A TOCHA OLÍMPICA E A TOCHA NACIONAL
A Tocha Olímpica atravessou oceanos e chegou ao Brasil vangloriante. Recepção no Aeroporto, discursos, música e foguetório, para receber o símbolo ardente da confraternização e da necessidade de respeito e paz entre os humanos.
Como manda a programação, depois a Tocha viaja pelos rincões do país, a fim de cumprir mais um ritual simbolico e proporcionar ao cidadão comum a sensação de inclusão e participacão. Tudo como se fosse uma espécie de batismo com os ares da paz e da concordia. Ela não pode ser apagada depois de acesa e assim todo esforço deve ser feito no sentido de mantê-la ardente até o encerramento das competições.
Mas diante da tanta emoção e frenesi, algo me chamou atenção. A Tocha foi vaiada e até apagada em vários lugares por onde andou. O paciente leitor já teria pensado no por-quê de tamanho absurdo? Variar um negócio bonitinho e inofensivo daquele!
Pois é! Este é o resultado da penetraçao da outra Tocha, a Nacional. O cidadão está traumatizado! Não aguenta mais levar tanta tocha e ainda ver outra passando na TV, com um fogão na ponta na mão de um brutamontes. Por via das dúvidas, logo assenta no velho sofá de tantas más notícias, a fim de tentar proteger seu glorioso traseiro. Afinal de contas, onde vão enfiar aquilo; logo pensa e se assusta com as semelhanças. Ambas são grossas e compridas, uma anda na mão e correndo a outra, muitas vezes com a mão e parado.
Contudo, infelizmente escrevi isso para lembrar a todos os heróicos levadores de tocha desse país que de nada adianta assentar. A Tocha Nacional é muito mais forte e grossa do que a Olímpica. Entra por onde menos se espera. Pode ser pela boca, pelos ouvidos, pelos olhos, pelas mãos, pelo pensamento; assentado, de pé, dormindo ou acordado.
Se o cidadão vai a um hospital, leva tocha por todo lado. A um supermercado leva tocha no bolso. Se viaja, leva tocha no buraco da estrada e na oficina. Se anda com o farol apagado, leva tocha da Polícia que não sabe que as estradas têm mais buracos do que queijo suíço e mais mato que a Selva Amazônica. Se esta empregado, leva tocha quando perde o emprego. Se desempregado, leva tocha da mulher em casa. Se está em casa vendo TV, leva tocha pela tristeza ao saber de tanto absurdo. Ter consciência que se vive num país onde nada funciona sem botar a tocha em alguém é assustador. Os caras não pensam um minuto sequer que botar a tocha nos outros é crime de lesa-traseiro e que o traseiro do próximo não é o da Mãe Joana.
A Tocha Nacional anda tão na onda que outro dia pensei que os colocadores de tocha no nosso traseiro poderiam fazer alguma coisa mais útil que apenas ficar brigando uns com os outros o tempo todo, como se não tivessem mais nada no mundo pra fazer alem de pensar em colocar a tocha no dos outros.
Por exemplo, se eu fosse um colacador de tocha, mudaria o nome de alguns estados, afinal no país da tocha nada mais natural do que prestarmos homenagem à Tocha Nacional. Poderíamos ter as Tochas Grande do Sul e do Norte. A Tocha Grossa e a Tocha Grossa do Sul. O Rio Amazonas viraria Rio Amantochas Grandes. Rio de Já Levei a Tocha continuaria capital fluminense e Aracatocha do Sergipe. Ponta Grossa seria promovida a Tocha Grossa. Outro nome sugestivo seria Senta Clementina. A Petrotocha seria reinaugurada. Rio das Ostras ficaria bem como Rio das Outras Tochas. O Pão de Açúcar rebatizado de Morro da Tocha Doce e o Maracanã, maior Arena do Mundo, onde o Brasil levou tocha, passaria a se chamar: Maracantocha.
Muitos leitores mais conservadores, que não concordam comigo ou que pensam que ainda não levaram muita Tocha é porque ainda não pensaram no que vai acontecer depois que a Tocha Olímpica for embora. Com ela vão os gringos e seus dólares, vai a impressa internacional e toda a alegria. Aqui ficará tão somente a Tocha Nossa de Cada Dia. Será que a Seleção vai levar tocha ou vai por a tocha?
Outro dia acordei assustado por um pesadelo exatamente, porque sonhei com a grossura da tocha que vamos levar depois que tudo isso acabar. O que será feito daquilo tudo que foi construído? Será que os senhores colocadores de tocha já pensaram em como tomar conta daquilo tudo numa cidade pacífica como o Rio de Já Levei a Tocha, onde até tocha perdida tem?
Obviamente as respostas estão na ponta da língua: - "Esta é a herança que será incorporada à vida da cidade". O leitor já pensou no que foi feito das heranças dos jogos Pan-Americanos e da Copa da Tocha?
Pois é, se não pensou vai levar a Tocha Nacional assim mesmo, porque ela penetra em quem pensa e em quem não pensa.
ANTONIO KLEBER DOS SANTOS CECILIO.
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