HOJE
ACORDEI COM SAUDADES DELE
Hoje acordei em baixo astral! Olhei
para o relógio como sempre, mas nada do ânimo costumeiro. Virei para o lado e
tentei dormir pouco mais. Mas o pensamento e as responsabilidades atiraram
cobranças e tive que pular da cama. Algo estava errado comigo! Tentei entender
o que se passava. Em vão! Começou o dia,
os afazeres e aquele sentimento cabisbaixo continuava. Era impossível entender!
Enfim, depois de muita análise, num
átimo de inspiração conclui que aquele era um sentimento ao qual se podia
classificar como espécie de preguiça cívica. Isso mesmo: preguiça cívica pura e
verdadeira por ter que voltar à vida normal. Assentar de novo diante de todos
os canais, bons, ruins e medianos, denunciando os despautérios da cachorrada
nacional. Aliás, cachorros são animais distintos e amigos fieis. Talvez abutres
ou, melhor ainda, vermes nacionais. Voltar à rotina é duro demais! Antes da
novela é show de roubalheira e golpismo; durante: traição e assassinato;
depois: rede de intrigas partidárias, cura gay, aumento de impostos, inflação,
corrupção, nepotismo, tráfico de influencia e seu congênere das drogas, cracolândia,
crise internacional, crise nacional, corrupção policial, judiciário inoperante,
desperdício, ineficiência, desvio, extravio, alta tributária, tragédias
naturais, engarrafamento, prevaricação, escolas ineficientes, acidentes
monumentais, mortes, invasões, arrastões...
Meu Deus! Tanta confusão num só
lugar não é possível! Certamente isso é injustiça! Poderíamos tentar exportar
alguma coisa de ruim lá prá fora. Talvez a troca de tsunamis japoneses ou dos
furacões americanos pela nossa malta de bandidos de gravata e até uma quebra
sem gravata mesmo fosse vantajosa.
Certo pensador, quando incitado a
fazer uma avaliação do ser humano disse: “Os homens/mulheres são animais tão
vis, tão vis que deles não se aproveita, nem a urina, nem as fezes, nem a palavra. Diante de
um boi ou de um cão, são como o grão de areia e o diamante. Quando salva-se
alguma coisa do que pensam e falam é preciso ainda muita cautela antes de
descobrir a qual demônio possivelmente estejam associados”.
Mas deixando de lado as vaticinações
pessimistas e voltando ao centro do relato, depois de longo pensar, concluí que
meu malfadado desânimo matinal teve origem no empanturramento de prazer e agora
de saudade do Papa Francisco, o anjo da luz, aquele que veio em nome da paz e
do Cristo Imortal a todos surpreender. De repente tudo virou festa! Beijos,
abraços, confraternização geral, música, teatro, apresentações. Não houve frio
ou chuva que arrefecesse o ânimo geral! Saíram de cena os vermes imundos e sua
fome de carne podre, para dar lugar ao singular sorriso largo, inabalável
ânimo, fala mansa e pausada, achegado à aproximação com os mais fracos, simples
e indefesos. Alguém que veio falar o que há muito se precisava ouvir em notas
afinadas entre lógica, ética, respeito e equilíbrio.
Ouvidos e coração, antes como
latrinas, agora gozavam do novo odor, dourado som da boa nova, da esperança e
satisfação de descobrir que o mundo ainda não se perdeu e que os mesmo jovens manifestantes
desafiadores dos vermes dissimulados, insistentes e mortais; que sofrem com o
desemprego e misérias várias em todo o mundo também acreditam e planejam uma
sociedade melhor e mais justa sob a sombra do grande espírito de Deus. Todos os
presságios negativos com potencial para turvar o brilho da festa numa cidade
violenta, gigantesca, com problemas estruturais insolúveis caíram por terra.
Vimos uma afinada orquestra de suspiros em olhos fixos e apreensivos respirarem
aliviados ao perceber que tudo ia bem e nada caminhou brasileiramente para
o caos. Importante era interagir com a paz reinante e até as velhas carrancas
pachorrentas dos bispos sorriram de olhos marejados, espantadas diante da
sinceridade e da receptividade. Doravante terão que rever conceitos; o santo
padre quer a substituição da ambição pela doação e da soberba pela
simplicidade.
Felizmente, agora, depois da ressaca
cívica, sinto um conforto especial. Doce esperança de que vermes continuem
sendo apenas vermes, apenas ocupem seu reles lugar e nunca suplantem homens/mulheres
vivenciados e imbuídos pela corrente positiva do é dando que se recebe
inspirados num Cristo que ainda vive e cuja semente de salvação provou-se; esta
latente e forte no seio da humanidade. Faço ainda votos que a suavidade da
visita papal gere mais um fruto nas mentes dos dirigentes da Igreja Católica, a
fim de que parem de confundi-la com um manto cobertor de falcatruas e
improbidades capazes de turvar o belo e incansável trabalho de tantos milhares,
que assim como Francisco Bergoglio, trabalham em nome da verdade e da paz.
p/ANTÔNIO KLEBER DOS
SANTOS CECÍLIO.