O PRESIDENTE É O GERENTE!
Passada a eleição, enfim sabemos quem será nosso novo
presidente. Pesquisas de opinião, dúvidas, índices de preferência, telejornais,
debates, repercussão, analises, indecisos, indiferentes, mal informados,
conformados, inconformados, voto branco, voto nulo... Esse rio caudaloso de
águas turvas convergiu para o dia mais importante da vida do eleitor. O dia em
que a democracia parou a grande máquina Brasil, a fim de ouvir o som da voz do cidadão.
Apenas um “sim” ou um “não” que repercutirá por quatro anos ou, quem sabe, para
o resto da vida de cada um incluindo famílias, negócios, empregos, sonhos,
planos para o futuro...
Afinal, agora é hora de voltar à realidade; compromissos
e responsabilidades esperam!
Políticos são todos iguais, sei
que nada vai mudar! Cabe agora ao eleito a missão de cumprir promessas governando
para o bem geral, com bastante honestidade e imaginação fértil, a fim de nos
fazer felizes, erradicar a pobreza, que tanto incomoda e humilha, empacotar a violência
e mandá-la para o inferno, reformar a infra-estrutura que não funciona, reduzir
a maior carga tributária do mundo e investir em educação a fim de transformar o
Brasil num país eficiente, justo, sem analfabetos, ignorantes, desempregados e
pobres.
Assim vem funcionando o pensamento da sociedade
brasileira há décadas e o resultado é funesto. Os políticos não cumprem o que
prometem, defendem interesses próprios e ninguém faz nada. “Por desaforo, na
próxima eleição votarei em branco” ou, segundo outros: - “anularei meu voto.”
Segundo pesquisa de afamado instituto, essa frase foi a mais pronunciada na última
semana antes da eleição. Se cumprida a intenção, cada um julgue por si.
Aqui nesse ponto, darei uma pausa na assertiva, para
observar algo interessante: veja que a frase título: O GERENTE É O PRESIDENTE
terá o mesmo sentido mesmo se mudarmos as personagens de lugar: O PRESIDENTE É
O GERENTE. Agora, com o leitor já sintonizado, contarei uma história verídica
que aconteceu com conhecido meu e que com certeza vem acontecendo há décadas na
vida brasileira.
José Baltazar, homem humilde e honestíssimo, criado
em casa de chão com relho atrás da porta para coça de repreensão, foi
acostumado desde cedo a trabalhar duro para ajudar na labuta diária. Seu pai botou
banca no mercado há anos e com aquilo criou seus outros seis irmãos mais
velhos. Ele, o caçula, agora pagava o pato da mocidade, porque estando há dez
anos atrás do penúltimo e tendo todos os irmãos partido em busca de dias
melhores, não havia outra alternativa senão ajudar os pais já velhos e
desgastados. Da madrugada ao por do sol era uma luta só, anos a fio, que fez
dele um rapagão forte, destemido para qualquer luta e com muita disposição. Aos
vinte e seis anos, órfão de pai e mãe, firmou casamento com boa moça
inteligente, esperta para negociar e agora em dupla iam os dois cedo para o
mercado. Alberta voltava mais cedo para o almoço e as arrumações da casa. Ele
ficava lá até tarde nos acertos bancários, recebimentos de mercadorias e
limpeza.
Alberta, não demorou muito pegou gravidez e o médico,
depois de analisar um resultado de exame, naquela sua voz grossa, olhou para
ela por baixo das lentes dos óculos fundo de garrafa e noticiou: - são gêmeos. Alegre
e triste com a notícia que tinha duas conseqüências, porque sabia que a pior
delas era que Baltazar breve não mais poderia contar com ela, que ficaria
grande e pesada demais para encarar aquela trabalheira; o encolhe estica da
banca, sem considerar que depois do parto duas crianças aprontariam dois
trabalhos sem fim.
O resto foi rezar e esperar o tempo passar, até que
veio a ventania. Duas crianças espertas, com saúde como pediram a Deus, mas
tudo aconteceu como previsto. Era dia e noite nos cuidados maternos e Baltazar
sozinho no vai e vem diário. Agüentaram isso por cinco anos, até que um dia,
quando Alberta não agüentava mais, matricularam os dois sirigaitas numa creche
na parte da tarde, o que dava chance para um descanso e pequena ajuda nas idas
aos pagamentos. Baltazar era um homem feliz. Família completa, os negócios indo
bem, agora comprara banca maior que dava o mesmo trabalho e muito mais lucro.
Ergueu casa boa para a família, adquiriu carro zero quilômetro e ultimamente
até vinha podendo se dar ao luxo de férias na praia com família e amigos. O que
lhe custava consciência pesada, pois o trabalho não o largava depois de tantos
anos ajustado aos horários e às preocupações.
