Estou
certo de que nesses tempos de cultura alternativa pobre, a grande maioria dos
jovens, quando ouve a expressão “Guerra Fria” fica a se perguntar o que teria
sido essa tal temperatura qualificativa, que denominou uma disputa e uma época,
certamente das mais conturbadas já vividas pela sociedade humana.
Considerando-se que a ignorância
é uma forma de santidade, aproveitarei para conspurcar a imaculada pureza dos
santos ignorantes esclarecendo que essa tal expressão nasceu nos tempos em que
a União Soviética Comunista pretendia estender seus tentáculos sanguinolentos
pelos quatro cantos do mundo e ficava lá do seu quintal apontando mísseis
nucleares para todo canto onde tremulasse uma bandeira americana ou aliada.
Como resposta, americanos e aliados
faziam a mesma coisa e a cada dia multiplicavam-se aparatos bélicos com
potência destrutiva suficiente para fragmentar o planeta juntamente com suas
consciências estúpidas em milhões de pedaços e lançá-los na órbita solar para
sempre.
O mundo estremecia a cada ameaça
de ambos os lados, porque se esquecia do velho e sábio ditado “Quem tem telhado
de vidro tem medo”. Por isso, na verdade a batalha nunca passou de escaramuças
de ordem psicológica e guerra armada só mesmo aconteceu em setores longínquos
alinhados ou dominados à força e nunca colocaram em risco a segurança das
grandes potencias e suas populações.
Mas, por incrível que pareça, a
“Guerra Fria” foi um embrião concebido por um erro estratégico de Hitler, o
carniceiro fascista; ainda nas operações da Segunda Grande Guerra Mundial.
Naturalmente era de se esperar que dois loucos se entendessem, mas felizmente
não se entenderam. O outro louco era Stalin, o carniceiro comunista. Se os dois
se aliassem teriam colocado o mundo de joelhos aos seus pés. Felizmente os
fundamentos do fascismo são diferentes do comunismo! O primeiro defendia e
ainda defende o aprimoramento racial pelo extermínio dos mais fracos, enquanto
que o segundo defendia e ainda defende um Estado igualitário, onde não houvesse
iniciativas privadas, ou seja, o Estado é senhor máximo e inquestionável da
vida e do destino dos cidadãos e todos devem ser iguais na pobreza e na
ignorância.
O super ego dos super loucos se
repeliram e então Stalin matreiramente resolveu se aliar aos países ocidentais.
Lutou contra a Alemanha Nazista e fez bem sua parte. Venceu os fascistas, os
escravizou, estripou, estuprou, esfacelou, estrangulou tão bem que gostou da
brincadeira e resolveu se apossar da metade da Europa, lançando sob sua Cortina
de Ferro vários países onde fez o favor de arrancar os nazistas e lá ficou até
a falência do comunismo devido à burrice, à corrupção e à estagnação de um
Estado Comunista que não tinha como manter sua população amedrontada e sem
iniciativa, apenas acostumada com a pobreza e a mesmice a esperar que o Estado
a sustentasse.
Os Estados Unidos e aliados se
retiraram dos países onde expulsaram os nazistas e os americanos e europeus se
lançaram na reconstrução dos escombros na Europa. Stalin foi convidado a
participar, mas não viu vantagens, pois o comunismo precisa de populações devastadas
e fracas para se impor; dessa maneira tem menos chance de sofrer oposição. E
assim os países ocidentais, mesmo com muitas dificuldades oriundas da guerra,
lentamente se reergueram, enquanto a cortina de ferro, inclusive a União
Soviética Comunista, encolhia progressivamente suas economias aprofundando a
pobreza, mas nunca deixando de investir bilhões em tecnologia bélica e aparatos
de guerra nuclear.
