O ELEFANTE, A MATEMÁTICA E O
ESTADO GIGANTE.
Certo biólogo, um daqueles que
dedicou toda a vida na épica missão de conscientizar sobre a necessidade vital
de proteger o frágil equilíbrio dos ecossistemas naturais, depois de muita
luta, conseguiu do governo autorização para manter sob sua guarda, tratamento e
reabilitação à vida selvagem, animais doentes vitimados por caçadores e
traficantes. Então, transformou sua propriedade rural, um espólio de família,
em mini zoológico. Animais vinham de todos os lados. Quase diariamente chegavam
aves exóticas, pequenos macacos, repteis e felinos. Sua vida se transformou num
sacerdócio de luta e dedicação diuturna a tantos e preciosos pacientes. Não
havia maior alegria que a de assistir à soltura de um trio de araras tagarelas
ou à partida desconfiada de um felino rumo ao seu lar natural.
O custo era alto; remédios,
alimentos balanceados, pessoal especializado, combustível, mão de obra de
apoio, custos fixos. Grande parte dos recursos eram garantidos por duas
organizações não governamentais (ONGS) estrangeiras. O resto, oriundo de
repasses de origem oficial e doações de amigos, nem sempre constantes e
suficientes para garantir o grau de excelência exigida nas inúmeras
ocorrências, era o que salvava a contabilidade do vermelho. A fim de melhorar
pouco mais o orçamento, outra saída encontrada foi abrir o espaço para
visitação popular e uso em pesquisas acadêmicas nas áreas concernentes à
biologia e à sustentabilidade natural; de modo que com essas fontes, nem sempre
certas e bastantes, iam-se administrando a vida, os sonhos e a sorte de tantos
e tão importantes elementos da vida natural.
Até que num belo dia, um circo, que
aportara numa cidade vizinha, sofreu grande incêndio que sacrificara a vida de
todo o plantel artístico, menos a de Jumbo, o elefante. Tratava-se de espécime
indiano importado e amestrado para exibições no picadeiro. O gigante, dócil
como um cãozinho, faltava falar; abraçava o amestrador com a tromba, jogava
futebol, assentava num banquinho e até cruzava as pernas; abaixava-se
respeitosamente para aplausos e até sabia quantas melancias sobrariam se
tirassem cinco da dúzia que devorava a cada dia.
Não havia quem encontrasse defeito
no paquiderme artista, a não ser a fome insaciável que brotava nas suas
entranhas a cada novo dia. Seu dono e amo, diante dos revezes do sinistro
pictórico, não mais podendo arcar com tamanha despesa, não teve alternativa,
senão a de deixá-lo temporariamente hospedado no zoológico vizinho.
Dr. Laerte, o biólogo apaixonado, ao
vê-lo com aquele olhar de despedida em cima de um caminhão estacionado a sua
porta, não titubeou em aceitar o novo hospede, sem, ao menos, medir as
conseqüências, que não tardariam. Jumbo custava toda a verba da semana num dia
e não tardou para que o herói dos bichos se lembrasse que matemática e paixão
não combinam. O orçamento apertado não contou com novos reforços e a solução
foi diminuir o quinhão dos pacientes menores e aumentar o preço dos ingressos
da visitação.
No principio tudo se foi tenteando!
Pela novidade todos pagavam com boa vontade, menos o governo que não quis tomar
conhecimento da nova realidade e as ONGS que queriam o mamute para outro
destino, sem falar no resto dos animais, que, com menos alimentação e assistência,
passaram a apresentar novas ziquiziras provenientes das deficiências alimentar e
medicinal[1] . E ainda para
confirmar o velho ditado de que "azar dá em cachos" o publico pagante
começou a ralear assim que a maioria conheceu Jumbo e suas graças perderam a
graça.
Até que por fim, traumatizado e
muito triste, Laerte se viu obrigado a ceder às exigências do equilíbrio contábil,
baixar a cabeça e desfazer-se do gigante mambembe. Então, convocou seu velho
dono, que sumira. Diante disso enviou- o para o Canadá, sob a proteção e
cuidados do zoológico de Toronto.
