AS EMPRESAS PÚBLICAS, A FARINHA E VOCÊ
Era
mês de dezembro e intenso calor arrebatava os ânimos dentro e fora da sala. As
férias estavam na primeira semana, mas naquele dia fatídico tivemos que
comparecer cedo à Faculdade, para importante palestra do ilustre Delfim Neto,
àquela época Ministro do Planejamento do presidente João Figueiredo. Afinal não
era sempre que se tinha a oportunidade de ver e ouvir ao vivo a maior
autoridade brasileira em assuntos macro econômicos e financeiros. Ademais, ouvi-lo era desejo de todos que orbitavam
no mundo das ciências gerenciais e, principalmente nós do sexto período, que
tínhamos um trabalho marcado para depois das férias, cujo tema seria assuntos
tratados no encontro com o ilustre ministro. Há trinta e muitos anos atrás
nossa moeda era o extinto “Cruzeiro”, o qual viria a ser substituído pelo
“Real” em meados de mil novecentos e noventa e quatro, no Governo do ex-presidente
Itamar Franco.
Naquelas
quatro horas ouviríamos o ministro falar sobre Inflação, Comércio Nacional e
Internacional e Câmbio. Considerando-se que a economia brasileira é ciclotímica;
mais ou menos como uma gangorra, me lembro das palavras do conferencista tão
adaptadas à crise de hoje que se tem a impressão de estar num perfeito túnel do
tempo. Naquela época também a inflação era altíssima, o Cruzeiro se
desvalorizava a cada dia e o desemprego invadia os lares brasileiros.
A
palavra gangorra propositalmente usei para ilustrar algo que nunca muda, enquanto
sobe e desce e nunca sai do lugar. Um exemplo que costumo usar, quando me
refiro ao Brasil, um país que se autoqualifica “do futuro”, mas que nunca
avança e, quando o faz, é sempre para baixo ou para trás. Veja o leitor que a
prova da afirmativa esta aí nos olhos de quem quiser ver. O Brasil gangorreou
para cima dez anos, para baixo três e continuará assim por mais quanto tempo?
Quem se atreve a dizer? Enquanto isso nossa vida passa e pagamos os prejuízos
com o couro ou com o bolso. Assim também aconteceu nos anos setenta e oitenta.
Mas
voltando ao dia da palestra, a primeira frase que o ministro pronunciou foi:
- “Nesta
guerra, quem menos importa para o governo e para os especuladores é você”.
Aí todos arregalaram os olhos e ele
continuou:
- “Isto mesmo que eu disse. Nas condições que
vivemos hoje, todos estamos empobrecendo, porque nossa moeda esta ficando mais
fraca e cada um está puxando a farinha para o seu saco. Quero dizer Governo e
empresas. Sabem de quem é a farinha? Minha, sua, nossa! O povo é quem entrega a
farinha, porque governo não tem dinheiro. Quem financia o governo é o povo
através dos impostos. Não há outra saída ou se paga ou se paga e ponto final,
senão o país para. Precisamos acabar com a inflação primeiro, para resolvermos
o problema do Brasil. Ela desregula o câmbio, coroe o seu dinheiro e acaba com
nossos empregos”.
Então
perguntamos:
- Mas, se o senhor é ministro do planejamento
o que esta esperando para acabar com ela?
- “Estamos esperando o governo brasileiro
pagar as suas contas, gastar menos e melhor. Estamos trabalhando para isso”.
Daí,
a palestra continuou e o resto não vem ao caso. Vamos nos ater apenas à
resposta. “...pagar as suas contas e gastar menos e melhor...” Na verdade essa
resposta é uma evasiva. Resposta de quem não tinha resposta ou não queria
responder. Entretanto, várias décadas passaram, o Brasil continua gangorreando,
as despesas públicas só aumentaram, principalmente nos últimos treze anos, e o
governo sempre gastando mal.
O
que significa gastar mal? Quando alguém gasta mais do que ganha, gasta mal. E
quando gasta com corrupção, projetos supervalorizados e planejamento ruim gasta
mal duas vezes.
Quando
Lula ganhou a eleição em 2002 – eu votei nele – foi eleito porque falou o que
queríamos ouvir do ministro Delfim naquele dia. Prometeu acabar com a corrupção
e transformar o Brasil num bom gastador, ou seja, haveria gastos menores que o
orçamento. Isso também tinha um significado oculto: Só se poderia gastar mais
se houvesse mais investimento para haver mais arrecadação e aumento do
orçamento. De outra maneira Lula quis dizer que trabalharia para equilibrar as
contas públicas.
