respeito mútuo há muito ensinado pelo homem mais famoso da história: Jesus Cristo.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A POLÍTICA E A POLÍTICA



            É comum ouvirmos alguém dizer em conversas amistosas que não gosta de política. – Política? Não gosto! Não discuto! – Concordo que o campo é complexo, viaja pelo mundo insondável dos sentimentos, incita paixões, valores pessoais e muitas das vezes funciona como ópio capaz de cegar a razão. Mas Sócrates, dizia que o homem é um animal político. Será que ele tinha razão? Em resposta, incito o leitor a outra questão: há no mundo alguma obra ou criação humana concebida por força de outra ação que não seja política? Se lembrares de alguma, então Sócrates estava enganado.  
            Desde eras pré-históricas, milhões de anos antes de Sócrates, quando tribos de humanos primitivos habitavam cavernas, o homem procede como animal social, porque sempre viveu em coletividade interagindo com seus semelhantes, seja na defesa contra inimigos invasores, seja visando aumento da eficiência nas atividades da caça e, mais tarde, na produção agrícola. Não existem registros históricos de que indivíduos humanos vivessem em estado de isolamento, pois esse seria o caminho da extinção. Conclui-se, portanto, que a única razão do sucesso da espécie humana é sua capacidade de se associar; fator mais importante ainda que a própria racionalidade.
            Vimos, portanto que a sociabilização é pura política e mesmo animais irracionais, aptos a viver em isolamento, precisam se associar para a procriação. A conquista da fêmea é um ato político básico instintivo indispensável para a perpetuação da espécie. Pode-se concluir então que política é o mesmo que ação e sem ela não há resultado. Em seqüência, se o próprio ato da conquista é política, correto será concluir que sua vida é o resultado de uma dinâmica política interativa entre duas pessoas de sexos opostos e sem ela você não existiria.    Assim, se somos resultado de associações políticas desde nossa concepção e nascimento, ao longo da vida inteira continuaremos praticando atos políticos incessantemente, quando estudamos para ser médico ou engenheiro, quando servimos e somos servidos, quando vendemos nossa mão de obra em troca da sobrevivência, quando educamos filhos ou adquirimos a casa própria. Emoções como amar ou odiar, chorar ou sorrir, estar alegre ou triste são de certa maneira consideradas manifestações políticas com potencial para gerar resultados positivos ou negativos diante do julgamento de outros e podem nos beneficiar ou prejudicar.
            Mas, à medida que as sociedades humanas se desenvolviam e as relações sociais ficavam mais complexas, a política passou a ser considerada como arte de governar. Obviamente não existe arte que sirva ao mal, portanto podemos ampliar a definição como arte de governar para o bem. Mais uma vez Sócrates tinha razão. Não seria possível o animal social e político viver numa sociedade acéfala; melhor dizendo: despolitizada e desgovernada. O bem esta logo aí: homens e mulheres trabalhando em prol de todos. Contudo, onde se encontra arte no processo da governança? Eis a questão primaz!...Governar com arte é administrar democraticamente, respeitando-se o salutar igualitarismo entre os cidadãos, além da observação dos preceitos éticos e morais, como também caminhar incansavelmente à procura do consenso num ambiente onde todos gozem do direito de opinar. O governante, neste ambiente, nada mais é que um líder e mediador com a dura missão de trabalhar para o bem comum, vivendo do seu salário como todos os demais.
            O leitor, a essa altura e com razão, deve estar pensando que estamos aqui defendendo a pura utopia e que Sócrates era mesmo um sonhador. No intuito de auxiliá-lo a clarear sua dúvida recomendo que proceda a rápida consulta à Constituição Brasileira de 1988, pois lá encontrará inúmeros capítulos, parágrafos e artigos baseados na razão defendida por ele.
            Acredito que agora o leitor esteja preparado para compreender que política faz parte da sua formação física e cívica e até da sua genética. Portanto, o aconselho a amar política, pois ela é a única divisão entre o ser e o não ser, entre sonho e realidade ou entre tudo e nada. Sem ela a humanidade estaria extinta há milhões de anos ou talvez ainda estivesse amargando as dificuldades da idade da pedra.
            Modernamente o vocábulo ‘política’ empobreceu-se, pois está intimamente associado à conquista mesquinha de vantagens pessoais, à súcia de malandros mafiosos, ao conluio, à luxúria, ao nepotismo, ao empreguismo, ao assistencialismo e a quadrilheiros de toda ordem. O nobre exercício da política perdeu a característica de missão e transformou-se em profissão rentável com direito a super salários, proventos vitalícios, aposentadorias privilegiadas, acesso ao tráfico de influências e ao comércio de informações estratégicas. Esta é sua face perniciosa, pois guarda característica altamente discriminatória e antidemocrática, porque a maior parte da sociedade não tem acesso e participa apenas como eleitora e pagadora de impostos. Pior é que nesse sistema minado pela corrupção todos os processos ficam mais caros além de ruins e ineficientes, transformando o desenvolvimento pleno num sonho impossível.