Para encurtar a história, Zé Baltazar era invejado; o
viam como rico e em comparação com aquele povo, que não saia do lugar, era
mesmo. Pudera comprar dois caminhões. Primeiro um depois outro, assim que a idéia
de transportar para terceiros foi bem, multiplicando algumas vezes o lucro. Dirigia
um caminhão; para o segundo, contratou motorista e a banca passou a ficar sob
os cuidados de Marieta, mocinha indicada por um amigo, que viera de cidade
vizinha com diploma de administradora debaixo do braço.
Com o tempo Marieta foi mostrando serviço, era
pontual, dinâmica, agradava bem o povo e pouco tempo passou; talvez uns dois anos
e já montava confiança para conhecer segredos do negócio, manhas dos fornecedores,
capital de giro acumulado, faturamento mensal e até anual. Tornou-se o terceiro
braço de Baltazar; mesmo porque agora a trabalheira era muita e sem ela dois
braços era pouco.
Baltazar, com a eficiência da secretária, agora era
homem de assentar a cabeça para pensar em pulos maiores. Contraiu financiamento
a juros módicos no BDMG; com o recurso comprou lote grande em bairro bom,
construiu barracão com estacionamento na frente, área atrás para descarga e
nada demorou até que a cidade inteira virou sua freguesa. Agora Marieta
chefiava um escritório com mais de dez subordinados, a coisa ia de vento em
popa e o negócio melhorou tanto que Baltazar ganhou respeito político e novas
amizades importantes. A mulher não via aquilo com bons olhos, mas confiava no
marido e pensava em falar, mas nunca falou. Ela agora não trabalhava mais; se
dava ao luxo de cuidar da vida escolar dos dois rapazotes e, às tardes, enchia
o tempo com aula de culinária, academia de ginástica e, quando dava na telha,
ia até a igreja dar uma ajudinha nas arrumações santíssimas.
Certa manhã o marido amanheceu com dor por todo o
corpo e aquilo agravou pelo resto do dia e quando Zé Baltazar acordou estava no
hospital internado. Médico nenhum entendia de que se tratava e como tratar até
que o paciente foi transferido para BH com uma doença no esqueleto que
demandava tratamento longo e repouso absoluto. Baltazar, que nunca parou na
vida, ficou tranqüilo porque o negócio ia bem, podia pagar bom tratamento e
hospital e sabia que Marieta estava lá firme não deixando a peteca cair. A
esposa, que nem sabia mais mexer com a burocracia do dia a dia, nem pensou;
apenas socorria o marido nas suas impaciências de paciente e o mais que ia era
à frente do hospital dar uma conferida no movimento e libertar as vistas presas
naquelas quatro paredes infinitas. Os filhos ficaram com uma tia solteirona e
esperavam bem.
As coisas foram assim nessa lenga lenga, até que
depois de seis meses o diagnóstico deu negativo, as dores se foram e o casal
voou feliz para a terra natal, para os negócios e para os filhos. Mas o maior
susto estava por vir. Dois dias depois da festança de chegada, o hospital ligou
que o cheque do pagamento final havia voltado e requeria depósito urgente.
Baltazar envergonhado, mas confiante que apenas um erro acontecera, foi saber
de Marieta e encontrou uma mulher diferente, nervosa, desatenciosa, cabeçuda,
nariz em pé, olhos baixos... Não entendendo nada, atordoado e percebendo que o
ovo atravessado da secretária não era atoa, quis saber das contas e descobriu
que confiou demais em quem merecia, mas não merece mais. Havia rombo nas
contas, tudo atrasado, fornecedores afastados, clientes perdidos e faturamento
baixo. Gritou, esbravejou, chamou a polícia, fez boletim de ocorrência. A polícia apertou Marieta que confessou algo
terrível: arranjara namorado, um mexicano encantador, mas estelionatário
profissional e internacional. O casal intencionava se casar e para a vida futura
no México, que devia ser boa, dependia do dinheiro de Baltazar que estava longe
e despreocupado. O tal malandro se evadiu pelo Paraguai e sumiu, mas antes
havia depositado numa conta numerada alguns milhões do capital de giro da
empresa chefiada pela namorada brasileira.
O final da história meu caro leitor pode imaginar,
uma vez que essas roubalheiras sempre terminam mais ou menos do mesmo jeito.
Entretanto, o mais importante é que Zé Baltazar e Alberta aprenderam a lição: Pinto
solto gavião esta de olho!
Portanto, cabe agora ao leitor eleitor não dar uma de
Berta e Baltazar e só voltar daqui a quatro anos para saber se o gerente
presidente plantou mais ou menos felicidade. Se informar, fiscalizar, protestar
e cobrar do administrador público eleito por você sempre deve fazer parte do
exercício da cidadania consciente!
ANTÔNIO KLEBER DOS SANTOS
CECÍLIO.