Panteão do futebol nas terras
brasileiras pentacampeãs do mundo, o Maracanã depois de quase setenta anos de
bons serviços prestados e de ter consumido na última reforma uma montanha de milhares
de reais, esta prestes a passar ao domínio da iniciativa privada. Com apoio
popular ou sem, isso não vem ao caso, dentro em breve tudo estará consumado e o
Estado não mais será o responsável pela manutenção do gigante. Caberá a ele
receber a bolada inicial, aplicar um regulamento e depois embolsar
periodicamente o aluguel do inquilino que lá se estabelecer.
O que o torcedor ganhará com isso é
muito óbvio. Pelo menos teoricamente maior conforto, segurança e prazer de
estar num lugar mais bonito. Quanto aos preços dos ingressos, certamente ficarão
mais caros, pois empresas privadas funcionam mediante expectativa de vantagem;
assim em cada bilhete estarão embutidos gastos com aquisição da concessão
somados ao custo de manutenção mais a margem de lucro.
O resto da história todos maiores de
doze anos conhecem. Não haverá prestação de contas de nada. Para onde irá a
dinheirama, nem Deus saberá. Aliás, certeza de que Deus não vai querer saber se
tem absoluta, senão não fechariam contrato. Bom negócio em âmbito estatal no Brasil
é sempre aquele que fica acima do conhecimento e do entendimento dos mortais e
de Deus.
A justificativa corrente nesses
casos de privatização é a de que o Estado é mau gestor e seria maior vantagem
dar de mão beijada um patrimônio que custou dezenas de milhões ao povo do que
mantê-lo sob poder do bando de ratos que infestam as dispensas estatais. Um
Maracanã novinho em folha estaria destruído em poucos anos, pois os larápios
roedores não pregariam um prego sequer para mantê-lo de pé. Então, outras
reformas bilionárias logo seriam
necessárias, sempre à custa do erário
público.
Intrigante é que, quando o presidente
Fernando Henrique no intuito de sanear as finanças públicas e arejar a
economia brasileira se viu na obrigação de estatizar alguns antros que só davam
prejuízo e proporcionavam boa vida a poucos felizardos as oposições logo se
arrepiaram baseadas na justificativa de que empresas públicas são espólio de
gerações passadas, que as ergueram à custa de muito trabalho e sacrifício. A
justificativa é nobre e legítima, mas nobreza e legitimidade nunca pagaram
conta alguma e os déficits só aumentavam. Agora
que estão no comando se esqueceram de tudo que defendiam e seguem a mesma
cartilha privatizante, a fim de se livrarem dos elefantes brancos que só dão
prejuízo ao povo, engordam ratos de estimação e esvaziam o caixa do governo.
O processo de estruturação e industrialização
de qualquer país, quando no início requer interferência governamental na
construção da infra-estrutura básica que engloba hidrelétricas, rodovias,
portos, aeroportos, grandes usinas, etc. Nesse estágio primário a iniciativa
privada ainda é incipiente e não dispõe de recursos suficientes. Mas num
segundo estágio, quando algumas dezenas
de empresas já reúnem condições técnicas e financeiras para assumir a direção e
a iniciativa de novos empreendimentos, o Estado deve se retirar e se manter
apenas nas funções de normatizar e supervisionar.
Nos países centrais é costume a
iniciativa privada construir desde estádios até usinas e rodovias. O empreendedorismo
é incentivado e livre. Qualquer empresa esta automaticamente licenciada para
construir sua própria rodovia ou seu aeroporto. Basta que tenha recursos e
adquira os espaços necessários pelas vias normais. Obviamente o investidor
colocará sua estrutura à disposição do usuário mediante cobrança de aluguel e
pagamento de impostos ao Estado. Esse é o segredo do sucesso das grandes
economias. As empresas privadas trabalham enxutas, não pagam altas cargas
tributárias e o Estado não se sobrecarrega com responsabilidades empresarias e
desvios comportamentais. Esta livre para retribuir os impostos que recebe em
serviços públicos de alta qualidade e pagamento de bons salários.
Infelizmente, logo depois das
revoluções e das ditaduras militares, a América Latina parece viver uma espécie
de ressaca alérgica pela direita. Ser da direita virou quase crime e muitos até
podem entender como escolha politicamente incorreta. Noventa por cento do meio
político na América Latina contemporânea é da esquerda radical ou moderada. No
entanto a esquerda não se moderniza; teima em carregar na pele e na genética
uma espécie de aversão à iniciativa privada. Vendem a falsa idéia de que o
empresário investidor que luta por um ideal pessoal e em troca gera riqueza com
eficiência é um cão faminto que morde sem latir. Enquanto que, na verdade, quem
tem os dentes mais afiados é o próprio Estado que se veste de mãe e empresário,
administra mal, presta péssimos serviços à população, cria uma malta de ladrões
sedentos pelas suas generosas tetas e dissimula sua incompetência às avessas
com auxílios e bolsas para os pobres, enquanto todos sabemos que pobreza se
combate com educação e demanda por mão de obra. Se o Estado não protege as
empresas e não incentiva a iniciativa privada, esta mentindo quando anuncia a
criação de milhares de empregos. Na esteira dessa péssima conduta, se ainda foi
possível criar milhares de empregos, da outra forma menos interferente teria
gerado milhões.
Por isso querido povo compatriota,
duvide dos candidatos que prometerem milagres acenando com auxílios disso e
daquilo. Sei que é difícil ver o sorvete pronto sendo oferecido e não
aceitá-lo. O grande problema é que essa oferenda fácil você mesmo é quem vai
pagar, com serviços públicos da pior espécie. Enquanto o governante paga seu
sorvete, compra menos um mamógrafo para o posto de saúde, oferece baixos
salários aos professores que estão educando seu filho, monta menos um
laboratório escolar ou asfalta menos uma rodovia.
Este é o caminho para manter o
círculo vicioso secular que vivemos de ignorância, pobreza, promessas,
inflação, juros altos, alta carga tributária, carestia, baixos salários,
aposentadorias miseráveis, corrupção...
ANTONIO
KLEBER DOS SANTOS CECILIO
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