            A partir daqui, ficou fácil perceber que estamos tratando de duas políticas: uma boa e construtiva; outra perniciosa e destrutiva, além do que a mesma palavra é usada para definir situações diferentes. É impossível viver sem alimento, entretanto o alimento contaminado é mortífero. A política contaminada pelo vírus da desonestidade é ação negativa e gera resultados bons apenas para políticos abutres; aqueles que se alimentam da desgraça da sociedade.
            Há remédio contra esse terrível mal? A única e poderosa ação capaz de combatê-lo é sua atenção, participação e fiscalização. Assim você estará lançando luz nas sombras e vampiros detestam claridade. Para desvirtuar sua atenção lançam campanhas publicitárias enganosas, tentam comprar seu voto com presentes baratos, promessas vibrantes, musicais inesquecíveis e enquanto você dorme o sono do justo, riem da sua inocência. São como ratos que sobem à mesa na certeza da ausência do gato. Quando os justos tomarem consciência da sua força através da participação ativa, iluminarem o ambiente e ocuparem o centro da sala, os ratos fugirão para seus buracos imundos e escuros de onde nunca deveriam ter saído e o Brasil deixará de ser um país rico habitado por milhões de pobres, analfabetos, desempregados, doentes em filas de hospitais sem médicos e equipamentos, presídios lotados, professores mal pagos, prostitutas infantis, jovens despreparados para competir no mercado de trabalho, empresas quebradas e ineficientes, cidades esquecidas, prefeituras de chapéu na mão, políticos sanguessugas desaforados, Judiciário insipiente...
            Se agora você acordou, chame seu candidato, faça perguntas pra ele.
O que você vai fazer? Como? De onde vão sair os recursos? Quem o apoiará? Por que você quer ocupar esse cargo? Quais seus conhecimentos técnicos em gestão administrativa e administração pública? Olhe bem dentro dos seus olhos e desconfie de tudo que ele disser, conheça seu passado, seja cético. Abra olhos e ouvidos!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

ERA UMA VEZ ...


            Houve tempo em que crianças dormiam ao som de cantigas de ninar e histórias infantis tinham o poder mágico de mergulhar o espírito da criança na paz de um mundo de fantasia habitado por duendes, fadas, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, príncipe encantado, mula sem cabeça, bicho papão, boi da cara preta, bruxas e super-poderes. Adormecidos na paz da inocência, confiantes que nem o escuro tinha poderes contra a proteção das nossas dedicadas mamães e vovós, sonhos reais sobrevinham e neles Rapunzel nos puxava nas tranças dos longos cabelos ao topo da sua torre só para nos dizer: “eu te amo! Quando você crescer será meu príncipe, mas para isso deverá ser bonzinho”. Noites e noites a fio, sonhos e mais sonhos e o “era uma vez” tornou-se suspense inesquecível.
            Séculos e séculos vieram e se foram sob o enlevo dos amores e maldades românticas dessas personagens encantadas, até que a tecnologia veio sacudir as novas gerações com sua rapidez estonteante. Luzinhas de todas as cores, apitos estridentes, vozes metálicas, vibrações, dragões cuspindo fogo, mercenários assassinos, tiros, bombas, morte banal, sexo, poder, sonho do dinheiro fácil, salas de bate papo, redes sociais, celulares que filmam, fotografam, agendam; e-mails, atendentes eletrônicos, lojas virtuais, amadurecimento precoce, insatisfação, frustração, depressão, violência social... Tudo em nome da interatividade e da eficiência do ser humano global.
            “Era uma vez” evoluiu para “Aqui e agora”. Não há mais tempo a perder. Nostalgia, romantismo, saudade, inocência, confiança ficaram obsoletas. O descartável está na moda. A alta transitoriedade de coisas e pessoas é modernidade. Isso significa que indivíduos emocionalmente saudáveis não podem ou devem ter estima a nada, pois tudo é rapidamente substituível e dura enquanto não chegar o melhor, o novo. Novidades não mais demoram décadas, mas apenas meses, semanas ou dias. Quanto a você, se quiser permanecer modernize-se, recicle-se, estude para ser o melhor, o mais eficiente, senão sua utilidade será curta. Você é o protótipo do humano coisa. Mas, por favor, não entre em depressão, senão sua substituição acontecerá ainda mais depressa, porque seu direito de adoecer é relativo e motivo de alegria para muitos dos seus amigos, afinal eles também merecem seu lugar e podem custar mais barato para sua corporação.
