Algumas passagens marcam por demais nossas vidas e figuraram de maneira profunda na lembrança, uma vez que novos fatos insistem em acontecer com tal semelhança, que, além de surpreender, insistentemente nos remetem ao passado de maneira a reviver cenas hilariantes e engraçadas.
Certa vez, ainda na juventude, estávamos eu e alguns amigos adolescentes, todos ostentando longos cabelos, algumas penugens no rosto que orgulhosamente chamávamos barba, metidos naquelas monumentais calças Lee boca de sino e assim, em perfeito alinhamento com a moda ditada pelos Beatles e outros importantes ícones do sagrado rock and roll, ouvíamos músicas altas reproduzidas numa radiola portátil Phillips – esse era o nome do equipamento de ultima geração – que bem instalada numa soleira repassava os belos rocks lendários, enquanto dançávamos e cantávamos irreverentemente, ao passo que outros volteavam de bicicleta fazendo piruetas sobre a calçada num vai e vem frenético embalado nos arroubos calóricos da juventude. Quando, de repente, lá vinha o velho Chico Gato; figura esmaecida e cambaleante em alguns copos de cachaça. Na meia escuridão da rua pôde-se prever a eminente confusão. O dito cujo caminhava exatamente em nossa direção e já sabíamos que nenhum de nós estava disposto a lhe dar passagem. Muito menos o eternamente embriagado, tenaz implicante, pretendia desviar-se do catastrófico encontro. Chico Gato, então, agarrado nas suas ultimas forças, firmou o passo caótico e veio direto num decidido encontrão contra a parede compacta a sua frente. Levou logo um empurrão que o fez voar que nem pluma lá pelo meio da rua. Logo que se restabeleceu do vôo rasante, depois de ter batido a poeira da roupa surrada, voltou à carga, agora num falatório frenético e gritado, composto de algumas dezenas de frases desencontradas, recheadas de palavrões acompanhados de um discurso característico dos bêbados tresnoitados. Dizia ele:
- “seus interceptos, maconheiros, cabeludos, barbudos, bigodudos, corruptos, ladrões; vocês pensam que são donos da rua? Vocês não sabem com quem estão falando! Amanhã vou colocá-los todos na cadeia”.
E assim terminou a noite do bêbado Chico Gato e dos cabeludos baderneiros, que ficou gravada na memória com certo orgulho e grande arrependimento.
Mais adiante, passados tantos anos que não posso me lembrar, meu velho pai, que mantinha estreitas relações com um Regimento de Infantaria do Exército, chegou em casa solidário com a cólera do comandante profundamente indignado com a insubordinação de um praça. Se não me engano, sua patente era a de cabo. O simplório e insolente alfaia, logo depois de algum tempo de férias, meteu-se em seus aparatos militares e se apresentou para o serviço sob um vasto e negro bigodão, bravamente bem instalado numa cara sem vergonha que devia estar lisa como bundinha de neném, para o comandante passar o algodão de baixo para cima. O tenente oficial do dia, logo lhe meteu uma parte que foi parar direto sobre a mesa do coronel. Chamado a se explicar o bigodudo não titubeou em informar que preferia a morte à subtração daquela maravilha. E só não morreu, porque a cadeia foi mais dura que a morte e antes que ela viesse resolveu passar o rodo na sujeira sem tamanho.
Passados tantos anos e diante dos fatos absurdos que assolam nosso governo abarrotado de larápios e pistoleiros de gravata em punho, essas estórias do passado me vêm à mente numa correlação perfeita. Se nosso Chico Gato fosse vivo, certamente seu discurso ganharia repercussão nacional. Afinal, quantos interceptos contumazes obstruem nosso caminho ao desenvolvimento e sujam os livros da nossa combalida história com sua ladroagem nacional? Outro dia um intercepto senador nordestino do PMPQP, um cara de pau, sem bigodão irreverente, porém demais desafiador, garantiu a um outro intercepto que seu partido, o velho de guerra PMPQP, esteve e estará ao seu lado em qualquer situação. Confesso que fiquei deveras emocionado com tamanha solidariedade entre interceptos de colarinho branco. Aliás, essa velha solidariedade é historicamente comum entre interceptos; por isso naquela memorável noite o velho Chico Gato voou como nossa paciência tem voado de raiva ao ver os insultos dos nossos suínos governamentais diariamente emporcalhando as edições dos noticiários nacionais.
Afora tudo isso; agora, depois da saída do velho ministro da defesa, o Sr. Jobim; que nos defendeu de tudo, menos da ANAC e dos seus aviões e aeroportos sem relógio, outra incrível coincidência me vem fazer lembrar o cabo bigodudo. Aliás, cabo bigodudo pode ser também cabo de vassoura. O ex-ministro diplome mata Celso Amorin, comuna-democrata petista puxa saco de ditadores como Fidel, Chaves e Ahmadinejad; travestido com aquela barbicha e aquele bigodinho feiosos vai fazer os generais lhe prestarem continência. Se fosse eu, não prestava de jeito nenhum; preferia me mudar para Caracas e ficar lá tomando banho o dia inteiro para ver se acabava com todas aquelas favelas horrorosas que sujam a paisagem e o currículo do chaveiro comunista pestalose presidente Chaves. Por outro lado digo um sonoro “BEM FEITO” aos generais, porque se esqueceram daquela velha máxima do futebol: “Quem não faz, leva”. Curvem-se para o barbicha, afinal quem manda é o PT mesmo! A Dilma? Essa pensa que manda, mas mandava muito mais no tempo do Lulinha Marolinha Maravilha. Agora?!...Mandam os barbudos bigodudos e interceptos.