Enquanto a Guerra Fria por um
lado estremecia a todos, por outro esquentava as consciências jovens e essa
ebulição originou vários movimentos contestatórios contra valores tradicionais
solidamente estabelecidos. O movimento hippie despontou e desenvolveu-se
primeiro nos EUA. Foi quando a juventude rica e escolarizada protestava contra
as injustiças impetradas pela sociedade capitalista americana. Usavam cabelos
longos, sandálias, roupas coloridas, viviam em comunas de jovens promíscuos. Os
movimentos contra guerra e capitalismo, associados às drogas deu origem ao
pensamento da década dos 60: “sexo livre, drogas e rock’n’roll”. A história do
rock começa com o grito libertário do negro, que foi trazido para a América
como escravo sendo capaz de influenciar a sociedade americana com sua natural
musicalidade. Na seqüência esse movimento se espalhou pelo mundo e ganhou nome
de “Contra Cultura”, que de modo geral resumia-se em: valorização da natureza,
respeito às minorias, uso de drogas, sexo livre, anticonsumismo, discordância
com os princípios capitalistas e sua economia de mercado.
Guerra atômica entre as super
potências nunca se consumaria, por motivos lógicos, mas os movimentos sociais contestatórios
perduraram através das décadas dos sessenta, setenta, oitenta, noventa com
fortes reflexos até o presente. Na ultima década surgiram ramificações com largas
tendências anarquistas, especialmente no Brasil, cujas pautas de protestos nem
eles sabem definir. Aparentemente os adeptos afinam suas justificativas
protestantes na base do “contra tudo e contra todos” que apresentem qualquer
sinal de ordem, progresso e sucesso na vida. Esquecem-se que a verdadeira elite
é menos de 1% da sociedade e que muitos dos políticos eleitos pelo povo se
entendem muito bem com ela. Esquecem-se também que proporcionalmente pagam em
impostos para os políticos tanto ou mais do que a elite que criticam e odeiam.
A grande e profunda ebulição
social embutida na “Guerra Fria” parece ter surgido como uma espécie de efeito
colateral da recuperação econômica das potencias ocidentais. Por um lado
regimes democráticos toleravam protestos e a repressão entrava em campo somente
quando os ânimos se acirravam acima do tolerável. Por outro, a alta demanda por
produtos e serviços no esforço da reconstrução do pós-guerra, originou um
mercado forte e em franca expansão deixando fora da festa vários seguimentos
sociais com potencial para engrossar o cordão de revoltados.
No quintal soviético a coisa
funcionou bem diferente. Stalin e seus sucessores nunca toleraram protestos e
mantiveram os países e suas populações sobre o domínio Soviético Comunista fora
dos acontecimentos, desinformados e empobrecidos. Quem se atrevesse a discordar
era imediatamente considerado inimigo e condenado ao internamento nos Gulags
Siberianos em trabalhos forçados. Contudo soube muito bem se aproveitar para
incitar as legiões de revoltados ocidentais e seus seguidores, agora engrossada
pela intelectualidade, dentre eles cantores, músicos, jornalistas, escritores,
artistas de toda seara, acadêmicos e até religiosos a levantarem a bandeira
vermelha comunista como única e boa saída para a solução da apartheid social em
vigor no ocidente democrático. Ser defensor do comunismo ganhou status e até
ares de romantismo, arrojo e aventura. Jovens mais impetuosos foram
clandestinamente recrutados para compor grupos de mercenários em países
alinhados ao comunismo, a fim de receber treinamento de guerra urbana, serem
financiados e depois retornar aos seus países preparados para enfrentar forças
oficiais de repressão de igual para igual, munidos de armamento pesado e muita
coragem e determinação.
Nesse colchão nasceram as contra-revoluções
militares na América Latina, inclusive a brasileira em 1964; ambas supervisionadas
e apoiadas, de um lado pelos Estados Unidos e do outro pela União Soviética. Assim
o continente Latino Americano escreveu uma das mais negras páginas da sua
história com exageros e desrespeitos à condição humana dos dois lados. Uma
guerra fratricida em defesa da liberdade; esse era o mote. Neste ponto deixarei
para que o leitor tire suas conclusões e, enquanto isso tecerei as
considerações finais.
Enfim, e como era esperado, a
União Soviética faliu e a derrubada do Muro de Berlim foi o fato marcante do
acontecimento. Então os povos da Cortina de Ferro voltaram a respirar ares de
liberdade, fora do alcance da sombra que os sufocou por várias décadas.