            Diante dessa chocante realidade e estonteante velocidade aqui vai meu grito de alerta: ACORDEM! Aí vem o trem da eleição! Este é um Trem Bala! Esqueçam a velha e arcaica Maria Fumaça partidarista, revanchista, articulista! Virem os olhos para frente, pois, no mundo moderno, o futuro esta logo ali. O passado, mesmo recente esta muito distante e não pode fazer nada por você, nem pelo seu trabalho, nem pelo seu negócio e muito menos pelos seus filhos. Observe com bastante calma e atenção os homens/mulheres que se propõem a governar sua vida e a vida da sua cidade. Estarão eles antenados e preparados para a viagem do trem bala ao futuro? Futuro num planeta pequeno e finito que oferecerá cada vez menos recursos, implantará competição crescente e, por isso, exigirá administradores cada vez mais versáteis, flexíveis, adaptáveis, cultos, bem informados; capazes de enxergar o potencial de cada homem de sua equipe, liderá-los, treiná-los e lançá-los no campo de trabalho para vencer cada desafio, transformando dificuldades em oportunidades? Ou ainda estão dormitando na ignorância, vinculados a articulações interesseiras e valores oligárquicos de séculos passados, que teimam em agir nas sombras e em querer manter o povo escravo da pobreza e da ineficiência por estar longe do acesso fácil à educação de alta qualidade e submisso a administrações despreparadas, incapazes de entender que o mundo moderno esta super veloz e exige políticas eficientes, competitivas e tão dinâmicas quanto ele?
            Se você ainda esta em dúvida e não tem respostas para estas perguntas, não diga que tem condições de votar, porque estará dando uma de ultrapassado, obsoleto e ignorante. Pense, leia, atualize-se, estude, analise e o dia que puder respondê-las, será um apaixonado por política eficiente e com sua fiscalização e participação a cidade, que tanto ama, entrará em aceleração máxima rumo ao futuro.
            Não faça da sua cidade uma pobre protagonista do: era uma vez uma cidade, que acreditou em mágicos, dormiu no ponto, o cachimbo caiu, ela parou e esta comendo poeira do mundo dinâmico, tecnológico e moderno a mil por hora...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

PARE, OLHE, ESCUTE! PERIGO! LA VEM O TREM DA ELEIÇÃO!



Há anos, quando menino, lá nos fundos da nossa casa, uma vez por semana chegava o trenzinho que vinha estremecendo a terra, apitando e fumegando, soltando labaredas vermelhas por baixo e um grande tufo de fumaça negra pela chaminé. Ao ouvirmos ao longe o apito insistente corríamos para assistir ao espetáculo, conferir quanta mercadoria chegava e se havia viajantes para desembarcar, quem eram, suas roupas, o falatório e demais novidades.
Naqueles tempos de estradas ruins, quando mal se podia contar com um precário serviço telefônico e cartas demoravam uma vida para chegar, o tumulto do trenzinho era o que havia para sintonizar o povo com o mundo distante e principalmente a criançada, sempre ligada em novidades. Esta sim, gostava mais ainda da barulheira, do vai vem das caras diferentes, das gorjetas para carregar bagagens, da alegria dos pensionistas à espera do vagão pagador, dos embrulhos coloridos nos tempos do natal, das novas máquinas para as fábricas de tecidos, dos carregadores fortes que levantavam dois sacos de farinha de uma vez e ficavam branquinhos como o Fantasma Gasparzinho. Certa vez um deles ganhou o apelido de “gatão”, porque, segundo informação nunca confirmada, teria comido um rato na estação, a fim de ganhar como recompensa um copo de pinga da boa. O show não ficava apenas por conta da imagem assustadora do gigante Ambrósio comedor de ratos, mas também da pompa do desfile dos melhores carros da cidade, dos senhores e seus ternos impecáveis à procura do jornal com notícias da capital e do charme das viúvas e solteironas esperançosas dum encontro sonhado com certo príncipe encantado, que pudesse apear do trem pronto e disposto a assumir compromisso sério, pois todas sabiam como ninguém cozinhar, costurar, bordar, lavar e passar. Outras qualidades se tinham, não sei informar...
Mas como nada na vida é só alegria, certo dia, quando lá vinha o trem bufando que nem boi bravo, um mais apressado resolveu atravessar seu caminho num carrinho que falhava mais que foguete na chuva e o trem lhe partiu ao meio, jogou-o há cem metros de distancia sem dó nem piedade matando todos que só queriam chegar a tempo na estação. Aí foi choradeira pra todo lado, prejuízo material, prejuízo social e tristeza que durou pra mais de ano. E por que teria acontecido aquela tragédia, por que o trem não parou, por que passaram em seu caminho? Perguntas e mais perguntas seguidas de poucas respostas. Os mais conformados diziam que foi pura fatalidade a morte do compadre Teodoro, pessoa querida e toda a sua familiagem. 
Infelizmente a paz dos tempos de criança duraria pouco, pois o que ninguém poderia imaginar é que em poucas décadas o mundo e o Brasil passariam por uma avalanche desenvolvimentista e em pouco mais de quarenta anos teríamos computadores, internet, televisores alta definição, aviões super-rápidos e juntamente com tudo isso uma vida cheia de tribulação, compromissos, competição, muita corrupção, frustração, depressão e medo do futuro incerto.
