Desde meados do século XV, quando os europeus
lançaram-se ao mar em busca de riquezas, a fim de regar suas combalidas
economias destruídas pela gastança desmedida da nobreza preguiçosa,
irresponsável e inútil e que as primeiras caravelas alcançaram as costas ricas
das Américas dando início ao maior holocausto humano, físico, cultural e
econômico registrado pela história nos últimos seis séculos; a Europa se
transformou no maior centro atrator e consumidor de recursos produzidos
exclusivamente baseados na escravidão e no extrativismo predatório. Da África
transferiram sob ferros mão de obra e na América impuseram-se pela força das
armas, da mentira e do machado. Finda a escravidão legal no século XIX,
iniciou-se outra: a cultural e industrial com a Grã Bretanha no comando e mais
tarde os Estados Unidos.
Desde então, esse funesto ambiente foi
responsável pela implantação e perpetuação da miséria crônica e de tantos
outros efeitos colaterais, tais como: dívidas externas impagáveis, ignorância,
populismo, ineficiência estatal, obsoletismo tecnológico, desemprego, violência
social e mais todo o rosário de misérias humanas que condenam a mais rica
região do globo a oferecer péssima qualidade de vida aos seus cidadãos. Seis
séculos de assalto às riquezas naturais estratégicas, massacre cultural e
exploração intensiva através de monoculturas como a da cana de açúcar,
propiciaram à Europa e seus afilhados conforto e consumismo acima dos limites
éticos e morais. Enquanto a minoria abastada, habitante desses países, consome
90% de tudo que é produzido no planeta deixando um rastro de impactos
ambientais irreversíveis, 80% da humanidade localizada na América Latina,
África e outras regiões pobres, sobrevive precariamente com as sobras e com as
dores e efeitos colaterais da miséria, tais como epidemias, fome, avitaminoses
e baixas perspectivas existenciais.
Seis
séculos de vistas grossas, mesmo após ter início a iluminada era moderna,
quando se passou a reconhecer direitos inalienáveis do ser humano que prevêem
liberdade e dignidade a todos os homens e mulheres independemente da cor da
pele e da cultura, o planeta continua servindo e abastecendo apenas à pequena
parte habituada a se auto considerar dona de tudo. Não há como fugir disso,
pois todos os interesses políticos e econômicos convergem para o seleto grupo
que jamais abre mão de privilégios, mesmo que fúteis. Em nome do bem estar e da
salvação da grande parcela de degredados pela falta de sorte de ter nascido no
lugar errado ninguém mexe uma palha sequer e o abismo entre países pobres e
ricos agiganta-se progressivamente. Há teorias absurdas que chegam a considerar
a África em processo acelerado de extinção por inanição e desordem irreversíveis.
Uma vergonha para a humanidade, mas ninguém se importa, pois que lucro daria perder
tempo naquele quintal? Bom seria se pudessem atirar aquela parte do planeta aos
monstros galácticos para que fizessem dela bom proveito e a defecassem noutra
freguesia! Afinal, nem mais mãos escravas podem fornecer e para pasto universal
ainda teem a pobre rica América Latina, carregada de água doce, reservas
minerais estratégicas, muito petróleo e um povo pacífico quanto a sombra de um ébrio!
O
que eles próprios não podiam imaginar é que chacais também podem morrer de
congestão. Exploraram tanto, empanturraram-se em demasia e agora estão correndo
o risco de implodir, vítimas do próprio veneno: ‘ambição e egoísmo’. A Europa
passa pela maior crise da sua história, nem mesmo comparada às conturbações causadas
por nenhuma das duas grandes guerras mundiais, agravada ainda pela falta de
perspectivas de melhora e pelo iminente risco de cooptar o resto do mundo para
o fosso dos pobres falidos desesperados. Quase metade da sua juventude esta
desempregada, situação similar a que viveu a América Latina na década dos
noventa e que eles souberam muito bem aproveitar para ganhar muito dinheiro
jogando lenha na fogueira com seus subsídios e dumpings.
A
única e fundamental diferença é que o sofrimento dói muito mais em quem esta
acostumado na abastança. Grande parcela dos latinos e africanos esta habituada
a viver com fome consumindo menos de mil calorias por dia, alimentando-se de
esmolas e superlotando favelas. Outra parcela ajustou-se como pode no
subemprego diante das intempéries da globalização e da frieza dos investidores internacionais
com seus capitais sem bandeira e compromisso. E outra parcela, menos conformada,
ingressou-se no mundo do crime, para fazer explodir os índices de violência
social abarrotando presídios mais caros que escolas.
Estamos
torcendo para o barco não afundar, mesmo porque afundaríamos juntos, mas seria
muito bom, se, pelo menos, a iminência do sofrimento fosse útil para acordar
aqueles que há seiscentos anos deleitam-se confortavelmente sobre os despojos
dos pobres e fracos do mundo, tornando-os menos surdos e mais solidários.
É
bom que se esclareça que não estamos aqui a defender nenhuma teoria marxista,
uma vez que seus bandoleiros também promoveram holocaustos e sempre se
banquetearam de carniça. Ideal seria que os poderosos do mundo entendessem, de
uma vez por todas, que a única via possível para o progresso sustentável e com igualitarismo
é o respeito mútuo há muito ensinado pelo homem mais famoso da história: Jesus
Cristo.
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