Observe
o leitor que um país é como sua casa. Se seu salário for menor que seus gastos,
seus filhos ficarão felizes da vida, mas você ficará inadimplente e seu nome
irá para o SPC. O governo brasileiro fez a felicidade do povo, mas entrou no
SPC internacional, quando não acabou com a corrupção a qual tem alto preço para
os cofres públicos, criou programas sociais caríssimos e investiu no
empreguismo. Numa ponta da corda o custo operacional do Estado Brasileiro ficou
muitas vezes maior e na outra, onde fica o caixa, as receitas ficaram dezenas
de vezes menores.
Mas
por que a receita ficou menor? Basicamente, porque o governo amedrontou os
investidores com suas campanhas ideológicas comunistas criando um clima de
incerteza. O horizonte ficou nublado e ninguém
sabia o que era melhor: ir para a janela ver o bonde passar, investir fora do
Brasil ou acreditar em Papel Noel comunista, que a cada dia afina mais seu
discurso contra o capital e contra exatamente quem gera emprego e paga impostos
pesados. Os programas sociais colocaram mais dinheiro na praça e o povo com
mais dinheiro fica feliz como ficou e quis gastar mais. Assim aumentou-se a
procura por bens de consumo, mas com a queda de investimentos houve também queda
de oferta, houve desequilíbrio mercadológico, a inflação aumentou, o dinheiro
perdeu valor, o povo deixou de gastar, a arrecadação caiu e ligou-se a bomba
relógio. O navio verde e amarelo começou a afundar.
Se
o leitor perguntasse hoje ao ex-ministro Delfim, qual a solução ele responderia
com a mesma evasiva. Mas eu respondo que
a solução não é simples, mas é possível. E qual seria ela?
1º - Obrigação legal de privatizar tudo que é
público, para desalojar os corruptos. Assim a arrecadação de impostos
aumentaria algumas dezenas de vezes, as despesas diminuiriam outras dezenas de
vezes e o governo teria mais dinheiro para gastar bem.
2º - Redução de 80% dos juros e da carga tributária
para quem produz.
3º - Redução paulatina do empreguismo público
nas repartições oficiais. Novas contratações só admissíveis por justificativa
aprovada pelos parlamentos.
4º - Garantia constitucional de proibição da
veiculação de propaganda comunista da mesma forma que se criminalizou qualquer
tipo de apologia ao Nazismo.
5º - Abertura total e irrestrita dos mercados.
6º - Investimento de 20% do PIB em saúde e
educação.
7º - Continuação
e até ampliação dos programas sociais, mas em regime de temporalidade. Isso
quer dizer que o benefício seria suspenso depois que o beneficiado fosse
preparado pelo governo para exercer uma profissão formal e estivesse
comprovadamente empregado. Aquele que não se preparasse dentro do prazo
pré-estabelecido, perderia o benefício irrevogavelmente.
Com
essas sete medidas básicas o Brasil entraria no eixo, porque a inflação permaneceria
no patamar civilizado; bilhões de dólares entrariam no país, trazidos por
investidores úteis; o câmbio se equilibraria; o custo Brasil baixaria; dezenas
de milhares de empregos seriam criados; a arrecadação de impostos se
multiplicaria; os serviços públicos ganhariam eficiência; a violência social
perderia fôlego; a Previdência Social deixaria de fechar seu balanço no
vermelho; a mentira deixaria de manchar a imagem do Brasil e a felicidade e o
orgulho de ser brasileiro reinariam para sempre.
Para
isso você não deve acreditar que ser dono de empresa pública é bom para o povo.
Isso é golpe ideológico para se manter no poder à custa da inocência popular. O
cidadão comum nunca foi dono de nada, nem aqui, nem na China. As empresas
públicas pertencem ao governo que sempre fez delas o que bem quis. Os EUA não
têm empresas públicas e é a maior potência econômico-tecnológica do globo.
Ademais sabe manter seus bandidos pés de chinelo e coxinhas de gravata na
cadeia. Acredite nisso, abra os olhos e será mais feliz!
ANTÔNIO KLEBER DOS SANTOS CECÍLIO.
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