O trenzinho e sua festança ficaram lá no passado, foram para o museu do fundo das queridas lembranças; de tão especial lhe deram o carinhoso nome de “Maria Fumaça”. O senhor Gatão certamente morreu de congestão, as senhoras viúvas e solteironas foram felizes para sempre, a cidade cresceu e virou uma confusão, eu rodei mundo e vim parar em São Vicente de Minas, mas aprendi muitas lições. Uma delas é que a estrada da vida é cheia de encruzilhadas, tão perigosas quanto aquela da Maria Fumaça espatifando o velho Teodoro.
Do alto dessas boas lembranças, de muito mais idade e apoiado em larga experiência me ponho a admirar o passo da vida em condições de explicar parte do tanto sofrimento das pessoas. Pagam caro porque          vivem distraidamente. Não param, não olham, não escutam! Caminham para o perigo como Teodoro ao encontro do trem. Por isso aqui vai o grito de alerta: ACORDEM! Prestem máxima atenção que lá vem o trem da eleição esperto que nem um cão, carregado de fantasias, sonhos, cores, música, promessas impossíveis e homens e mulheres muito espertos! Abram os olhos com os políticos profissionais que passam a vida inteira à custa do povão, sua suada contribuição e inocente distração! Cuide-se para não se comportar como o senhor Gatão comedor de ratos em troca de nada! Esse trem não traz homens e mulheres encantados capazes de transformar sofrimento em felicidade; na sua maioria transporta lobos vestidos de cordeiros.
Vá ao trem da eleição com bastante calma e atenção. Antes pare, escute bem, olhe para a história da sua vida, faça boas análises das propostas e promessas, despreze a festança, o foguetório, a barulheira, seus príncipes encantados, a tanta fumaça negra ou branca, não importa, porque ela pode cegar e impedir sua capacidade de enxergar o perigo.
Quando você vota, esta confiando os tesouros da sua vida aos cuidados de outros. Você emprestaria dinheiro a alguém desconhecido, que não tenha boa conduta e vive de maneira suja? Não se esqueça que dia de eleição não é dia de festa, nem bandeirinhas, mas de seriedade, de reflexão e seu voto é uma preciosidade de muito valor. Não o troque ou venda por tijolos, telhas, passagens, caronas, consultas, cerveja, favores baratos, dentaduras, tapinhas nas costas e falsas promessas; porque estará procedendo como o comedor de ratos. O político que compra sua confiança depois compensara as despesas na calada da noite, assaltando os cofres públicos, fazendo negociatas, super-faturando serviços e materiais.
Outra coisa de grande importância que você deve prestar muita atenção é com o CANDIDATO BIÔNICO. Sabe o que significa isso? O CANDIDATO JÁ GANHOU, porque conta com o apoio da máquina administrativa e seu grupo controlador. Conheça bem esse grupo. Não se esqueça que quem deixa o poder não apita mais nada e nem sempre as cabeças pensam igual. Cuidado que o candidato biônico poderá ser pior do que a encomenda. Fuja da FICHA SUJA e desconfie do RISADINHA, o super-simpático, que vive sorrindo mesmo sem graça nenhuma.
Não condene sua cidade a quatro anos de atraso, pois o reflexo negativo poderá ser de vinte ou mais e você entrará para a história como Teodoro morto na encruzilhada debaixo do trem da alegria lotado de políticos realizados e muito felizes morrendo de rir de você. Aí não adiantará se lamentar, porque, como diziam nossas queridas vovozinhas: - dor de arrependimento cura na cama que é lugar quente.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

AMAZONIA AZUL E AS FORÇAS DESARMADAS DO BRASIL

              A televisão, num dos seus programas humorísticos apresentado há muitos anos: o “BALANÇA, MAS NÃO CAI” criou uma personagem interessante para parodiar o coronelismo nordestino e ao mesmo tempo zombetear dos militares que governavam o Brasil. Tratava-se do desastrado e pândego coronel das Forças Desarmadas do Brasil. O patusco militar trajava terno de linho branco, ostentava um chapelão de abas largas, botinas pretas, esporas e o indefectível óculos Ray Ban. De vez em quando, ao se aborrecer, sacava o revolver enferrujado e mal carregado.  Diante do vexame da falha do tiro ele o arremessava no oponente e ameaçava aos berros:
- da próxima vez em te pego!
             Depois de tantos anos a imagem do velho coronel retorna oportunamente à lembrança diante do também velho, porém negligenciado, desafio do Brasil salvaguardar suas gigantescas riquezas naturais e sua inefável soberania. Logo depois da abertura política e da posse do presidente Sarney, quando os retornados do exílio dentre eles os fantasiosos neoliberais, começaram a crescer no cenário político nacional, deu-se início à discussão sobre o real papel das forças armadas brasileiras, cuja imagem enxovalhada, trazida dos tempos da ditadura, era fantasmagórica demais para os defensores dessa democracia pirotécnica* que sonhavam instalar no país.  Obviamente temiam que os militares não se contivessem ao seu papel precípuo nas artes da guerra e foram contra sua revitalização tecnológica interpondo o argumento de que o Brasil é um país de tradição pacífica, circunscrito entre vizinhos amigos e que, em caso de ameaças mais sérias, os Estados Unidos se incumbiriam da nossa defesa. Além do mais, havia centenas de prioridades no âmbito social – as quais não cumpriram nem dez por cento – que deveriam merecer atenção maior que a simples perda de tempo e dinheiro investido em algo de menor importância, que o país podia e devia prescindir.
