O REI E OS RATOS
O conto “O Rei e os ratos” trata de bizarros acontecimentos que se sucederam em certo reino longínquo, o qual se assemelha em gênero, número e grau ao que vem acontecendo no Brasil e que culminou ontem dia 7 de Abril com a prisão do mais popular presidente da nossa história.
Diz a lenda que num belo dia o Rei fora abordado pelo seu ajudante de ordens, que viera comunicá-lo fato da maior gravidade. O palácio estava inundado de ratos. Por todos os lados, inclusive à luz do dia, não era incomum vê-los transitando pelos salões provocando asco na criadagem e sustos nos convidados e convidadas, que muitas vezes tinham-nos escondidos até debaixo das longas e polpudas saias.
- Meu Senhor, venho trazer ao conhecimento de Vossa Majestade desagradáveis fatos que vêm acontecendo no vosso Palácio. Ontem a condessa de Valvares quase se despiu no salão nobre, na presença de dezenas de convidados da Rainha, para se livrar de um intrometido camundongo que se metera dentro da sua calçola. Esses animais estão por todos os lados deixando todos de cabelos em pé.
O Rei coçou o bigode, pensou um pouco e ordenou ao homem que comprasse algumas dezenas de gatos, que assim, certamente o mal estaria desfeito. Os bichanos vieram, se espalharam pelo palácio como previu o rei, mas a infestação de roedores não teve fim. Então o ajudante de ordens voltou ao Rei e comunicou o fato:
- Vossa Majestade se lembra do problema da infestação de ratos?
- Sim me lembro. Espero que o problema tenha sido resolvido; disse o Rei.
- Pois é meu senhor tenho a impressão que o problema até se agravou.
- Mas não pode ser! Espantou-se o Rei.
E ordenou:
- Vá chamar o sábio do reino. Quero ouvir a opinião dele.
O sábio viera já sabendo da história e logo na primeira interpelação do monarca exclamou:
- A culpa da proliferação é dos seus gatos que trabalham mal.
- Mas como trabalham mal? Perguntou o rei.
- Todo gato é igual; come ratos.
Então o sábio bradou com ar professoral:
- Os vossos gatos trabalham mal, porque comem demais e assim não precisam caçar.
O rei, que era por demais impaciente, pensou e logo disparou:
- Vá chamar meu ajudante de ordens e diga-lhe que trate dos gatos uma vez por semana apenas.
O sábio concordou e com uma reverência despediu-se e saiu.
Contudo, certa manhã, até o rei levou um susto. Ao calçar as longas botinas, dois roedores pularam atordoados, se esgueiraram apressadamente pelos cantos e desapareceram.
Diante de tamanho susto, o rei urrou bravamente:
- Demóstenes apresente-se!
- Demóstenes, mais depressa que um raio, adentrou o quarto e deparou-se com o rei vermelho de raiva a lhe perguntar:
- Onde estão os gatos do palácio que te mandei comprar?
Estão por aí Majestade, dormindo pelos cantos, sobre os tapetes e telhados, também nas janelas estirados ao sol e jamais vi um deles almoçando ou jantando um camundongo sequer.
O Rei então, mais uma vez, vociferou:
- Vá chamar o sábio novamente.
O sábio, como todos estranhou o fato, mas cautelosamente, depois de pensar um instante, pediu ao rei que lhe concedesse um dia no palácio, a fim de que observasse o que andava acontecendo.
Não é que naquela mesma noite, a qual passara perambulando pelos longos corredores e largos salões, descobrira o que andava acontecendo. As portas da dispensa dormiam abertas e os rechonchudos gatos entravam se fartavam do bom e do melhor e nem se importavam com os ratos que transitavam à vontade sob seus bigodes.
Feliz da vida, logo ao amanhecer, foi se haver com o Soberano, para lhe comunicar a grande descoberta. A ordem foi imediata:
- Demóstenes mande fechar as portas das despensas à noite, tape todos os buracos e continue a tratar dos gatos como já ordenado; um dia por semana.
O sábio feliz por ter prestado um bom serviço ao reino, despediu-se
e foi-se.Demóstenes cumpriu a nova ordem e logo a desagradável infestação diminuiu.
Essa pequena história criei para servir de lição aos brasileiros contra e a favor, que ontem assistiram vergonhosamente seu maior político, eleito para tomar conta dos ratos ir para a prisão.
Ninguém pode esquecer que o encarceramento de Lula é apenas um primeiro passo rumo à moralização do Brasil. Daqui pra frente caberá ao povo fiscalizar ainda mais, cobrar ainda mais e votar com mais afinco. Os adeptos do voto em branco e nulo devem se lembrar que com ou sem seu voto os ratos e gatos bem alimentados vão continuar nos explorando, se escondendo dentro das nossas botinas e saias e dormindo sobre nosso sofrimento.
O nosso país não é um reino. Somos uma República democrática a qual tem 205 milhões de cidadãos reais. Temos gatos de toga, gatos no Congresso, gatos fardados, gatos de toda cor e bigodes, com a missão de defender o Brasil, a democracia e seu povo. Contudo, se nós, os reis desse império verde e amarelo abandonarmos o palácio ou deixarmos as portas das despensas abertas, associações espúrias entre nobres gatos e espertos ratos vão continuar nos explorando, nos atrasando e atentando contra nossa liberdade e democracia. Continuaremos vivendo de sonhos e esmolas e nosso Brasil continuará eternamente sendo o país do futuro que nunca chegará.
ANTÔNIO KLEBER DOS SANTOS CECÍLIO.