Outro dia um amigo
saudosista, numa das suas crises existenciais, lembrou velhos tempos em que
jovens estudantes brasileiros eram obrigados a saber declamar e cantar o Hino
Nacional, conhecer nomes dos autores da sua música e letra. Também a Bandeira
Auriverde e seu Lábaro Estrelado, Lindo Pendão da Esperança, cantada em prosa e
verso na cadência do seu charmoso Hino era garbosamente homenageada em todas as
ocasiões em que se a hasteavam. Grande era o orgulho em portá-la e o felizardo
era escolhido entre os mais bem sucedidos da escola; aqueles que apresentassem
melhor boletim e comportamento disputavam ansiosamente o direito e até luvas de
seda branca eram requeridas para tocá-la sem correr o risco de macular sua
brandura e grandeza. Havia uma face oculta, quase imperceptível, mas de grande
importância no processo de formação. Desde cedo os jovens eram induzidos à
observação e valorização de fatores que os incentivassem a querer se aprimorar,
a fim de merecer exercer missões honrosas. O fato de exercê-las, ser admirado e
até invejado era combustível de alta performance inserido na alma do indivíduo,
com o objetivo de transformá-lo num ser participativo e consciente da sua
importância como cidadão e do respeito que devia nutrir pela sociedade da qual
faz parte.
Todavia, infelizmente, com o
passar do tempo e com a também quase imperceptível introdução da revolução
cultural marxista em andamento há algumas décadas na América Latina, o Brasil
se transformou numa praça onde tudo esta em discussão; sem compromisso de
melhorar, mas, na maioria das vezes, para, dissimuladamente, incutir na mentalidade
popular uma espécie de senso contestatório puro e simples sem a apresentação de
alternativas que substituam positivamente aquilo que vem apresentando bons resultados
há muito tempo. Segundo a nova visão revolucionária não é admissível a escolha
do melhor da escola, pois tal procedimento pode incorporar conotação
discriminatória, deixando de oferecer aos piores a chance de também se destacar
e, talvez, se recuperar. Então, à medida que se experimenta a frustrante
sensação da prevalência de valores invertidos, cria-se a perigosa convicção de
que não vale a pena se esforçar para ser o melhor, incentivando-se o surgimento
da figura hedionda do malandro esperto; agulha que passa em qualquer buraco sem
se arranhar. Ainda, segundo o antigo ponto de vista, a escola devia funcionar
como centro de formação mantendo combate incansável aos maus costumes e às condutas
incompatíveis com padrões éticos e morais; tornando-se a principal responsável
pelo reforço e irradiação de valores positivos. Os cânones escolares deviam
estar imunes a qualquer valor ou evolução social que fugisse à regra condizente
com o convívio de cidadãos civilizados vivendo e interagindo uns com outros respeitosamente
e em paz. É preciso ter cuidado para não se confundir evolução social
tecnológica e política com revolução cultural marxista carregada de sentimentos
contestatórios doentios, fanatismo, ódio, recalques e muita malandragem; também
vazios de alternativas positivas que venham reforçar valores humanísticos morais
e éticos.
Nesse novo contesto a escola
moderna perdeu a velha sobriedade indispensável a alguém que tenha a missão de
formar o patrimônio sócio cultural da nacionalidade descartando vícios e
reforçando virtudes, passando então a incorporar a nova doutrina social que
requer uma escola, cuja face seja um retrato da comunidade onde esta
localizada. Chamou-se a essa nova escola de “Escola Democrática”, porque não
discrimina ninguém, não impõe valores considerados alienígenas à comunidade
onde funciona e valoriza o aluno como ele é no seu meio; sem tentar moldá-lo
conforme antigos padrões éticos e morais imperialistas úteis aos ricos e
privilegiados. A figura venerável do professor perdeu importância dentro da
sala de aula como “ícone do conhecimento” cedendo lugar ao aluno, que doravante
passara a ser protagonista principal do processo educacional. O professor, de
respeitável mestre, foi rebaixado a mero orientador cabendo a ele a missão de
lançar temas a serem discutidos valendo-se da sensibilidade e da criatividade;
de preferência auxiliado por aplicativos tecnológicos, capazes de incitar a
curiosidade do aluno, desenvolvendo nele a vontade e o prazer de aprender.
Considerando-se o estado lastimável em que se encontram as escolas públicas
brasileiras, que, muitas vezes nem banheiro oferecem aos alunos, somado ao
salário miserável dos professores, seria o mesmo que querer que um morto
aprendesse a cantar sem música, nem pauta, nem instrumento, nem orquestra.
Talvez,
o novo modelo de escola até funcionasse, caso não entrasse em campo o populismo
marxista demagógico, cuja estratégia é
passar a falsa impressão de que o cidadão formado nessa escola fraca, sucateada
e sem personalidade, realmente teve seus direitos respeitados, quando, na
verdade, o esforço educacional que o levaria a se libertar da ignorância não
funciona e o manterá para o resto da vida como ignorante útil, capaz de
acreditar no teatro de fantasias políticas oportunistas, sem nunca ter
condições de discordar e questionar. Contudo, apenas terá desenvolvido em seu
espírito grande revolta que o capacitará a fazer parte de um contingente de
fanáticos violentos dispostos a quebrar tudo que represente a sociedade que o
discriminou e descartou. Não é difícil perceber que a grande jogada da
revolução doutrinária cultural é reforçar o apartheid social já existente há
séculos, mas cujo remédio reside exatamente dentro da escola de alta qualidade;
porque homens bem formados numa boa escola e cultos deixam de ser pobres e cartas
manipuláveis num jogo sujo de perpétuo controle e dominação. Os governantes
jogam tão bem esse jogo que o processo de encantamento da revolução cultural
marxista põe em campo a figura do bom demônio, que acena com caminhos floridos e
muita permissividade, até o momento em que a sociedade se entregar; a partir de
então, ele mostra suas garras e verdadeira intenção: impõe a velha teoria do
“manda quem pode e obedece quem tem juízo” e não é do grupo que controla. Essa
é a verdade histórica fascista e comunista.