            Daquela época em diante, nossas forças armadas impuseram-se um silêncio sepulcral e restringiram-se aos muros dos quartéis, sem verba nem para gasolina e manutenção adequada da frota; muito menos para novos aparelhamentos e modernização tecnológica. Os salários do pessoal foram minguando a ponto de um oficial general ganhar menos que muitos coronéis de polícia pelo país afora. O contingente foi reduzido e a semana de trabalho não mais incluía, nem as tardes de quarta, nem muitas sextas feiras.
             Enquanto isso, a farra com os recursos públicos se multiplicava irracionalmente em todas as esferas do poder, desde a prefeitura mais simples, até os mais altos escalões governamentais. Na outra ponta da linha trataram de azeitar os motores da engrenagem tributária a ponto de estrangular o contribuinte com uma das maiores cargas tributárias da galáxia e de consolo uma oferta de serviços em pé de igualdade com o Gabão. Em seguida quebraram todos os bancos estatais e depois os rifaram juntamente com outras grandes empresas públicas insolventes pela roubalheira sempre escudados na desculpa esfarrapada de que: “mais valiam em mãos alheias do que em poder do governo”.
            De quebra roubaram do Brasil sua condição de grande exportador de armas de guerra e navios, certamente por não acharem conveniente um país habitado por um povo altamente civilizado e pacífico tratar dessas coisas brutas capazes de machucar interesses estrangeiros. Fernando Henrique, diante da imponência arcaica e inoperante do porta-aviões Minas Gerais, foi à França adquirir outro com histórico de honrosos serviços prestados à marinha daquele país na segunda grande guerra, cujo término registrara-se há quase sessenta anos, pelo qual o país investiu a desprezível importância de vinte e quatro milhões de dólares e ainda tiveram a brilhante idéia de batizar a obsoleta enterprise* barroca com o santo nome de São Paulo.
            Nesse ínterim, alguns governantes de países reconhecidamente expansionistas declaravam explicitamente, liderados pelo presidente russo Michail Gorbatchov, que a biodiversidade amazônica e suas inimagináveis riquezas deveriam ser consideradas de interesse internacional, cuja exploração deveria ser monitorada por observadores estrangeiros. Alguns anos mais tarde, o mundo passaria a discutir a eminente escassez de água doce em alusão diretas aos imensos recursos hídricos amazônicos e brasileiros. E mais recentemente o visionário e temperamental presidente da Venezuela, Hugo Chaves; vem trabalhando para transformar seu país numa ilha fortificada inundada de armamentos russos, exatamente ali nas nossas barbas auriverdes.
            Até quando a prodigiosa inteligência brasileira continuará anestesiada pela crença de que não necessitamos de grandes defesas, ninguém pode prever. Contudo, seria bom se a crença de que Deus é brasileiro tivesse mesmo fundamento, pelo menos no combate ao estrabismo estratégico da nossa inteligência burra.
             Mas felizmente depois que a Petrobrás anunciou ao mundo a gigantesca descoberta de petróleo na camada do pré-sal e a quarta frota da marinha americana foi avistada rondando nossas fronteiras marítimas e petrolíferas o presidente Lula apressou-se a telefonar para Jorge Bush, a fim de lembrá-lo da velha amizade que sempre norteou as relações americano-brasileiras e mais recentemente, com o acirramento da contenda Argentino-Britânica pelo controle das Ilhas Malvinas, o Brasil discretamente se posiciona a favor da Argentina disfarçado na falsa desculpa de que somos povos irmãos, quando, na verdade, a grande preocupação é com a rota de navios de guerra ingleses próxima ao nosso quintal aurífero.
            Graças ao bom Deus brasileiro, Lula, enfim, lembrou-se de investir na armada marítima incrementando a construção de submarinos a propulsão nuclear com tecnologia nacional. Pena que o projeto, se esse não for mais um devaneio governamental, somente deverá começar a virar realidade daqui a, pelo menos, dez anos. Até lá, se as escassas verbas governamentais faltarem e americanos ou outros quaisquer crescerem os olhos nos nossos ovos negros, talvez nos sobre a opção de agir como aquele coronel grotesco e atiremos nossas cangalhas flutuantes e voadoras contra as robustas fortalezas atômicas dos amigos; obviamente sem nos esquecermos do grito de guerra:
“DA PRÓXIMA VEZ EU TE PEGO!”.


domingo, 11 de março de 2012

PATRIA AMADA MÃE HOSTIL


             A família, como instituição básica na formação da personalidade, da estrutura cognitiva e emocional, é o primeiro círculo de convívio do ser humano, compreendendo como tal pais, irmãos, avós, tios, primos e desde a mais tenra idade incutem-se na cabeça da criança os importantes valores humanísticos que esses atores representam.
