Certo poeta, ao definir Deus, sintetizou que Ele é menina e menino. Bela e genial definição altamente representativa da suavidade do criador; capaz de refletir a plenitude da criação, conquanto posicione os seres homem e mulher em extremidades distintas, porém lhes conferindo status de igualdade e alteza máxima. E ainda mais: ao dotá-los de razão, capacidade de amar e plena liberdade para escolher seus próprios destinos, nomeou-os herdeiros, exploradores e transformadores a Sua imagem e semelhança. Temos aí o que reconhecer como perfeita dialética fundamentada nos opostos homem mulher, porém, diante da pura inocência infantil a discussão dialética perde fundamento na fusão dos opostos e assim, deposta da sua natural contraposição, ganha novo status genérico baseado na síntese benevolente do amor angélico de Deus, que a todos ama e considera sem distinção.
Entretanto, diante da grandeza da criação os humanos insistem em ser estrábicos nos seus parâmetros comportamentais e culturais cometendo barbáries incompreensíveis como também incompatíveis com a racionalidade. As homenagens fúnebres pela passagem dos dez anos dos ataques às torres gêmeas são sintomáticas trazendo à lembrança, com grande acuidade, fatos, invisíveis no dia a dia, mas que têm profunda repercussão na consciência de quem ainda consegue indignar-se nesse mundo tecnológico efervescente, aonde parâmetros éticos a cada dia perdem mais espaço cedendo lugar à crueldade fria e pragmática sempre a serviço da dominação ou do lucro a qualquer custo. Enfim, guerra é guerra imperando o vale tudo sem medidas de conseqüências. Homens esmagam homens como se dentre nós houvessem alienígenas compostos de outra matéria mais ou menos valiosa que esses frágeis ossos e carnes que desconhecem raça, cor, cultura; que desprovidos de vida, não valem mais que nada.
Matar por matar, morrer por morrer! Banaliza-se a violência mortífera em detrimento da vida e todos perdem. Mas há ainda os que perdem mais do que aqueles que dramaticamente morrem. Viver na morte é a pior das penas sendo essa a sina macabra de milhões de mulheres, que vivem mortas condenadas à escravidão mórbida ditada por valores culturais exóticos, ditatoriais e cruéis, que fazem questão de descaracterizar os legítimos valores ensinados por Deus em nome da paz, da concórdia, do respeito às diversidades, da conduta ética, da liberdade no gozo da felicidade de todos; independente de raça, cultura ou sexo.
Felizmente diante do lamentável show de intolerância bilateral, um fato vem abrandar o vexame da humanidade e aplacar a nossa vergonha de representantes da única espécie pensante. As viúvas das vítimas do setembro negro foram a Cabul levar condolências às viúvas afegãs daqueles que morreram em batalha. Lá encontraram a miséria humana na essência da palavra: mulheres que não valem mais que a fumaça do espocar das bombas que estremeceram o solo ressequido. Mulheres analfabetas, subnutridas, precocemente envelhecidas, acuadas e assustadas pela violência. Seres humanos sensíveis, indefesos usados e descartados como figuras imorais, cujos gritos de clemência não encontram ressonância nos corações enrijecidos de homens truculentos que vivem a oprimi-las mordazmente, as mantendo cobertas para que não esparjam impurezas cuja fonte não esta em seus corpos, mas nas mentes traquinas daqueles que as observam desprovidos do devido equilíbrio pregado e aconselhado por Deus. Mulheres exploradas em servidão sem paga ou sub-valorizadas por salários aviltantes, prostituídas nos descaminhos da miséria, do desemprego, da exploração sexual. Mulheres escravizadas e emudecidas pela mordaça do medo de violentos covardes ou segregadas nas barreiras da ignorância produzida pela discriminação injusta do capitalismo selvagem, sempre incongruente com os direitos básicos do ser humano.
Ora, mulheres santas; muito mais semelhantes a Deus do que tantos homens; perdoem-nos por continuarmos sem saber o que fazemos! Obrigado por existirem e nos parirem! Obrigado por nos criarem e amamentarem! Obrigado pela vossa santa maternidade que gera, educa e ampara em titubeantes primeiros passos e sabe perdoar pelas tantas vezes que a injustiçamos embarcados no trêfego egoísmo masculino! Obrigado por florirem os jardins infecundos das nossas almas que sem o vosso fértil adubo jamais floriria! Obrigado pela vossa beleza feminina, pela vossa pele macia, pelas vossas mãos e corpos santos que reproduzem, encantam e seduzem! Ó Deus justo e manso; livrai-nos dos cegos e ímpios incapazes de admirar e se curvar diante dessa pintura sacra do quadro da criação!
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