A história verídica relatada acima
escolhi para exemplificar o que acontece, quando o Estado se mete a empresário
e a dono dos destinos dos cidadãos. À medida que se envolve nos vários setores
produtivos, se agiganta e se transforma num elefante sem graça, burro, caro e
autoritário! Diferentemente do zoológico que não tinha mais como ser justo com
os demais, o Estado Elefante busca recursos no bolso da sociedade aumentando
infinitamente a carga tributaria, para equilibrar suas contas à custa do
desequilíbrio na vida dos mais pobres e mais fracos.
Conclui-se portanto, que quanto
menor for o Estado e quanto menos interferir na maquina produtiva, maior será o
crescimento da justiça social tendo como efeito colateral positivo o aumento da
eficiência. Ao Estado não cabe a missão de competidor e jogador no mercado, mas
tão somente a de normatizador do mercado, no sentido de salvaguardar espaço
democrático para atuação do maior número de concorrentes. Somente assim haverá
maior pulverização de recursos e oportunidades na base da pirâmide social e a
pobreza será gradativamente extinta com sustentabilidade ou seja, sem a atuação
do Estado Elefante ineficiente como padrasto dos pobres e comprador de votos de
cabresto.
Todas as nações ricas [2] contaram
com a atuação útil do Estado no inicio do processo de industrialização, na
construção de gigantescas e caras infra-estruturas, tais como: usinas
hidrelétricas, siderúrgicas, portos, ferrovias, rodovias; quando o setor
privado não existia ou ainda não apresentava potencial suficiente para arcar
com pesados investimentos. Mas, à medida
que se fortaleceu e ganhou condição de investir de igual para igual com o
Estado, coube a este se afastar, mantendo-se apenas como juiz do jogo; somente
empenhado em investir em educação de qualidade, saúde de alto nível e na
garantia de um regime democrático que não roube do cidadão sua preciosa
liberdade de viver com qualidade por sua conta e risco, sem depender de esmolas
oficiais.
Governos tendentes ao totalitarismo
defendem o Estado Elefante, dono de inúmeras empresas estatais. Diante dessa
política errônea encaixa-se a pergunta: quem são os grandes beneficiados com a
ineficiência das Estatais Elefantes mantidas com os impostos populares,
enquanto a sociedade, principalmente os mais pobres, sofrem com a baixa
qualidade da infra-estrutura?
Gigantescas e sensacionais campanhas
eleitoreiras oportunamente criam e incentivam espécie inútil de patriotismo de
palanque, a fim de incendiar os ânimos nacionalistas do povo com frases de
efeito, tais como: "O petróleo é nosso!" "A XPetróleo é do
povo!". "Abaixo a privatização!"
Verdade que qualquer recurso
natural, inclusive o petróleo, é propriedade da sociedade, quando se encontra
em território a ela pertencente; no entanto a empresa que o explora pode ser de
qualquer um, menos do Estado; alias melhor que assim seja. Nossos devem ser os
recursos arrecadados com altos impostos pagos por aquela que compra o direito
de explorá-lo. Nossos devem ser os empregos por ela gerados. Nossos devem ser
os investimentos em infra-estrutura de saúde, segurança, educação e transporte,
que o governo terá condições de fazer melhor com os recursos que sobrarão ao
deixar de ser dono de Elefantes sem graça, caros e ineficientes.
Quando o povo brasileiro puder
entender que privatizar não significa traição à pátria, nem inferno astral, uma
vez que privatizadas as estatais deixarão de ser cabides de empregos, tocas do
nepotismo para os poderosos ou fontes de pagamentos de favores políticos, o
Estado deixara de ser Elefante Caro e a sociedade será mais justa, porque terá
menos pobres dependentes de esmolas eleitoreiras.
ANTONIO KLEBER
DOS SANTOS CECÍLIO.
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