           Mais tarde, entram em cena ícones religiosos e passa-se a entender a idéia de Deus e seus valores intrínsecos pela força da fé, pois somente através dela se é capaz de processar imagens abstratas e independentemente da cultura a criança poderá absorver tais conceitos, ainda que de maneira lúdica. Gradativamente o círculo de convivência começa a se expandir sobremaneira com a entrada em cena dos amigos, primeiramente os vizinhos, depois os escolares e, à medida que o indivíduo amadurece suas relações sociais ampliam-se estando seu círculo social em contínua expansão.
            O convívio social é uma via de mão dupla onde a dinâmica da convivência exige respeito mútuo e para isso regras são estabelecidas segundo a cultura local e seus paradigmas. No campo religioso exigem-se disciplina, submissão, doação e outras normas que vão estabelecer limites aos naturais impulsos do animal que habita o ser humano. Em assim sendo o indivíduo começa a sofrer certas restrições em prejuízo da sua liberdade e individualidade, mas ainda será possível resgatá-la em parte ou pelo menos se tem essa sensação, uma vez que ele seja consciente de que o convívio social é flexível, pois amigos podem ser admitidos ou descartados do seu grupo de convívio; assim como o estado de fidelidade a valores religiosos também seja perfeitamente renunciável em conseqüência de que ninguém esteja obrigado a se submeter a nenhuma regra pertinente a qualquer religião, obviamente considerando-se estados laicos e democráticos. Portanto, convive-se em determinado grupo ou cultuam-se valores religiosos até o momento em que sua prática e dinâmica sejam prazerosas ou compensadoras.
            Mas a coisa começa a se complicar bastante, quando lhe incutem e impõem valores cívicos. Logo nos primeiros anos escolares aprende-se a desenhar a bandeira nacional, cantarolar o hino da pátria e adorá-la acima de tudo, até de Deus. Numa perfeita lavagem cerebral, incute-se no impúbere a idéia dadivosa de que a Pátria será sua mãe gentil por toda vida e que, se necessário, doará a vida em sua defesa.
            Ora; sua família à qual ele deve a vida e formação, jamais lhe pediu ou pedirá tamanho sacrifício! Deus, muito menos. Amigos, certamente nunca lhe pedirão tal barbaridade. Mas sua pátria sim; essa, desde cedo, lhe exigirá o sacrifício extremo em nome dos seus interesses e defesa, ainda que tais interesses sejam implícitos e sórdidos, negociados na calada da noite por certos canalhas desprovidos de qualquer mínima envergadura ética e moral, trabalhando em defesa de interesses ilegítimos de minorias privilegiadas.  O presidente americano John Kennedy, certa vez, num discurso antológico proferiu a célebre frase: - “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti; pergunta o que tu podes fazer por ela.” Pura lavagem cerebral exatamente na pátria gentil que mais envia seus jovens ao calabouço das guerras fúteis em nome de um ideal megalomaníaco de expansionismo material, cultural, subordinação e dominação de outros povos, na maioria das vezes indefesos e inocentes.
            No Brasil a lavagem cerebral torna-se ainda mais absurda diante das injustiças que a mãe gentil comete com seus filhos. Um país que produz o sexto produto interno bruto (PIB) do mundo na contrapartida de um índice de desenvolvimento humano (IDH) inferior ao de quase todos os países a América Latina ou semelhante à maioria das nações africanas. Uma nação que finge desconhecer que um quinto dos filhos discriminados vive abaixo da linha de pobreza ou que não se envergonha de manter grande parte de seus idosos aposentados no esmagamento torturante do empobrecimento continuo, enquanto que uma casta desses mesmos idosos se dá ao luxo com altos salários, somente porque ocupou cargos públicos em instituições governamentais que ostentam baixíssimos índices de eficiência, se comparadas às do setor privado. Uma pátria desnaturada que não dispõe aos seus jovens escolas de qualidade, a fim de mantê-los como reses manipuláveis, conquanto acene com um sórdido assistencialismo insano que dá com uma mão e tira com a outra no embalo da carga tributária mais elevada do mundo.
             Pátria mãe hostil, rebelde, opressora, insolente e desobediente às condenações judiciais, mantendo inocentes indefesos definhando na expectativa de receber direitos transitados e julgados legalmente, portanto, legítimos; na contrapartida mantendo uma casta de políticos inúteis e inumeráveis servidores públicos nababescos atrelados a um sistema gerencial público perdulário e ineficiente.
            Mãe carnívora que empobrece seus filhos com tributação em cascata e os atende como animais em hospitais semelhantes a abatedouros; que trata professores como meros idiotas; que com o peso de sua pata de ferro esmaga empresas saudáveis roubando-lhes a saúde financeira e a competitividade, enquanto poderia investir em suas potencialidades as fortificando com políticas desenvolvimentistas, para que competissem em igualdade de condições nos concorridos mercados doméstico e internacional, assim incrementando de maneira justa a geração de impostos e ainda, de quebra, criando condições para a geração de milhões de empregos sustentáveis.