Grande
prova dessa triste realidade esta acontecendo hoje nas grandes cidades,
personificada nos chamados “rolezinhos”, quando uma multidão de jovens
ignorantes, muitos evadidos da escola pública democrática, desempregados, sem
esperança no futuro, animados pela falsa idéia de que o Estado lhes manterá
para sempre e os políticos marxistas os defenderão das maldades do imperialismo
capitalista; se dá ao direito de promover quebradeiras, desordens, assaltos e
manifestações ruidosas em locais privados, que pagam altos impostos e geram
milhares de empregos diretos e indiretos, ainda colocando em risco a segurança
e a paz de inocentes que não têm culpa da bagunça nacional.
Ademais
a “escola democrática” ruim acabou com a velha, útil e eficiente herança
profissional; daquela época em que velhos profissionais autônomos como
pedreiros, carpinteiros, bombeiros, eletricistas, mecânicos, motoristas, padeiros
e outros ensinavam aos jovens, que, por qualquer motivo não pudessem ingressar
em boas escolas, conhecimentos profissionais, que jamais os levaria a conquistar
grandes riquezas e poder, mas os preparavam para uma vida digna, longe do submundo do crime e do controle de
políticos malandros que sempre os consideraram máquinas de votar.
Empresas,
que sempre ofereceram vagas para adolescentes em meio expediente, estão
impedidas pela lei democrática de fazê-lo com a nobre justificativa de que “lugar
de jovem é na escola”. Verdade indiscutível, desde que essa escola funcionasse
e realmente os preparasse para exercer sua cidadania com altivez e
independência. Entretanto, o que se observa é uma horda de milhões de jovens
egressos das escolas públicas democráticas ruins alcançando a idade adulta, sem
preparo profissional e opção de trabalho, descartados pelo mercado.
Invariavelmente são cooptados pelo mundo do crime ou se escravizam nas drogas,
sempre convictos de que o verdadeiro culpado de todo o seu azar é o dragão
capitalista imperialista personificado em quem trabalha duro, paga altos
impostos e, de maneira honesta, obteve algum sucesso na vida.
Contudo,
seria injusto esquecer que escola e professores, nem sempre podem ser
classificados como vilões da história, pois há em curso um famigerado sistema,
ao qual todos estão subordinados, cujos acadêmicos governamentais denominam
“progressão continuada”; situação em que se espera do aluno imaturo e
inconseqüente alta consciência e responsabilidade diante dos seus deveres
escolares, o colocando em condições de aprovação sem o crivo de provas que
atestem conhecimentos e confiram autoridade, legitimidade e respeitabilidade ao
professor. – Eis aí um arranjo sórdido que desprestigia o professor e premia a
malandragem – Mais uma vez, observa-se que o interesse político pessoal e
partidário ultrapassa o compromisso sério, com o único e torpe objetivo de apresentar
estatísticas falsas para órgãos internacionais, que maquiem a baixa qualidade
do ensino e lancem cortina de fumaça para camuflar crimes de lesa educação
cometidos por governantes que não têm compromissos com políticas de estado de
longo prazo, mas exercem seus mandatos impulsionados apenas por intenções
eleitoreiras efêmeras ou político doutrinárias marxistas que adoram homens/mulheres
mansos e cegos de olhos abertos, para dominar mais facilmente.
É
oportuno observar que a maioria dos nossos governantes não estudou nessas
escolas públicas democráticas ruins, porque puderam pagar altas somas em
escolas particulares tradicionais no Brasil e até no exterior, em países
desenvolvidos altamente criticados por eles próprios. Qualquer pesquisa
superficial comprovará que muitos deles mantêm filhos estudando em escolas
estrangeiras, cuja formação liberal é predominante e estes, quando se formam,
retornam as suas origens, no terceiro mundo marxista, munidos de conhecimento
político e da frieza profissional necessários aos mandatários que só pensam em
levar vantagem a custa dos ignorantes, mal formados e informados.
Mas
o Brasil é assim mesmo; um país às avessas: leis são sancionadas sem
preocupação com impactos negativos, muitas das vezes apenas visando reles
interesses políticos eleitoreiros. Constroem-se pontes sobre rios inexistentes,
túneis inúteis, estradas que vão a lugar algum, hospitais para abandonar,
escolas para não educar. Mantêm-se as forças armadas desarmadas. Justiça
injusta com os pobres aprofundando-se o apartheid social. Incentivam-se o
consumo de automóveis antes de investir em infra-estrutura para comportá-los.
Terra dos ventos que não investe em eólicas. Terra das centenas de rios que não
investe em hidrovias. Terra sem fim que não investe em ferrovias. Terra onde a
seca e o sofrimento do nordestino são cabos eleitorais. Terra onde as
intempéries previstas destroem, o povo paga e os administradores públicos não
reconstroem. Terra em que os pobres pagam tantos impostos quanto os ricos e não
reclamam. Terra mãe hostil, que escraviza, empobrece, massacra, abandona,
mente, engana, humilha, explora quem trabalha e recompensa com esmolas a
ignorância e o ócio... Terra em que o aeroporto é a única saída para quem pensa
em ter paz e quer viver sendo respeitado.
ANTÔNIO
KLEBER DOS SANTOS CECILIO.
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