Todavia, ainda hoje verifica-se
que os ideais comunistas continuam vivos naquelas mesmas cabeças remanescentes
do tempo da Guerra Fria e parece que nova onda doutrinária vem envolvendo
mentes jovens por todos os quadrantes da América Latina. Pelo jeito a Guerra
Fria terá continuidade; pelo menos até agora desarmada; o futuro nos dirá até
quando.
Algumas questões devem ficar no
ar para servir de norte ao leitor. O comunismo defendido como a única saída
revelou-se um engodo, uma vez que nunca surtiu resultado positivo em lugar
nenhum, nunca resolveu problema de alguém – a não ser das elites – e nunca
respeitou direitos humanos. O capitalismo em sua versão cruel segrega milhões
de pessoas as deixando na miséria, mas as nações capitalistas, quando o
empregam conscientemente vêm colhendo resultados médios positivos. Ademais sua
essência é o mercado que só sobrevive em estado de liberdade para criar,
investir, gerar riquezas, construir infra estrutura que gera mais riquezas,
educação, bem estar e felicidade. Se essa ordem não é respeitada não se pode
imputar culpa ao sistema capitalista, nem à democracia, mas aos políticos que
não cumprem bem o compromisso assumido com o eleitor.
Por fim, a última questão: Por
que todo comunista gosta tanto do capital e o persegue a todo custo, sem medida
de conseqüência, mesmo apelando para o saque? Um anacronismo filosófico doutrinário
difícil de entender e eles fogem para não dar explicações. O tema sexo, droga e
rock’n’roll rendeu e ainda rende gordos dividendos a muitos artistas da
esquerda, que logo se transformaram em investidores no mercado capitalista e
multiplicaram suas fortunas. A intelectualidade comunista em geral se deu e
continua se dando muito bem ocupando rentáveis posições no Mercado de Trabalho
Capitalista; no Executivo, no Judiciário, no Legislativo, na Indústria, nas Universidades
e até nas Igrejas; o que poderia facilmente lhes render o odioso rótulo de
imperialistas. E finalmente, os governantes comunistas, sem exceção, vivem bem
acima da média dos povos que subjugam. Pode-se concluir, portanto, que quase a
totalidade dos protestantes dos tempos da Guerra Fria se safaram bem nas asas
do capitalismo, exceto os negros, que ainda continuam discriminados e mais
pobres em termos relativos nas três Américas.
Em vista dessas contradições que
ninguém se atreve a responder, conclui-se que a humanidade, mesmo depois de
tanto sofrimento, ainda não encontrou o caminho da concórdia, porque o
homem/mulher carregam consigo o vírus da falsidade e da mentira. Todos sabem,
até os recém nascidos, que a única fórmula do sucesso é educação, trabalho e democracia.
Ainda não se inventaram outras. Os cidadãos precisam de regras e limites, mas
não podem ser tolhidos do seu mais caro tesouro: “A liberdade”. O ser humano
dominado vive infeliz e torna-se improdutivo.
É passada a hora dos defensores
de regimes comunistas autoritários entenderem que a pobreza não é um subproduto
do capitalismo, mas da deslealdade e da desonestidade dos governantes, não
importa sua orientação política. É preciso parar de repetir a velha historinha
da cigarra cantora que não fazia nada, mas queria viver à custa da formiga
trabalhadora, que tinha casa, celeiro e agasalho contra o inverno. Não dá mais
para continuar investindo na boa fé dos pobres, lubrificando a indústria do
voto de cabresto com esmolas baratas, num país que é a sétima arrecadação do
mundo e vem apresentando um dos maiores índices de corrupção que se tem notícia
na história da administração pública com desvios de bilhões de dólares anuais para
contas numeradas mundo afora...
Quando todos deixarem em segundo
plano suas doutrinas passionais de mentira focadas apenas em interesses
pessoais e partirem para o trabalho duro e honesto, respeitando Constituições, Leis
e os direitos básicos do ser humano, não mais haverá segregados no mundo e a
justiça social brilhará como jóia rara.
ANTÔNIO KLEBER DOS SANTOS
CECILIO