             Finalmente, no fim da sua vida, sovado de tanto pagar e pouco receber, velho e cansado, pensa que é dono do seu parco patrimônio construído à custa de suor, muito sufoco, planejamento e economia; se esquece que tem um herdeiro bastardo, aquele mau agouro parasita que não lhe ajudou em nada. Quem será ele? Sua pátria amada e mãe gentil, sem dó nem piedade, lhe abocanhará um grande naco dos bens, numa voracidade canina. E ainda dará a ganhar a um bando de abutres bem aventurados pela sorte das dinastias cartoriais instaladas no país desde tempos coloniais. Jamais se esqueça ainda que as agruras da pobreza que humilha e castiga, sua indigna baixa renda, a falta de oportunidades acadêmicas e profissionais ou as humilhações que sofre pelos descaminhos da pátria são culpa da mãe gentil, que deu tanto para poucos; quase nada lhe sobrando.
            Deixe-nos em paz gentil verme que coroe a esperança; que esgota a paciência; que é compassiva com os fortes e inquisitiva com os fracos; que coloca em risco o sucesso da descendência; que normatiza, mas não racionaliza; que se enriquece, mas não é equânime; que promete, mas não cumpre; que é leniente com sua súcia de mercenários e caudílica com quem trabalha duro dentro dos parâmetros da ética e da lei. Não amamos esse carrasco que trucida e pouco dá em troca.
            Amamos sim nosso Brasil brasileiro, suas mulatas e mulatos faceiros, cheios de graça e fantasia no samba gingado do carnaval; amamos sua maravilhosa simbiose racial colorida de paz e respeito mútuo; amamos seu esforço hercúleo à democratização e detestamos sua ditadura econômica cruel, desleal e assassina; amamos nossos heróis, os brasileiros justos, a natureza tropical, o hino nacional, os contrastes continentais, a alegria nata, o folclore, o nordeste, o norte, o sul e o coração pulsante do sudeste paulista, mineiro, carioca e capixaba. Amamos os milhões que despertam antes do sol; amamos a gigantesca e intrigante Amazônia com seus segredos e riquezas por desvendar, as chapadas e sua biodiversidade, os côncavos e os convexos mineiros. Somos apaixonados pelo chão fecundo que em se plantando tudo dá, por Copacabana, pelas Cataratas do Iguaçu, pela agitação e motricidade da Paulicéia desvairada, por Floripa e sua eletrizante juventude, pelo futebol pentacampeão, pela racionalidade Curitibana. Embalamos-nos no bailado do frevo e do baião e nos encantamos nas festas de Congado, de São Pedro e São João. Refrescamos-nos e nos enamoramos à beira das lareiras das neves do sul e nos aquecemos no calorão Mato-grossense.
            Enfim, somos brasileiros, temos família, acreditamos em Deus, convivemos com os amigos que amamos e damos a vida por esse Brasil divino, mas abominamos a Pátria odiosa, essa mãe hostil a serviço de espoliadores. Essa, digna de ninguém; a deixamos passar na cadência tétrica do luto, sem honrarias, nem folguedos.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

DESEMBARGADORES EMBARGAM NOSSA ULTIMA ESPERANÇA

    Há dois mil e quinhentos anos os pensadores já se preocupavam com a sanha do Estado em explorar o povo a fim de aquinhoar benevolentemente a elite. Entendia-se como de direito a maioria pagar para que alguns vivessem muito bem; afinal, o Estado sempre fez-se representar pela nobreza e em assim sendo, ela precisava ser defendida, ovacionada, imitada, respeitada e, por que não, perpetuada. Assim nasceram as dinastias comumente comandadas por linhagens de senhores nobres, que se mantinham no poder apoiados na força política das elites e ambos valiam-se um do outro mantendo a plebe sobre controle pelo medo da espada, do confisco, da guilhotina, da fogueira ou do degredo.
    Se era direito então era justo. Daí tem início a dialética entre os opostos justiça e injustiça. Afinal, elas existem? Se o cidadão esta subordinado a um sistema de governo injusto, mas cumpre seus deveres cívicos, então ele não seria justo? Partindo dessa premissa é correto concluir que justiça e injustiça sejam subjetividades interdependentes e subordinadas a variáveis culturais, políticas, religiosas válidas em determinada época ou lugar, mas que podem ganhar ou perder importância ao longo do tempo e da evolução daquelas mesmas variáveis? Obvio que sim, pois a humanidade nunca foi uma massa estática e através mesmo da discussão e da contradição de velhos valores é que aconteceu a evolução para o alcance do que hoje se considera como civilização moderna. O adjetivo moderna, aí funcionando como uma filigrana dá ao conceito de civilização certo refinamento que nos transporta direto à idéia de democracia. Nessa situação o Estado perde sua condição de agente absoluto, pois sede espaço ao cidadão, que passa a figurar como protagonista central do Estado Democrático, cuja finalidade precípua não é mais a de se fazer representar por um ditador e sua elite centralizadora, mas a de defender e proteger o direito às liberdades básicas do ser humano, quais sejam: liberdade de expressão, de ir e vir, de educar-se, de investir, de procriar.
     Todavia, esses direitos pétreos, com o aperfeiçoamento da filosofia democrática ganharam status de legalidade e passaram a ser regulados pela Constituição e por outros códigos legais, sendo o Poder Judiciário o pilar principal dessa salvaguarda. Entretanto no Brasil, país que se auto-intitula a segunda maior democracia do mundo, andam acontecendo fatos, que nos levam a ter certeza que a democracia brasileira é uma falácia, pois vários desses direitos ainda não são conquistas plenas e aqueles que já se concretizaram andam sendo vilipendiados pelos próprios agentes, cuja missão é exatamente a de regular e fiscalizar as relações entre os cidadãos e destes com o Estado.
    Nessa democracia capenga, depois de vermos um senador da República, eleito democraticamente, ter o poder de calar um veículo de informação da importância do jornal ‘O Estado de São Paulo’, termos que engolir figurões, que deviam estar atrás das grades, conduzidos ao poder como se anjos fossem ainda temos que tragar novo boom de notícias que enojam até quem tem um mínimo de dignidade, dando conta de que o poder judiciário, nossa última esperança, também anda se esquecendo de que os cidadãos brasileiros não são presas, mas patrões, que merecem respeito, pois os pagam salários absolutamente dignos, muitas vezes maiores que os de outros profissionais, que também muita dureza enfrentaram, para chegar aonde chegaram e sem dúvida carregam tanta ou mais responsabilidades que esses impolutos senhores togados.
    É um chocante achincalhe ouvir dizer que funcionários públicos de um país covarde como o Brasil, que não valoriza professores, nem respeita seus velhos e muito menos crianças, seu maior patrimônio, que usurpa de quem gera empregos e riquezas a maior carga tributária do mundo, pagar a qualquer servidor público quantias que chegam a estratosféricos seiscentos mil reais mensais (US$ 353 mil dólares para ficar mais elegante), enquanto que setenta por cento da população assalariada pelo mínimo levará oitenta e um anos para perceber o mesmo montante, lembrando que esse tempo equivale a quatro gerações. Entretanto, o pior ainda estava por vir, quando o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, tranquilamente tentando justificar o injustificável, assegurou que era tudo dentro da lei e que estava esperando a fiscalização chegar de braços abertos. Ah, antes que me esqueça, ainda há que mencionar aquele adicional de insalubridade! Certamente seja referindo-se à toxidade da tinta das canetas Mont Blanc ou ao cloro da água que abastece os bebedouros do Tribunal.
    Obvio que nós cidadãos brasileiros, portadores da maior paciência da história da humanidade, acreditamos que esta tudo dentro da legalidade. Afinal, o que poderia ser ilegal nas casas onde se falam e se escrevem em nome da lei? Nossa única dúvida, que talvez os nossos meritíssimos desembargadores não respondam, é se essa tal lei seria ditada por alguma divindade do bem ou do mal simpática a todos aqueles que se vestem de negro?
    Bom! Do alto da nossa dolorosa indignação, diante de imagens e justificativas grotescas, que aqui nos rincões mineiros conhecem-se como “música para boi dormir”, necessário é que voltemos ao exercício dialético de acima. Num país injusto como o Brasil é justo alguém merecer regalias imperiais de tal vulto, ainda que seja funcionário publico de alta patente? A resposta deixo a cargo da sensibilidade do caro leitor.
    Apenas para concluir; diante desses absurdos nacionais, me vem à lembrança a voz do meu velho e saudoso pai, um daqueles exemplares de homens quase extintos, pois nunca ouvi dizer que ele tivesse preço, atestado passado pela população inteira de uma cidade que teve a honra de conhecê-lo, a qual dizia: “meu filho, as leis podem carregar a mácula da insensatez dos homens, por isso é preciso que aquele que tem nas mãos a competência para decidir o destino de alguém, saiba aplicá-las de acordo com a consciência, pois ela não convive com interesses, mas, sobretudo, com a ética e a moral”.
    Baseado nessa pérola podemos considerar que seja justo, porque é legal, nossos monárquicos desembargadores serem agraciados com tamanhas benesses, uma vez que certamente seja mesmo um extraterrestre o autor da lei, a qual os confere tão cintilantes vantagens; no entanto seria ético e a MORAL agradeceria, se uma explosão de luz os fizesse desconfiar que o poder de modificá-la reside em suas próprias mãos para o bem de um país aonde há trinta milhões de abandonados que não teem onde cair morto, obviamente não se esquecendo do resto, que paga por uma cesta básica quarenta e cinco por cento de imposto, cuja fome, avitaminoses e exclusão são suas inseparáveis companheiras.